terça-feira, 4 de agosto de 2009

A guerra que não acaba nunca

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por Luiz Carlos Azenha

Uma colega costuma dizer, a título de chamar a atenção para minha juventude, que cobri o desembarque dos Beatles no aeroporto John Kennedy, nos áureos tempos da PanAm.

Mentira.

Mas é verdade que cobri o governo Reagan, nos Estados Unidos. Ronald Reagan, o caubói. Que descuidou da epidemia da AIDS -- punição para o pecado homossexual, de acordo com a direita religiosa gringa -- mas lançou a "guerra contra as drogas".

Isso foi nos anos 80. Portanto, há mais de duas décadas. Bilhões de dólares dos Estados Unidos foram despejados na América Central, no Caribe e, principalmente, na Colômbia.

Qual foi o resultado? A militarização da Colômbia. Um país em que o presidente da República e o Congresso desempenham as formalidades do poder político mas onde ninguem governa sem a benção dos militares.

É um poder paralelo. Político e econômico. Certa vez, em Bogotá, estranhei que apenas o hotel em que eu estava hospedado era guardado por escolta do Exército colombiano, fortemente armada. Até que um colega local me contou: o dono tem alta patente do Exército.

Em outra viagem, mais recente, contamos com o apoio de uma empresa privada que prestava serviços terceirizados ao governo colombiano. Nossa guia era militar da ativa.

E por aí vai.

Agora, que o presidente do Equador, Rafael Correa, decidiu despejar os Estados Unidos da base aérea de Manta, é noticiado que os Estados Unidos podem passar a utilizar várias bases na Colômbia.

Motivo?

A guerra contra as drogas.

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), pelo que entendo, foram dizimadas. Vinte anos não foram suficientes para derrotar o crime organizado na Colômbia, ainda que os Estados Unidos tenham despejado bilhões de dólares nos serviços de segurança do país?

É óbvio, pois, que Washington está patrocinando uma militarização indesejada da América do Sul, com seus próprios objetivos geopolíticos.

E, também, econômicos.

O Pentágono precisa torrar dinheiro do contribuinte americano.

Agora, que os Estados Unidos pretendem se retirar do Iraque, precisam urgentemente produzir novos inimigos para justificar os gastos militares.

Entram em cena as terríveis forças militares bolivarianas, com suas armas de destruição em massa e sua ideologia exótica, estranha ao caráter pacífico do povo da América do Sul.

E a força aérea devastadora dos insidiosos traficantes de drogas, que desde a remota selva colombiana atentam contra o bem estar da juventude dos Estados Unidos.

PS: A propósito, eu me lembro quando o terrível Manuel Noriega, ex-agente da CIA, se tornou inimigo dos Estados Unidos. A TV Manchete me deslocou de Nova York para a Cidade do Panamá, onde fui convidado para uma entrevista coletiva na sede do Comando Sul, a base americana no Panamá, hoje desativada (as instalações foram transferidas para a Flórida, Porto Rico e Guatemala). No pódio apareceu um militar americano que passou a dar uma série de informações aos jornalistas, sem apresentar qualquer prova material ou testemunhal. Uma das "informações" era de que Fidel Castro teria mandado alguns milhares de fuzis para Noriega se defender de uma possivel invasão americana. Não inclui a informação em minha reportagem. Mas, no dia seguinte, saiu na capa do Washington Post, atribuída a "fontes militares americanas". Noriega foi derrubado, os Estados Unidos conseguiram implantar um governo civil "amigável" com o qual compartilham a administração do canal do Panamá, os fuzis do Fidel nunca apareceram e estamos conversados.

Fonte: Vi o Mundo

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