sexta-feira, 12 de junho de 2009

A direita terrorista e o “big brother” Obama

O extremismo de direita nos Estados Unidos tem facções múltiplas. É religioso, patriótico e racista. Teme a invasão dos EUA por tropas da ONU e raças múltiplas, que chegariam em helicópteros negros. Em The Turner Diaries, ficção racista e anti-semita, lida nas milícias que infestam o país, o autor William Luther Pierce retrata uma revolução violenta, guerra nuclear, tomada do poder e extermínio de judeus e não-brancos. O artigo é de Argemiro Ferreira.

Em abril a secretária de Segurança Interna dos EUA, Janet Napolitano, divulgou o extenso relatório de seu departamento (DHS, Homeland Security) sobre a ameaça do extremismo de direita no país. Foi ridicularizada pelo império Murdoch de mídia, Fox News à frente. Apesar da reação inicial, a advertência é afinal levada a sério depois de dois ataques extremistas - que agora ameaçam dividir o jornalismo da Fox.

Aparentemente os excessos dos talk shows de Murdoch preocupam também alguns jornalistas da casa. A vítima do primeiro ataque extremista, em maio, foi o médico de uma clínica de aborto do Kansas, George Tiller, assassinado por um fanático religioso. No segundo, a 10 de junho, extremista defensor da supremacia branca atacou o museu do Holocausto na capital e matou um segurança a tiros.

O extremismo de direita tem facções múltiplas. É religioso, patriótico e racista. Teme a invasão dos EUA por tropas da ONU e raças múltiplas, que chegariam em helicópteros negros. Em The Turner Diaries, ficção racista e anti-semita, lida nas milícias que infestam o país, o autor William Luther Pierce retrata uma revolução violenta, guerra nuclear, tomada do poder e extermínio de judeus e não-brancos.

A vítima do atentado do Kansas, George Tiller, era chamada pelo campeão de audiência do horário nobre na Fox News, Bill O’Reilly, de “assassino de bebês” - o que pode ter encorajado o extremismo de direita a matar Tiller. Depois do crime, O’Reilly jurou que fazia apenas “análises baseadas em fatos” e às vezes citava grupos cristãos contrários ao aborto, que chamavam Tiller de “baby’s Killer”.

“Um lugar no inferno para ele”

Jornalistas e blogs mais à esquerda acusam a Fox. “Qual o próximo alvo da ira de O’Reilly e (Glen) Beck a ser abatido a tiros por terroristas conservadores?” - perguntou a 31 de maio o blogueiro Markos Moulitsas, do Daily Kos. No mesmo dia Mike Hendricks escreveu no jornal Kansas City Star que são cúmplices todos os que se referiam à vítima, na TV, como “baby’s Killer” e “Tiller, the Killer”.

Para O’Reilly, seus críticos são “odiadores da Fox”; e defendem a vítima mas são indiferentes à sorte de 60 mil fetos supostamente destruídos por Tiller. Ele jurou, ao mesmo tempo, nunca ter usado as expressões ofensivas ao médico. Mas o site Media Matters for America, ativo no monitoramento da mídia, relacionou as datas (foram dezenas) nas quais o dr. Tiller foi acusado daquela forma.

A 27 de março, depois de Tiller ter sido absolvido em processo movido contra ele por grupo religioso antiaborto, O’Reilly disse: “Tiller, o assassino de bebês, foi absolvido no Kansas. (…) Deve haver um lugar especial no inferno para esse cara”. A 3 de abril o herói do horário nobre da Fox atacou de novo: “Tiller foi absolvido no Kansas. Tiller, o assassino de bebês”. Eram afirmações dele e não citações.

Ao abordar, a 27 de abril, o veto a um projeto de lei antiaborto, ele se referiu de novo ao “caso de Tiller, assassino de bebês”. A 11 de maio, falando da secretária de Saúde Kathleen Sebelius, ex-governadora do Kansas, também observou ser aquele “o estado do dr. Tiller, o assassino de bebês”. Consumado o assassinato, passou a alegar cinicamente que só usava a expressão citando outras organizações.

