quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Guerra permanente: Só falta um quepe no salão Oval da Casa Branca - Por Luiz Carlos Azenha





Quando coloquei os pés nos Estados Unidos como correspondente da TV Manchete, em 1985, o país já estava em guerra. Guerra contra as drogas, lançada pelo governo Reagan para justificar os investimentos militares e, mais tarde, o Plano Colômbia, através do qual a Colômbia foi militarizada e tornou-se consumidora de equipamento militar americano financiado com dinheiro público americano.

Mais de vinte anos se passaram. O tráfico está aí, tão ou mais forte que antes. O governo do Panamá foi derrubado, sob a alegação de que o ex-agente da CIA, Manuel Noriega, era aliado dos traficantes. Desde 1985 os americanos se envolveram em quatro grandes guerras: uma para ajudar Saddam Hussein a derrubar o regime teocrático do Irã, outra para expulsar o ex-aliado do Kuwait, uma terceira para livrar o mundo do terrorismo no Afeganistão e a mais recente para ocupar o Iraque e livrar o país de armas de destruição em massa que não estavam lá.

O cálculo aproximado é de que os Estados Unidos já tenham gasto mais de U$ 2 trilhões de dólares no Afeganistão e no Iraque. E a situação política e militar em ambos é bastante precária. No Afeganistão o cultivo da papoula para produzir heroína está em alta. Osama bin Laden não foi capturado. O necrológio do governo Bush será longo e doloroso, tanto para o mundo quanto para a democracia americana.

Quem é que não perdeu dinheiro nessa brincadeira? O complexo industrial-militar. Dizem que essa frase é coisa de esquerdista. Mentira. Ao deixar o poder Dwight Eisenhower fez um famoso discurso em que deu um alerta aos americanos: se o poder dos fabricantes de armas não fosse colocado em xeque pelos cidadãos, o complexo industrial-militar - a frase foi dita literalmente por ele - destruiria a democracia americana.

Ninguém parece ter forças para enfrentar a máquina da guerra permanente. As empresas fabricantes de armas distribuíram suas filiais por todos os estados americanos e têm presença na maioria dos distritos eleitorais. O congressista pode até ser contra a ocupação do Iraque, mas se falarem em cortar o orçamento do Pentágono e isso tiver impacto na taxa de emprego local o deputado ou senador chia.

Temos agora a guerra contra a imigração ilegal. Guerra, mesmo. Diante de um quadro social bastante complicado no México, como tive a oportunidade de testemunhar numa recente visita ao país - naquela, em que me bateram a carteira no metrô da Cidade do México - o governo mexicano parece ter adotado a postura de "militarizar" o enfrentamento dos problemas sociais. Não é feito diretamente, claro. É feito em nome de combater a escalada do crime e a imigração ilegal. O Plano México, bancado com dinheiro público americano, prevê que os mexicanos comecem a combater os imigrantes já na fronteira com a Guatemala.

Além da Venezuela, onde o "partido do exército" tem muito poder, há um governo fortemente militarizado na Colômbia e outro a caminho, no México. O mais espantoso é que um dos candidatos à Casa Branca, o republicano Mike Huckabee, disparou nas pesquisas e adotou um discurso em que dá pistas de que reduziria o controle dos civis sobre as ações militares americanas. Ou seja, está disposto a abdicar de vez da fiscalização que se exerce sobre o Pentágono por agências de caráter civil, que é cada vez mais mambembe. O próximo passo será botar um quepe na mesa do ocupante do salão Oval.

Por Luiz Carlos Azenha - fonte: http://viomundo.globo.com


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