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por Luiz Carlos Azenha
Primeiro foi o blog do Protógenes.
Depois foi o blog da Petrobras.
Em seguida, o Forum da Cultura Digital Brasileira, organizado pelo Ministério da Cultura.
É lógico que estou resumindo.
Que estou focando em três iniciativas relativamente recentes.
As três, em minha modesta opinião, paradigmáticas.
No caso do delegado, tratava-se de um funcionário público federal "criminalizado" pela mídia, em nome dos interesses escusos de um banqueiro bilionário.
Pode-se dizer que o delegado recorreu à internet em legítima defesa.
Resolveu criar um veículo próprio para organizar aqueles que davam apoio a ele.
Hoje, se alguem quiser saber do Protógenes, a primeira coisa que faz é ir ao blog do delegado. Ainda que ele se recuse a dar entrevistas, pode usar o blog. Se for boicotado pela mídia, pode usar o blog. Se quiser disseminar o que pensa, pode usar o blog.
No caso da Petrobras, também podemos dizer que foi uma reação.
Mas de uma empresa infinitamente melhor estruturada -- e com dinheiro em caixa -- para dar a volta nos jornais.
A Petrobras criou o blog para falar diretamente à opinião pública, para ter um canal de comunicação em caso de necessidade.
Os jornais boicotam a íntegra das declarações da empresa? Ela publica no blog.
Mais do que uma ferramenta de informação, é de contra-informação.
Finalmente, temos agora o Forum da Cultura Digital Brasileira, do Minc, que pretende se tornar uma plataforma permanente para o debate de políticas públicas no setor.
É o governo brasileiro reunindo gente de todo o Brasil em um espaço digital para trocar informações, para debater.
Temos, nessa iniciativa, um salto de qualidade. É o reconhecimento oficial da blogosfera não só como disseminadora de informação, mas como formuladora de políticas públicas.
Há um debate, em torno da mídia dita "alternativa", que divide os participantes, grosseiramente, em dois grupos: os que acreditam no patrocínio estatal e os que acreditam em esforços colaborativos horizontais privados.
Acho, sinceramente, que pode haver um pouco dos dois, embora eu prefira, por ter sempre trabalhado na iniciativa privada, uma certa distância das esferas oficiais.
Porém, na medida em que acredito que as tecnologias de informação, a longo prazo, vão facilitar não só a formulação de políticas públicas pelo cidadão conectado, mas a própria forma de governar, há de se trazer o poder público -- de todas as esferas -- para o debate desde já.
E a mídia tradicional?
Ela trabalha hoje, acima de tudo, tentando tapar com os dedos os furos no dique de contenção. Trabalha pela manutenção de um monopólio privado sobre a disseminação de informação, o debate público e a formulação de políticas públicas. Na visão dos empresários, tudo deve se dar na esfera dos leitores dos grandes jornais, na esquina da Veja com a Globo que dá para os fundos do palácio.
Os empresários trabalham para criminalizar as formas de comunicação que escapem de seu controle, dizendo que a internet dá câncer, que usar computador na lanhouse engravida ou que ouvir rádio comunitária causa gripe suína auricular.
É por isso que, quando digo que o Octavio Frias é reacionário, não falo isso com ódio no coração. Não tenho nada de pessoal contra ele.
É que a manutenção do status social do empresário Octavio Frias -- e, portanto, da robustez de sua conta bancária -- depende da reprodução de um modelo ultrapassado. Aquele, em que o publisher fica com o chicote na mão no topo da pirâmide, algumas centenas de jornalistas ocupam posições intermediárias e você, caro leitor, é um zé ninguem que pode debater, sim, mas dentro dos parâmetros determinados pelo Otavinho.
É um modelo elitista, excludente, monopolista -- em uma única palavra, afrikaner.
Um modelo que o Protógenes, a Petrobras e o Ministério da Cultura -- e milhares de outras iniciativas -- estão ajudando a implodir.
PS: O Nassif e o Paulo Henrique Amorim, com suas iniciativas privadas, estão entre os pioneiros que devem ser reconhecidos pela implosão do modelo afrikaner de mídia, que é apenas uma questão de tempo. Não vai ruir como um castelo de cartas. É mais uma erosão gradual, tijolo desfeito grão a grão.
PS2: Qualquer iniciativa que ameace o controle de cinco famílias sobre o debate público é ameaçadora, já que esse "controle", ainda que imaginário, permite aos empresários do ramo extorquir favores federais, estaduais e municipais. Não é por acaso que a grande política de José Serra para o setor passa por recomendar a Folha e a Veja como indispensáveis ao currículo escolar.
Fonte: Vi o Mundo
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