por Rodrigo Vianna
Escrever é cortar palavras, dizia o poeta (alguns atribuem a frase a Drummond, outros a João Cabral de Mello Neto).
Mas escrever é também - e sobretudo - escolher palavras.
O escritor e jornalista Georges Bourdoukan mostra - em seu ótimo blog - como esse processo se dá no jornalismo. Especialmente, no jornalismo internacional.
Muitos jornalistas, tenho certeza, nem chegam a escolher. Usam as palavras já "convencionadas". Alguém escolheu por eles: chefes, agências internacionais, departamentos de comunicação de exércitos poderosos.
Quando o Hamas (grupo político e milícia armada palestina) ataca com um foguete uma área civil no Estado de Israel promove - segundo boa parte da mídia - um "ataque terrorista".
Ok, concordo em chamar esse tipo de ataque de "ato terrorista", desde que a mída também chamasse de "ataque terrorista" os bombardeios israelenses contra áreas civis palestinas. Mas, aí, a mídia prefere chamar de "bombardeio" mesmo.
Hum... São escolhas. O jornalista tem o poder de questionar essas escolhas? Em alguns veículos de imprensa, não. Os chefes é que definem - por exemplo - quem deve receber o rótulo de "terrorista".
Vejam o glossário do Bourdoukan...
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MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA
Alguns exemplos de verbetes largamente utilizados pela mídia em seu esforço em manipular as palavras:
Ditador – É a denominação que a mídia dá a um presidente eleito democraticamente e age de acordo com a Constituição. Exemplo: Hugo Chaves.
Presidente – É a denominação que a mídia dá a quem aprova leis ditatoriais, invade nações para apossar-se de suas riquezas, assassina mais de um milhão de seres humanos; constrói muros segregacionistas; é contra o Tribunal Penal Internacional e os protocolos de Kioto.Exemplo: George W.Bush.
Incursão: Assim a mídia denomina a invasão de um país.
Tutela – É o sinônimo que a mídia dá à ocupação do Iraque pelos Estados Unidos.
Terrorista – Assim a mídia denomina o revolucionário que luta contra o jugo colonialista.Exemplo: iraquianos, afegãos e palestinos.
Suicida – É a denominação que a mídia dá ao prisioneiro assassinado pelos carrascos estadunidenses nas prisões de Abu-Ghraib e Guantanamo.
Ataques cirúrgicos– Assim a mídia repercute quando um míssil estadunidense erra o alvo e causa a morte de civis. Três exemplos:
1)-O assassinato da filha de cinco anos do presidente líbio Muammar Kadhafi, em 1986;
2)-O abate de um avião civil iraniano com 298 passageiros e tripulantes em 1988. Não houve sobreviventes.
3)- A destruição de uma indústria farmacêutica no Sudão em 1998.
Seqüestro – Se um soldado israelense é capturado quando invade o Líbano ou a Palestina, a mídia diz que foi seqüestro.
Captura – Se um palestino ou libanês são seqüestrados pelas tropas invasoras, a mídia diz que foi captura.
Incidente ou efeito colateral –É quando tropas de Israel ou dos Estados Unidos massacram centenas de civis palestinos, iraquianos e afegãos.
Massacre – É quando palestinos, iraquianos e afegãos matam dois ou três soldados de Israel e Estados Unidos.
Assentamento – É a denominação que a mídia dá à usurpação de terras palestinas por invasores israelenses.
Conflito – Assim a mídia denomina a invasão e ocupação da Palestina por tropas de Israel.
Há muitos outros exemplos, mas hoje fico por aqui.
Fonte: O Escrevinhador / Blog do Bourdoukan
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