por Leonardo Sakamoto
O JBS-Friboi está se juntando com o Bertin. Ambos já foram amplamente criticados e, no caso do segundo, denunciado criminalmente, por comprarem gado de quem desmatou irregularmente ou cometeu crimes ambientais. O anúncio da fusão/compra ontem não trouxe mais detalhes, mas fico me perguntando qual será a política ambiental e social a ser adotada por ambos.
Para além dos problema decorrentes da concentração do mercado, que pode afetar consumidores e produtores, tem gente comemorando a criação de uma grande multinacional, a maior do mundo, no setor de carnes, em um nacionalismo entusiasta. “Esse é um país que vai pra frente!”, bradou um articulista. Já se ouviu isso em outro momento, verde-oliva, e a visão daquele desenvolvimento, de fazer crescer o capital (o tal do bolo) para dividi-lo com a população nunca se concretizou. Pelo contrário, quando algo assim acontece, o povo sistematicamente herda os passivos, não os lucros.
O Bertin foi largamente avisado dos problemas que teria ao comprar unidades frigoríficas no Pará, que possuíam entre os fornecedores fazendeiros cobertos até o pescoço de passivos ambientais, sociais e trabalhistas – isso sem contar os que ocuparam terras públicas ilegalmente. Foi para lá mesmo assim. Acabou sendo denunciado pelo Ministério Público Federal. Teve que assinar um termo de ajustamento de conduta, mudando várias práticas comerciais, para poder continuar vendendo carne bovina a grandes redes de varejo.
O JBS possui forte presença no Mato Grosso, porta de entrada da Amazônia, já tendo registrado em sua cadeia de fornecedores fazendeiros que desmataram ilegalmente a floresta. Além de ter adquirido a norte-americanas Pilgrim’s Pride, a maior empresa de carne do mundo arrendou unidades do frigorífico Quatro Marcos, grupo com longo histórico de grave desrespeito ao meio ambiente e aos trabalhadores. Ou seja, com um passivo e tanto para se corrigir.
Em tese, apenas em tese – porque a prática sempre se mostra mais bizarra do que a teoria – o Bertin está um passo adiante do Friboi por ter assumido compromissos públicos, que serão fiscalizados pelo MPF do Pará. O Friboi ainda não – pelo menos até agora. Como serão os impactos dessa união para questões ambientais e trabalhistas? Nivelamento por baixo das práticas comuns, como temos visto em fusões bancárias e de grandes empresas, ou por cima?
Grandes empresas do setor agropecuário deveriam, neste momento, estar analisando mudanças profundas em seus negócios, criando instrumentos de controle, rastreamento e transparência mais eficazes, caminhando no sentido da sustentabilidade. Às vezes, é melhor parar e refletir, mesmo que isso signifique queda dos lucros em um primeiro momento ou não cumprimento de metas de crescimento, para avançar de uma forma mais segura.
Mas como conter a sanha de dominar o mundo?
Fonte: Blog do Sakamoto
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