segunda-feira, 29 de junho de 2009

As aberrações urbanas de São Paulo

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por Andre Araujo

As aberrações em termos de desorganização urbana cometidas em São Paulo nos ultimos 20 anos irão se multiplicar por dez com a revisão do Plano Diretor em curso. Não está havendo uma visão macro da cidade, das consequências da expansão imobiliária sobre determinados bairros que não comportam mais adensamento, a crucial questão da circulação de veículos, da poluição e do equipamento urbano adicional que se requer nas áreas adensadas.

Os governos militares criaram a noção de Área Metropolitana, foram criadas nove áreas no Pais, cada qual com um órgão regulador metropolitano bem estruturado. Criaram-se dentro desse processo mecanismos de articulação entre as prefeituras de cada área, Conselhos de Cidades, com uma visão de conjunto, com excelentes resultados, acumulando-se um capital de conhecimentos sobre drenagem, córregos, bacias, vias comuns a vários municípios, fluxos de tráfego, saneamento integrado, transportes coletivos, etc. Esse esforço e o conhecimento acumulado foram jogados fora, a noção de área metropolitana foi perdida após 1988, em São Paulo, aonde o conceito estava mais avançado, o Governo Covas liquidou com a entidade metropolitana, só não a extinguiu por razões legais.

Regrediu-se então aos planos diretores isolados que por falta de visão macro nada mais são do que autorizações para edificar. Aonde era proibida a edificação vertical, o poder municipal, (prefeito + câmara de vereadores) negocia com o meio imobiliário a permissividade. A revisão do plano diretor nada mais é que isso.

Voltaremos então ao modelo Vila Olímpia, onde ruas estreitas com casinhas deram lugar a mega edifícios de 30 andares, dando para a mesma ruazinha, gerando um trafego inteiramente incompatível com o entorno. O modelo Vila Olímpia vai se repetir em outros bairros adensados, construe-se muito mais e ponto final, não há qualquer outra providência no entorno urbano. Esse será o único resultado dessa revisão mal-intencionada do Plano Diretor, que já é ruim sem mexer. São Paulo está sem visão de futuro, sem um processo de planejamento real, para valer, com base na vocação da cidade e das necessidades dos habitantes de hoje e de seus filhos e netos. Nada disso está sendo discutido. O negócio é só atender ao setor de construções e acaba aí. A bem da verdade, os quebra-galhos urbanos não acontecem só em São Paulo, está se repetindo por todo o Brasil.

A noção de planejamento urbano, com especial atenção às áreas metropolitanas, que foi desenvolvida na década de 70 com grandes experiências como a Emplasa, a Planbel, a Fundrem foi literalmente jogada na lata do lixo, porque esse conceito de visão integrada atrapalha as negociações políticas de balcão que se fazem em cada cidade isoladamente. A política miuda municipal que veio do modelo da Nova República não tem interesse nessas bobagens de urbanistas, é muito melhor operar no varejo de hoje do que pensar nos filhos e netos que habitarão na São Paulo do futuro. Quando se fizer a revisão histórica do Regime Militar de 64-85, coloque-se a seu crédito um avançado processo de planejamento urbano com uma visão estratégica sofisticada, que inclusive embasou a construção dos metrôs de São Paulo e Rio e que foi simplesmente extinta pelos governos sucessores. Hoje as cidades brasileiras, grandes, médias e pequenas estão à deriva, os planos diretores são apenas matéria prima de negócios imobiliários.

Fonte: Luis Nassif Online

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