segunda-feira, 15 de junho de 2009

Brasil, um país sem educação (2)

::

por Waldemar Rossi

No primeiro artigo sobre o assunto, abordei dados do precário sistema de ensino brasileiro, mostrando que, por conta dos interesses do capital e da sua dominação ideológica sobre o povo, nossos "governantes" vêm tomando medidas para rebaixar, cada vez mais, o padrão da Educação formal. E que isto teria começado com o (des) governo militar, quando encetou verdadeira "caça às bruxas" sobre os maiores expoentes do ensino brasileiro, impondo forte redução na qualidade do ensino público, além de incentivar a escola particular, fazendo da educação uma mera mercadoria.

Os seus sucessores não deixaram por menos. Principalmente os tucanos que, como aconteceu no estado de São Paulo no tempo do governador Mario Covas, retiraram matérias importantes da grade do ensino, diminuíram outras (História e Geografia), demitiram professores aos milhares, congelaram seus salários, fecharam escolas e concentraram alunos próximos de cinqüenta por sala de aula.

O resultado foi catastrófico, com já várias gerações de crianças e jovens semi-alfabetizados, depois de completarem até o 3º ano do ensino médio. Agora temos a oportunidade de ver esses dados confirmados, infelizmente, embora à época alguns tenham torcido os seus narizes aos meus comentários.

A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a infância) divulgou resultado de pesquisa em que 26% dos alunos que ingressaram no ensino médio em 2007 foram reprovados (12,7%) ou abandonaram seus estudos (13,2%): "A realidade dos 15 a 17 anos é um desastre. Se tem desigualdade dos 7 aos 14 anos, dos 15 aos 17 fica pior", diz a coordenadora do Programa de Educação da UNICEF no Brasil, Maria de Salete e Silva. Outro dado dessa desigualdade vem da constatação de que pelo menos 680 mil crianças ficam sem estudar e que, destas, a maioria é negra (450 mil).

Em debate promovido pelo Estadão sobre a qualidade do ensino, o ministro da Educação, Fernando Haddad, defende reformular currículos de Pedagogia (leia-se formação de professores) como indispensável para melhorar a qualidade do ensino. Da mesma forma que o secretário de Educação do estado de S. Paulo, Paulo Renato, assegura que é preciso aprimoramento após a formação universitária - uma verdadeira declaração do fracasso que é nossa universidade, tanto pública quanto privada. Fracasso pelo qual os governos do seu partido – PSDB - são grandes responsáveis, embora não os únicos. Vale lembrar que Paulo Renato foi ministro da Educação no tempo de FHC – oito anos de governo em que caiu vertiginosamente a qualidade do ensino no país.

Outro reconhecimento de culpa das políticas educacionais dos vários governos vem do próprio ministro Haddad, quando afirma que "A carreira do professor não pode estar em desvantagem em relação às demais (carreiras). Vamos perder jovens vocacionados por causa de uma questão econômica". Essa constatação vai em reforço à afirmação da representante da UNICEF no Brasil, Marie-Pierre Poirier, que defende ser vital passar dos (míseros, segundo meu ponto de vista) 4,6% do PIB brasileiro (Produto Interno Bruto) para cerca de 8% do PIB.

Não podemos nos esquecer de que o governo Lula, a cada ano, vem empregando cerca de 8% do PIB para entregar aos "nossos credores", enquanto nossa dívida pública continua crescendo. Para banqueiros agiotas tem dinheiro. Não tem para a Educação, entre tantas outras carências do nosso povo. Creio que o ministro Haddad e o secretário Paulo Renato deveriam empregar suas forças para exigir do Lula e do Serra as mudanças na política econômica nacional e estadual, investindo o dinheiro público para atender aos verdadeiros interesses nacionais. Entre esses interesses, a Educação Pública.

Cabe ao professorado tanto federal quanto aos estaduais organizarem campanha unificada para que se promova verdadeira revolução no ensino brasileiro. É preciso ter coragem para enfrentar com muita garra aqueles que deveriam pensar no povo. Caso contrário, a insensibilidade dos governantes vai continuar, seus compromissos continuarão a ser com os exploradores nacionais e internacionais e as atuais e futuras gerações passarão por escolas, mas serão apenas semi-alfabetizadas. Ao movimento social, como um todo, caberá dar todo seu apoio ao professorado.

*Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

Fonte: Correio da Cidadania

::


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: