O ambiente pela metade
Por Luciano Martins Costa
Os jornais e revistas do fim de semana prolongado confirmam o primeiro efeito da entrada da senadora Marina Silva na disputa presidencial do ano que vem: de repente, todos os outros candidatos, ou supostos candidatos, se transformam em defensores do meio ambiente e subitamente se declaram verdes desde criancinhas. No entanto, a participação da ex-ministra não conseguiu ainda fazer a imprensa sair da limitada cobertura sobre o tema.
O tema ambientalismo e as idéias sobre desenvolvimento sustentável aparecem apenas pontualmente no noticiário, mas não ganham abordagem estratégica em nenhum dos principais meios de comunicação do país.
Num encontro realizado semana passada em São Paulo, jornalistas que se dedicam a produzir publicações de papel e na internet sobre sustentabilidade deixaram claro o pouco interesse da chamada grande imprensa nos debates mais especializados que envolvem o modelo de desenvolvimento, o futuro da Amazônia, a matriz energética do país e outros temas correlatos.
Quando muito, jornais, revistas e emissoras de televisão aberta inserem a questão ambiental no noticiário sobre economia e políticas públicas, como acontece com relação ao acordo militar entre o Brasil e a França, no qual o governo brasileiro apresenta a necessidade de patrulhar a Amazônia como um dos argumentos para reforçar e modernizar a frota da FAB.
Debate avivado
Notícias sobre a limitação de áreas para plantio de cana, proteção do cerrado e "congelamento" de trechos da Serra da Cantareira, que também freqüentam os jornais no período, resultam mais evidentemente do esforço de candidatos para se mostrarem preocupados com o meio ambiente do que do interesse da imprensa em manter o tema presente na agenda pública.
Ainda não há estudos consistentes, pelo menos publicados recentemente, sobre o peso da questão ambiental e de outros temas correlacionados nas escolhas que o eleitor irá fazer no ano que vem. Mas os marqueteiros dos candidatos sabem, e a imprensa vem reafirmando, que a participação da senadora Marina Silva deverá colocar em debate questões como a ética na política e o modelo de desenvolvimento econômico adotado pelo Brasil.
Por enquanto, a imprensa entra no tema da ética empurrada pelos escândalos, e muito seletivamente: as denúncias ganham destaque conforme o viés político do acusado. Quanto ao assunto sustentabilidade, jornais e revistas ainda parecem depender das assessorias de imprensa e das notas oficiais.
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A política da bola
A seleção brasileira de futebol conseguiu, no fim de semana, classificar-se para mais uma copa do mundo. O técnico da seleção, Carlos Caetano Bledom Verri, o Dunga, conseguiu a proeza da classificação com três rodadas de antecedência e calou seus críticos na mídia, mas vamos para a África do Sul com a mesma sensação de que falta alguma coisa.
A imprensa embarca no ufanismo e outra vez ficam para trás os problemas estruturais do futebol nacional. Na terça-feira (8/9), o Observatório da Imprensa na TV vai colocar em campo essa paixão brasileira, ouvindo especialistas e lembrando que nem tudo são gols a favor.
A vitória contra a Argentina e a classificação antecipada não escondem as falhas de arbitragem que alteram resultados de jogos e de campeonatos, a situação falimentar da maioria dos clubes profissionais, a falta de garantia para os atletas e o livre assédio de empresários a meninos talentosos, que muitas vezes são tirados dos estudos sem qualquer segurança de que virão a ter uma carreira como atletas.
Vamos discutir as vulnerabilidades do futebol brasileiro à ação de aventureiros internacionais, a questão das contratações, o quase monopólio do televisionamento que obriga à realização de jogos em horário inadequado.
A seleção vai bem, está classificada, mas o futebol profissional vai muito mal e a imprensa parece ter engavetado outra vez o senso crítico e volta a vestir a camiseta amarela.
O Observatório da Imprensa vai ao ar nesta terça-feira, às 22h40 na TV Brasil em rede nacional. Em São Paulo, pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA. E na íntegra, sexta-feira, pela internet, no site do Observatório da Imprensa.
Fonte: Observatório da Imprensa
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