Por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador
Conversei nesta segunda-feira, em São Paulo, com uma das principais lideranças do PT. Parlamentar experiente, acostumado a costuras de bastidor. Foi uma conversa em "off", não uma entrevista. Também participou o jornalista João Beltrão - meu colega na TV Record.
A sucessão presidencial passa por ele, um lulista que não é do PT
O político petista disse-nos com toda as letras: o PT prefere enfrentar Serra do que Aécio. "Se Serra desistir e Aécio for o candidato, a candidatura Dilma terá muita dificuldade", afirmou. Há duas explicações pra isso...
1) Aécio teria o perfil do "pós-Lula", seria mais difícil colar no governador de Minas a marca de "volta ao passado, volta a FHC"; o PT acha que será mais fácil disputar com Serra, que foi ministro de FHC; o PT pretende fazer campanha comparando os números dos dois governos. "E aí ganhamos a parada; num plebiscito Lula ou anti-Lula, nós ganhamos", disse o petista
2) Se Aécio for o candidato, Ciro teria dificuldades em disputar; Ciro é amigo pessoal de Aécio, e poderia até dar apoio informal a Aécio, "embaralhando o quadro".
O petista também disse, a mim e a João Beltrão, que a prioridade total do PT é conseguir o apoio do PMDB. "Abriremos mão de cabeça-de-chapa nos Estados, e de tudo que for preciso, para ter o PMDB na aliança nacional, precisamos do tempo de TV do PMDB, para expor Dilma no horário gratuito, e comparar o governo Lula ao governo de FHC", disse.
A conversa ocorreu antes de a pesquisa CNI/IBOPE ser divulgada. Faço uma ressalva: a pesquisa é confiável? Tenho algumas dúvidas, depois de tudo que Montenegro (presidente do IBOPE) andou falando por aí. Mas, digamos que os números estejam certos...
Aqui, o texto do Estadão sobre a pesquisa - (obs - é hilário que o jornal tente esconder a queda de Serra, só fala disso lá pelo meio do texto; imagina que o leitor sejá um otário).
Mas a pesquisa traz dados importantes. Vejamos...
1) Serra e Dilma caíram (aparentemente, Marina tirou voto dos dois, igualmente);
2) Ciro subiu (o que se explica, em parte, pela exposição do ex-governador cearense, que apareceu em inserções do PSB na TV nas últimas semanas).
3) Serra é o mais conhecido entre os eleitores (o que mostra, aparentemente, alguma fragilidade, já que apesar disso ele não consegue ultrapassar a barreira dos 35%); mas Serra é também o menos rejeitado (e aí, aparentemente, está um trunfo - o candidato mais conhecido é o menos rejeitado).
4) Quando Aécio substitui Serra como candidato tucano, Ciro lidera, folgado.
Diante de tudo isso, algumas conclusões deste "Escrevinhador"...
A) Apesar da queda de quatro pontos no cenário principal da pesquisa, os números ainda conspiram a favor de Serra como candidato tucano: ele está em primeiro, folgado, e tem a menor taxa de rejeição (apesar de ser "vitrine" no maior Estado brasileiro). Apesar disso, tanto na oposição, como entre os governistas, cresce a impressão de que Aécio (e não Serra) seria o candidato ideal para os tucanos.
B) Marina tira votos tanto de Serra como de Dilma. Mas, sem uma aliança forte (e tudo indica que não terá essa aliança), tende a cumprir trajetória semelhante a de Heloisa Helena em 2006.
C) Ciro, mais do que Marina, é quem embaralha o quadro pra valer. Ao contrário de Marina, ele não é um candidato dúbio (meio tucano-meio lulista). Não. Ciro assume que é lulista até o fim. Esse é um grande trunfo: um lulista que não é do PT.
D) Se o PT (como disse o petista ouvido por este "Escrevinhador") prioriza de forma "absoluta" a aliança com o PMDB, isso joga no colo de Ciro os seguintes partidos: PDT, PCdoB e, talvez, PTB. Não é um palanque fortíssimo, mas oferece base suficiente para que Ciro chegue ao segundo turno. E, aí, no caso de Dilma não chegar, Ciro teria o apoio de Lula e do PT.
Para concluir. O PT acha que Ciro Gomes toparia até ser o vice de Dilma, numa chapa (aí, sim) fortíssima em 2010. Só que o PMDB exige a vice para apoiar Dilma. Se o PT fechar com Ciro, fica sem o tempo do PMDB na TV.
Lula e o PT parecem já ter feito sua escolha: atrair o PMDB (a qualquer custo - o que me parece péssimo), e empurrar Ciro para a candidatura a governador de SP.
Só que Ciro mostrou grandeza. Bateu o pé. Empatou com Dilma na preferência do eleitor. E, cá entre nós, hoje parece muito mais afiado para um candidatura a presidente do que a ministra da Casa Civil. Quem viu Ciro no Canal Livre da Band (no último domingo) entende o que estou dizendo.
O que o PT fará se Ciro continuar crescendo, e aparecer claramente como o segundo nas pesquisas?
O nó da sucessão - hoje - está aí. E não na candidatura Marina.
Fonte: O Escrevinhador
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