quinta-feira, 19 de março de 2009

O verdadeiro teste de Obama

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por Thomas L. Friedman*
Dos Estados Unidos

Quando ouvimos um senador dos EUA convocando os corretores a cometerem suicídio, percebemos que o nível de raiva no país está atingindo um nível de perigo do tipo "Fogueira das Vaidades" ou de caça às bruxas corporativa. Isso é perigoso por diversas razões, mas principalmente porque esta genuína raiva da AIG pode derrubar as ainda muito difíceis, mas crucialmente importantes ações que devemos tomar nas próximas semanas, a fim de atenuar esta crise financeira.

Vou ser específico: se você não gostou de ler que os funcionários da AIG vão receber milhões em bônus depois que sua empresa - com 80% de propriedade dos contribuintes dos EUA - teve a maior perda trimestral na história da Via Láctea, você realmente não vai gostar de saber do plano de ajuda financeira aos bancos que será implementado em breve pela equipe de Obama. Este plano vai começar utilizando até US$250 bilhões em fundos TARP (Programa de Alívio de Ativos Problemáticos) para começar a retirar os ativos tóxicos dos bancos. Contudo, no final das contas, para obter a escala de ajuda aos bancos de que precisamos, serão necessários US$750 bilhões ou mais.

O plano faz sentido e, se tudo for feito da maneira correta, poderá até mesmo gerar lucros para os contribuintes dos EUA. Mas neste clima de ira, será necessário usar cada parcela do capital político guardado "embaixo do colchão" de Barack Obama - assim como o de Michelle, Sasha e Malia - para vender a idéia ao Congresso e ao público.

Esta não pode ser uma tarefa solitária para Obama. Todos com alguma participação na estabilização e na reforma do sistema terão sua parcela de sacrifício. E isso começa pelos funcionários da AIG, que receberam US$165 milhões em bônus. Eles precisam devolver a quantia voluntariamente. Atualmente, todos estão fazendo cortes de um tipo ou de outro, e os corretores da AIG certamente não são exceção. Não queremos que o governo dos EUA revogue contratos - o estado de direito é o motivo pelo qual todos no mundo querem investir em nossa economia. Mas os contribuintes não devem permanecer calados enquanto bônus são pagos a pessoas que estavam gerindo um esquema de seguro que teria feito Bernie Madoff sorrir. A melhor ação a ser tomada é que os banqueiros do AIG façam o mínimo para favorecer o país e abram mão de seus bônus.

Vivo em Montgomery County, no estado de Maryland. Os professores das escolas locais, que ganham, em média, US$67.000 por ano, recentemente votaram e decidiram voluntariamente abrir mão do aumento de 5% em seu salário, que foi acordado contratualmente para o próximo ano, fazendo que nosso sistema escolar economizasse US$89 milhões - para que não fosse necessário fechar programas e demitir professores. Se professores de escolas públicas podem fazer algo em benefício dos estudantes e de seus colegas, os funcionários da AIG podem fazer algo em benefício do país.

Não devemos esquecer que a AIG estava basicamente gerenciando um fundo hedge não-regulado dentro de uma empresa de seguros com classificação AAA. E - como Madoff, que estava vendendo ações fantasmas - a AIG estava vendendo, na verdade, seguros fantasmas para cobrir a inadimplência de conjuntos de hipotecas subprime e outras dívidas - um seguro para o qual a AIG não tinha capital suficiente para dar suporte aos títulos quando esses quebraram. Era um fundo hedge sem hedges (sem proteção). É por isso que os contribuintes tiveram que pagar o seguro pela AIG - para que seus clientes do governo e dos bancos não afundassem, causando ainda mais estragos.

Infelizmente, todo o dinheiro que já gastamos com a AIG e os bancos foi apenas para evitar o total colapso do sistema. Foi apenas para manter o corpo vivo. É por essa razão que curar o sistema provavelmente demandará o restante dos fundos TARP, além dos US$750 bilhões que a administração presidencial avisou ao Congresso que poderiam ser necessários no novo orçamento.

Montando as peças do quebra-cabeça da melhor forma possível, posso prever que o plano de recuperação do governo - que será anunciado em breve - será assim: o governo dos EUA criará um serviço para comprar as hipotecas tóxicas e tirá-las dos balanços patrimoniais dos grandes bancos. Elas serão compradas por um fundo (ou fundos) público-privado, do qual os contribuintes serão, de fato, parceiros com grupos de ações de capital privadas e fundos hedge. Os fundos hedge farão parte do plano para oferecer expertise em termos de fixação de preço e comercialização dos ativos. Os contribuintes farão parte do plano para garantir - ai - que os fundos hedge não percam dinheiro caso assumam os riscos precocemente e também para emprestar dinheiro a eles, para que façam algumas das compras. Os contribuintes serão beneficiados com quaisquer lucros resultantes dessas parcerias.

Quando os bancos venderem seus ativos tóxicos, muitos precisarão de capital, pois, enquanto estiverem carregando tais ativos em seus registros a 85 centavos de dólar, eles inicialmente poderão ter de vendê-los por um preço menor. Dessa forma, o governo provavelmente injetará capital em mais bancos para manter sua solvência, mas assim que os bancos começarem a tirar tais ativos tóxicos de seus balanços patrimoniais, provavelmente atrairão o capital privado do qual precisam e, então, o governo será liberado da tarefa de injetar mais dinheiro.

Vai funcionar? Só podemos esperar que sim. Mas disso eu tenho certeza: a não ser que os bancos sejam sanados, a economia não se reerguerá, e tal saneamento bancário não ocorrerá sem outra rede de segurança de contribuintes eficaz e ampla.

A única pessoa com influência para vender algo dessa magnitude é o Presidente Obama. Os banqueiros e o Congresso terão que ajudar; cada cidadão terá sua própria cota de sacrifício.

No entanto, no final das contas, Obama terá de persuadir as pessoas de que esta é a solução menos injusta e mais eficaz. Será o primeiro grande teste para sua liderança. E em breve tudo isso estará em cartaz, no cinema - e banco - mais próximos de você.

*Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times desde 1981. Foi correspondente-chefe em Beirute, Jerusalém, Washington e na Casa Branca (EUA). Conquistou três vezes o Prêmio Pulitzer, até que em 2005 foi eleito membro da direção da instituição. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.

Fonte: Terra Magazine

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Um comentário:

Anônimo disse...

òtimo.