quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Deixem o PSDB em paz na oposição - Por Alon Feuerwerker - fonte: http://blogdoalon.blogspot.com/

Deixem o PSDB em paz na oposição (13/12)

Foi pedagógico assistir ao desfecho da sessão do Senado que nesta madrugada derrubou a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Quanto mais o governo se aproximava das exigências do PSDB para apoiar a prorrogação da CPMF, mais os tucanos radicalizavam contra o governo. Comportavam-se como se o Planalto, ao aceitar as condições impostas por eles, estivesse na verdade tentando roubar-lhes uma vitória política (leiam o post anterior). O PSDB obteve sim uma vitória parlamentar. E ficou bem, junto ao pessoal que acha que os impostos no Brasil são um problema, que o melhor seria deixar o dinheiro no bolso do cidadão para ele próprio decidir o que fazer com os recursos. Em compensação, o PSDB rompeu alguns vasos comunicantes que tinha com o pedaço da sociedade que pensa diferente. Que é a maioria. E que vê nos impostos e taxas arrecadados pelo estado um mecanismo para redistribuir renda, para fazer políticas sociais e de investimento em serviços públicos. Claro que esse caminho do PSDB tem volta. Os tucanos podem dar uma guinada em 2010 lançando um candidato (Aécio Neves ou José Serra) que se comprometa a desfazer o que o partido fez nesta madrugada. Que escreva a versão tucana da "Carta aos Brasileiros". Ou seja, que prometa remontar o mecanismo institucional a duras penas construído pela sociedade brasileira para ajudar a financiar a saúde pública. Mecanismo agora destruído pelo PSDB. É bizarro que a luta interna no PSDB tenha chegado a esse ponto. Para tentar criar dificuldades a Luiz Inácio Lula da Silva (assim, talvez, o governo anterior se saia menos pior na comparação com o atual) e para derrotar os próprios governadores e presidenciáveis tucanos, os senadores do PSDB desconstruíram uma obra institucional coletiva de décadas, que começou com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) na Assembléia Constituinte. E que prosseguiu com a inscrição, na Carta Magna, de uma fonte blindada de recursos para sustentar o sistema. Claro que, colhido o triunfo, os senadores do PSDB poderão dizer agora que estão prontos para a negociação. É mais ou menos como um exército que bombardeia uma vila até os alicerces para dar uma lição à população civil e depois se oferece para reerguê-la, sob o seu diktat. A prudência recomenda que essa oferta do PSDB, se vier, seja rejeitada pelo governo. Vocês sabem que eu estou longe de ser um radical nas coisas da política do dia a dia. Nunca se deve perder de vista o realismo e a análise fria dos fatos. O que dizem os fatos? Que toda vez que o governo se dispõe a negociar com o PSDB o partido (ou pelo menos quem de fato o comanda, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) reage como se o governo estivesse tentanto impedi-lo de fazer oposição. Deixem o PSDB em paz na oposição. Não lhe peçam o que ele não pode dar. Lembro de como o PT fazia oposição ao governo FHC. Era igualzinho. Toda vez que surgia a conversa de o PT ajudar o governo em algo que doutrinariamente era do interesse do PT o partido reagia radicalizando. Como se estivessem tentanto emasculá-lo de seu projeto de poder. Deixem o PSDB em paz, repito, com o seu projeto de poder. Tratem-no como oposição. Não o empurrem para situações que beiram à completa irracionalidade. Como quando nesta madrugada os líderes tucanos atacaram a Desvinculação de Receitas da União (DRU) por supostamente ser um dinheiro que o governo dá para os banqueiros. Bem ela, a DRU, que o PSDB criou para ajudar a estabilizar a economia brasileira e garantir a remuneração não dos banqueiros, mas das pessoas comuns que emprestam dinheiro ao governo por meio dos bancos. Por favor. Em respeito ao PSDB, não o obriguem a repetir novamente coisas como essa nos microfones do parlamento. O PSDB, pelos serviços prestados ao Brasil, não merece isso.
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