terça-feira, 9 de junho de 2009

Vem aí a bandalha da Copa 2014

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A COPA EM QUESTÃO


A Copa do Mundo de 2014 será no Brasil, as 12 cidades sedes já estão definidas e não adianta mais chorar sobre o leite derramado. Mas algumas questões merecem ser levantadas, mesmo que não interfiram mais no cenário traçado pela CBF e a Fifa.

A primeira, e que mais me intriga, é a escolha de Brasília como uma das cidades que abrigará jogos da Copa. Brasília não possui a menor tradição de futebol, seus times são de pouca expressão e a cidade é apenas a capital administrativa do país. Em 1974, quando a Alemanha Ocidental recebeu a Copa do Mundo, Bonn, a então capital, não foi uma das sedes escolhida. Claro, lá não havia time, torcida e nem ambiente para uma Copa, que costuma fervilhar os locais por onde passa.

Pior ainda é que Brasília construirá para a Copa o segundo maior estádio de futebol do país, com capacidade para 71 mil e 500 torcedores, Ficará atrás somente do Maracanã, que com a enésima reforma poderá receber 87 mil pessoas. Desde já, o estádio de Brasília, cujo projeto é de beleza inegável, ao nível dos grandes monumentos da capital, é o maior candidato a elefante branco. Ou alguém imagina que Gama e Brasiliense irão algum dia encher um gigante desses? Mesmo que seus defensores aleguem que o novo estádio será uma arena multiuso, ela irá funcionar para quê? Brasília não é rota dos grandes concertos de rock internacional e os artistas brasileiros capazes de reunir uma massa de mais de 70 mil pessoas contam-se nos dedos.

Outra questão curiosa é a escolha de quatro sedes no Nordeste. Salvador, Recife e Fortaleza teriam que constar obrigatoriamente por serem três das grandes regiões metropolitanas do país e contarem com times de expressão nacional, quase sempre presentes na principal série do futebol brasileiro. Mas por quê Natal? Nada contra a simpática e praieira cidade, mas sua inclusão fez algumas vítimas.

A escolha de Cuiabá também soou estranha e a única explicação razoável é a de uma sede do pantanal, motivo mais turístico do que esportivo. E mesmo assim, faria mais sentido que Campo Grande fosse a vencedora, já que a maior parte do pantanal está no Mato Grosso do Sul. Cuiabá e Brasília deixaram de fora Goiânia, que por critérios unicamente esportivos deveria ter prioridade, já que é a única do Centro-Oeste a ter um time na série A do campeonato brasileiro, com 33 participações nos 38 anos do torneio.

Deixo para o fim a questão mais importante e polêmica: os custos. Neste quesito, o Rio de Janeiro larga na frente. Com um estádio pronto e acabado, que recebeu 300 milhões de reais em sua última reforma, encerrada há dois anos, a cidade ainda terá que gastar mais 430 milhões de reais para se enquadrar nos padrões da Fifa. A soma dos valores é quase o custo do Allianz Arena, palco da abertura da Copa da Alemanha, em 2006, e provavelmente o mais sofisticado estádio do mundo, tanto em termos arquitetônicos, quanto de segurança e conforto. Considerando mais uma vez a soma dos valores, a reforma do Maracanã sairá mais cara que a construção do estádio de Brasília, orçado em 650 milhões de reais.

Esta, aliás, é outra questão curiosa. A reforma de vários estádios custará mais caro do que a construção de novos. E não é o caso de diferença de capacidade. O Vivaldão, em Manaus, consumirá 500 milhões de reais para ser reformado, o mesmo preço da construção da Arena de Recife. O Castelão e a Fonte Nova em Salvador exigirão 400 milhões de reais para serem renovados, 100 milhões de reais a mais que a Arena das Dunas a ser erguida em Natal. Depois reclamam quando se fala em superfaturamento.

Estes valores, naturalmente, são apenas os dos projetos que a realidade tratará de elevar, como vimos nos Jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro, salvos pela grana da viúva. Com o ufanismo a toda pela oportunidade de o Brasil sediar novamente a mais importante competição de futebol do mundo, irregularidades tendem a passar despercebidas e só serem examinadas em uma futura CPI da Copa, quando o dinheiro público já terá sido torrado.




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