quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Discordo do Azenha, que discorda do Aurélio: o jogo para 2010 já começou e Ciro Gomes está com a bola

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por Rodrigo Vianna


O Luiz Carlos Azenha publicou no excelente "VioMundo" texto deste "Escrevinhador", sobre a corrida presidencial no Brasil.

O Azenha publicou, também, texto de Marco Aurélio Mello, do blog doladodelá - http://maureliomello.blogspot.com/.

O jornalista Marco Aurélio (experiente editor de Política) discorda da minha análise. Acha que é muito cedo para prever qualquer coisa em relação a 2010: "As pessoas mal sabem o que é o pré-sal, sequer qual será sua ambição política para 2010. O ano que vem começa com carnaval (lembram-se), depois vem a Copa do Mundo e só então é que a grande maioria dos brasileiros vai se decidir por alguém."

O Azenha, por sua vez, discorda tanto do Marco Aurélio como deste "Escrevinhador". Ele acha que é cedo - de fato - para que a maioria do eleitorado se posicione, mas lembra que os movimentos a essa altura são importantes e se voltam para o "público interno" (partidos, empresários que vão financiar campanhas etc).

De minha parte, permito-me discordar em parte do Marco Aurelio, apesar de concordar parcialmente com o Azenha. Ou seria o contrário? Não sei mais...

O que sei dizer é o seguinte: de fato, a maior parte da população não está pensando em eleição. O que não quer dizer que o jogo já não tenha começado.

Lá na frente, quando a grande massa de eleitores entrar em campo, parte do jogo já terá sido jogado.

Serra ou Aécio no PSDB?

Dilma com PMDB ou Dilma com Ciro?

Lula terá um ou dois candidatos?

Tudo isso começa a ser definido agora.

A minha tese central é que esse arranjo (ou dessarranjo?) de forças hoje tem um personagem central: Ciro Gomes.

Ele, e não Marina, pode mudar toda a estratégia eleitoral do governo.

Lula e o PT estão preparados para uma eleição plebiscitária: Dilma é Lula; Serra é o anti-Lula.

Ciro aparece nas pesquisas com força suficiente para manter sua candidatura. Uma candidatura lulista, mas fora da estratégia oficial do governo.

Vários leitores (aqui, e no blog do Azenha) acham que a candidatura Ciro serve aos interesses de Serra.

Discordo frontalmente. E, nesse ponto, discordo também do Azenha.

Para Serra - com sua máquina de dossiês e o apoio do PIG - é mais fácil centrar fogo em Dilma. É mais fácil colar nela a pecha de "inexperiente", de "pau mandado de Lula" ou (para agradar a extrema-direita) de "terrorista".

Se Ciro sair candidato, Serra terá dois adversários para bater. Serão dois contra um. Se centrar todo fogo em Dilma, Ciro cresce. Se bater muito em Ciro, vem a Dilma com apoio do Lula.

Esse é o ponto que trago para debate. Apesar de faltar muito tempo para as eleições, essa escolha será feita nos próximos meses (muito antes da Copa do Mundo e do Carnaval).

Fora isso, lembro também o papel de Aécio. Dentro do PT , há quem tema mais a candidatura dele do que a de Serra. Faz sentido. Ele tem condições de se apresentar não como "anti-Lula", mas como o "pós-Lula".

Não quer dizer que eu concorde com essa história de "pós-Lula". Acho besteira isso, como já escrevi aqui.

Mas o fato é que muita gente no PT avalia que Aécio pode mesmo ser um candidato mais difícil de derrotar, apesar de hoje estar atrás nas pesquisas.

Entre os tucanos, muita gente também sabe disso. Mas como tirar da corrida o governador de São Paulo, com mais de 30% de intenções de voto?

Isso tudo está em jogo, desde agora.

Aécio está se guardando "pra quando o carnaval chegar". Serra (representante da neo-UDN) segue em sua estratégia de rachar a aliança PT-PMDB (que reproduz a velha aliança PSD-PTB).

Com a economia bombando, e a popularidade de Lula nas alturas (como lembra o Azenha), o PMDB dificilmente ficará contra a candidatura apoiada pelo lulismo. Seria suicídio. E o velho PSD (digo, PMDB) não é de cometer suicídio político.

Ciro já se lançou ao mar. Pode até não ser candidato. Mas, nesse caso, venderá mais caro para o lulismo o apoio do chamado bloquinho (PSB-PDT-PCdoB), o que pode atrapalhar (mas não inviabilizar) as negociações do PT com o PMDB.

Muito antes da final da Copa da África do Sul, tudo isso estará já acertado.

Fonte: Blog do Rodrigo Vianna - O Escrevinhador

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