segunda-feira, 9 de março de 2009

O Jornal Nacional tentou ouvir todo mundo. Menos o acusado

::

por Luiz Carlos Azenha


Eu sou especialista em "repercussão seletiva de capa". Explico: no fim de semana circulam várias revistas. Mas o Jornal Nacional "escolhe" apenas algumas capas para repercutir. Em 2005 e 2006, eram as capas da "Veja" relativas ao governo Lula. Eu era repórter da TV Globo, então. Fiz a reportagem repercutindo uma denúncia contra o irmão do presidente Lula. Fui à casa dele, em São Bernardo, tentar uma entrevista. Fomos informados que ele não estava. Por telefone, tentei falar com o acusado mais tarde. Não consegui.


Na época eu dizia na redação da Globo de São Paulo que não concordava com a idéia de reproduzir como factuais as informações de uma revista sem que eu ou algum colega de redação as tivesse apurado. A "Veja" publica, como já publicou, que o presidente Lula é acusado de ter uma conta bancária no Exterior. Está aqui.


Como é que você vai reproduzir isso num telejornal para milhões de pessoas? E se as informações forem falsas (como ficou provado depois)? Você vai dedicar o mesmo tempo para desmentir isso, mais tarde? O mínimo que você deve fazer é dar ao acusado o direito de resposta. No dia da acusação.


Pois bem: na Globo, o desconforto não era só meu. Vários profissionais demonstraram descontentamento com a "seletividade" das denúncias repercutidas no JN. As capas que tratavam de acusações a José Serra, por exemplo, nunca emplacaram no Jornal Nacional. Mas aquela que falava do financiamento de Fidel Castro ao PT - a famosa, dos dólares de Cuba - emplacou. Contra essa cobertura desequilibrada é que reclamamos: eu, Carlos Dorneles, Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello (editor de Economia do JN em São Paulo) e, por baixo, outros nove profissionais que prefiro não identificar, em situações distintas. Não se trata, pois, da reclamação de uma pessoa, mas de um grupo considerável de profissionais competentes.


De lá para cá, isso melhorou? Não sei. Raramente assisto TV. Um internauta me chamou a atenção, no entanto, para uma reportagem do Jornal Nacional de sábado passado, que repercutia a capa da revista "Veja". Para mim, tudo muito previsivel: a imagem de documentos reproduzidos na revista dá "credibilidade", ainda mais quando ela vem acompanhada por declarações de um ex-presidente da República e de um governador do estado de São Paulo: FHC e José Serra falaram. O Jornal Nacional fez uma lista de supostos espionados pelo delegado Protógenes Queiroz, que é imensa.


Mentira, verdade? Só o tempo dirá.


Curiosamente, ao final, o JN fez questão de reproduzir a "repercussão" junto a cada um dos que supostamente foram espionados, mencionando até mesmo os que não foram encontrados. E o delegado Protógenes, o acusado? Nada. Nem se deram ao trabalho de dizer que tentaram encontrá-lo. Ou seja, a "repercussão seletiva de capa" agora é "fuzilamento midiático". Eu não me lembro de uma só acusação contra o banqueiro Daniel Dantas em que um dos advogados dele não tenha sido ouvido. A Globo está aperfeiçoando os seus métodos para 2010.


A REPORTAGEM DO JORNAL NACIONAL ESTÁ AQUI

Fonte: Vi o Mundo

::


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: