segunda-feira, 16 de março de 2009

Cada um com seus "pobremas"?

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por Luiz Antonio Magalhães

O que vai abaixo é o artigo do autor destas Entrelinhas para o Correio da Cidadania. Em primeira mão para os leitores do blog.

O discurso contra a corrupção voltou a frequentar as primeiras páginas dos jornalões e revistonas após a entrevista do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) à revista Veja. Depois das "denúncias" de Jarbas, que não conseguiu apontar um único caso ou nome de corrupto de seu próprio partido, começaram a surgir algumas notícias envolvendo altos funcionários do Senado Federal - dois deles já demissionários.

Mais alguns dias se passaram e na semana passada o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) foi acusado de ter utilizado, em 2008, R$ 26 mil da verba indenizatória para pagar serviços feitos pela Eco Social Consultoria Sócio-Agrário-Ambiental Ltda, que tem como principal sócio o ex-deputado do PSOL João Alfredo, hoje vereador em Fortaleza. A denúncia foi feita pelo ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, hoje blogueiro em tempo integral. Maia insinuou ainda que os recursos serviram para financiar a campanha eleitoral de Alfredo. Alencar reconheceu o uso da verba e afirmou que não há nada de ilegal no que foi feito, informando ainda que discriminou em seu site o recurso e suspendeu os pagamentos durante a campanha eleitoral.

O caso do deputado do PSOL carioca, um dos parlamentares mais honestos e transparentes de que se tem notícia, é emblemático da confusão que pode ser instalada a partir de certas ondas moralistas e denúncias vazias. É um excelente aviso, inclusive, para o PSOL e para a presidenciável Heloísa Helena, que nos últimos anos tem se aprimorado justamente no discurso neo-udenista, mas com a roupagem da esquerda.

É óbvio que Alencar não tem nenhuma culpa no cartório nem fez nada de errado, mas a denúncia de Cesar Maia tem endereço certo: levantar a dúvida e mostrar ao povão que o PSOL, como o "antigo" PT, não é exemplo para ninguém e também tem lá os seus pecadores. Botar o nome de Alencar ao lado de Agaciel Maia, Renan Calheiros, José Sarney e outros menos cotados que vem aparecendo no noticiário era justamente a intenção marota do ex-prefeito do Rio. A jogada foi complementada com a representação na Corregedoria da Câmara contra Chico Alencar, apresentada pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), um adepto da dita nada branda, bem dura, duríssima, aliás.

Chico vai se explicar e certamente será absolvido, mas o episódio deveria servir de reflexão interna no PSOL. Há duas formas de fazer política: praticando o debate de ideias ou usando artimanhas e pequenos golpes contra os adversários. Na campanha de 2006, Heloísa Helena preferiu se aliar ao tucano Geraldo Alckmin e passou meses denunciando "dólares na cueca" e o espúrio "mensalão". Sim, tudo isto aconteceu, está sendo investigado e foi muito feio da parte de quem praticou os ilícitos. A maior parte dos protagonistas, por sinal, deixou o governo. Helena poderia ter feito uma campanha diferente, mostrando as limitações do governo Lula do ponto de vista das ideias que ele e o PT defendiam antes de chegar ao poder. Podia também apresentar o seu projeto alternativo de governo, explicar direitinho as mudanças que realizaria se vencesse a eleição. Preferiu bater no "ladrão", teve lá seus momentos de brilho e conseguiu uns votinhos dos que se revoltam com a "ladroagem".

Cada um responde por seus atos e escolhas, Heloísa é maior de idade, vacinada e sabe o que faz. Este colunista, porém, discorda da estratégia adotada pelo PSOL em 2006. Mas opinião, cada um tem a sua, o que vale a pena mostrar aqui é o perigo de insistir na tecla da reputação totalmente ilibada, da santidade e pureza dos "escolhidos", os integrantes do partido.

Ora, o PSOL também é feito de gente de carne e osso, certamente existem por lá companheiros suscetíveis a certos "desvios", para usar uma linguagem própria da esquerda. É óbvio que as forças da direita saberão explorar este flanco: quem posa de vestal responde por esta pose e se não consegue mantê-la, acaba caindo no ridículo de ter de explicar todo e qualquer "movimento suspeito", como muito bem ilustra o caso de Chico Alencar. O episódio envolvendo o parlamentar carioca, por fim, não deixa de ser um bom alerta para a conter a fúria neo-udenista de certos membros do PSOL. Resta saber se há espaço para este tipo de reflexão no partido.

Fonte: Entrelinhas

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