Fundamentalismo cristão, a ameaça

Na verdade, O’Reilly não informava: fazia campanha, havia quatro anos, contra o dr. Tiller, que se tornou personagem fixo em seus talk shows, até ser morto. O crime, a 31 de maio, levou mais jornalistas - Helen Kennedy no Daily News de Nova York, Keith Olbermann na MSNBC e a ex-produtora do “60 Minutes” da CBS, Mary Mapes, em artigo no Huffington Post - a culpar a pregação de ódio de O’Reilly.

Em razão disso veio ainda a reação inesperada dentro da própria Fox de Murdoch. O jornalista Shepard Smith, que apresenta de Nova York o noticiário Studio B, e a correspondente Catherine Harridge, que cobre o Pentágono e assuntos de segurança nacional, disseram que a morte do dr. Tiller e o ataque de James W. von Brunn ao museu do Holocausto davam relevância maior ao relatório do DHS

Antes, ao ser divulgado o relatório, O’Reilly e Beck o repudiaram e Sean Hannity retratara o presidente Obama como o “Big Brother” de George Orwell a vigiar os americanos. Smith e Harridge ousaram adotar posição oposta. O objetivo maior do DHS fora alertar departamentos de polícia - e demais órgãos encarregados de fazer cumprir a lei - para os perigos representados pelo extremismo de direita.

A preocupação das autoridades do Departamento de Segurança Interna, a começar pela secretária Napolitano, é compreensível. A partir do 11/9 a obsessão do país tinha passado a ser o terrorismo muçulmano mas antes disso os terroristas mais ativos estavam na direita - como os milicianos brancos motivados pela supremacia racial e o fundamentalismo cristão obscurantista, comparáveis a Osama Bin Laden.

Ideais e obsessões de Oklahoma City

Na década de 1990, os federais acompanhavam a proliferação de milícias e seitas no país, com confrontos como o que levou ao incêndio no complexo davidiano de David Koresh em Waco, Texas. Ali morreram 54 adultos e 21 crianças em 1993. Dois anos depois, em 1995, veio o atentado de Oklahoma City - o maior ocorrido no país antes do 11/9. Matou 168 pessoas e deixou mais de 800 feridas.

Veterano da guerra de 1991 no Iraque, o terrorista Timothy McVeigh, simpático às milícias de direita, pagou com a pena de morte pelo crime. O relatório do DHS, não por acaso, alertava para a necessidade de preparar o país para o retorno dos veteranos da atual guerra do Iraque. Mas a Fox e os republicanos indignaram-se à mera menção desse grave problema, como se não fosse de fato preocupante.

Tratar com leviandade a morte de dr. Tiller e o ataque ao museu em Washington é um risco, como perceberam Smith e Herridge. Os bandos de direita talvez prefiram ser tratados como piada, mas são reais. Mais sensato é não subestimá-los. Até porque, com base naquele alerta do DHS, um grupo já pede doações pela internet e oferece carteiras de identidade para quem se orgulha de ser “extremista de direita”.

Procurados pela mídia, os responsáveis alegaram ser inofensivo, apenas humorístico, o site do grupo Liberty Counsel. Isso é duvidoso: pregam-se ali ideais e obsessões das milícias: interpretação literal da Bíblia, santidade da vida, valores tradicionais da família, porte de armas, redução do poder do governo federal, apoio “às nossas tropas” e aos veteranos. Timothy Weigh assinaria embaixo. Murdoch também.

Fonte: Blog de Argemiro Ferreira


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Um comentário:

infinitoamanajé disse...

A velha "NOVA ORDEM MUNDIAL AVANÇA COMO UM TIGRE INVISÍVEL PELO BAMBUZAL MIDIÁTICO"; lá como aqui, na sucursal e menina dos olhos para recolonização da América Latina.