quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Obama é "mais do mesmo na América Latina"

::

por MARK WEISBROT - NEW YORK TIMES

Havia grande esperança na América Latina quando o presidente Obama foi eleito. A posição dos Estados Unidos na região tinha atingido um ponto baixo sob George W. Bush e todos os governos de esquerda exprimiram otimismo de que Obama daria à política de Washington uma nova direção.

Essa esperança se desfez. O presidente Obama continuou as políticas de Bush e em alguns casos fez pior.

O golpe militar contra o presidente democraticamente eleito Manuel Zelaya de Honduras em 28 de junho se tornou um claro exemplo do fracasso de Obama no hemisfério. Houve sinais de que algo estava perdido em Washington quando as primeiras declarações da Casa Branca não criticaram o golpe. Foi a única declaração de um governo que assumiu uma posição neutra. A Assembléia Geral das Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos votaram unanimemente pelo "retorno imediato e sem condições" do presidente Zelaya.

Declarações conflitantes da Casa Branca e do Departamento de Estado emergiram nos dias seguintes, mas na última sexta-feira o Departamento de Estado deixou claro sua "neutralidade". Numa carta ao senador Richard Lugar, o Departamento de Estado disse que "nossa política e estratégia para engajamento não é baseada no apoio a qualquer indivíduo ou político em particular" e parecia culpar o sr. Zelaya pelo golpe: "A insistência do presidente Zelaya em ações provocativas contribuiu para a polarização da sociedade hondurenha e levou ao confronto causador dos eventos que resultaram em sua remoção".

A carta foi publicada por toda a mídia hondurenha, que é controlada pelo governo golpista e seus apoiadores, e os reforçou politicamente. Congressistas republicanos que apoiaram o golpe imediatamente se declararam vitoriosos.

Na segunda-feira o presidente Obama repetiu a sua declaração de que o sr. Zelaya deveria voltar. Mas, então, ninguem foi enganado.

Obama tem dito que "não pode apertar um botão para colocar o sr. Zelaya de volta". Mas ele não apertou os botões que tem à sua disposição, como o congelamento dos bens dos líderes golpistas nos Estados Unidos ou o cancelamento de seus vistos. (O Departamento de Estado cancelou cinco vistos diplomáticos de membros do governo golpista, mas eles podem entrar nos Estados Unidos com seus vistos normais -- portanto, é um gesto sem efeito).

Com assessores de Clinton como Lanny Davis e Bennett Ratcliff definindo a estratégia do governo golpista, o Pentágono defendendo sua base militar em Honduras e os republicanos ideologicamente ligados aos líderes do golpe, não é surpresa que Washington esteja mais preocupada em proteger seus amigos na ditadura do que com democracia ou as regras da lei.

Mas isso não faz a política de Obama ser menos infeliz. E Washington permanece silenciosa sobre os abusos de direitos humanos cometidos pela ditadura, que foram condenados por organizações dos direitos humanos de todo o mundo.

Além de seu fracasso em Honduras, o governo Obama causou preocupações na semana passada entre líderes como Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil e Michelle Bachelet do Chile com sua decisão de aumentar a presença militar dos Estados Unidos na Colômbia. Washington aparentemente não consultou os governos da América do Sul -- a não ser o da Colômbia. O pretexto para a expansão, como sempre, é a "guerra contra as drogas". Mas a legislação no Congresso que financiará essa expansão permite um papel muito mais amplo. Não é de estranhar que a América do Sul suspeite. O governo Obama também não reverteu a decisão do governo Bush de reativar a Quarta Frota Naval dos Estados Unidos no Caribe, pela primeira vez desde 1950 -- uma decisão que causou preocupação no Brasil e em outros países.

O presidente Obama também manteve as sanções comerciais do governo Bush contra a Bolívia, que são vistas em toda a região como uma afronta à soberania nacional boliviana. E apesar do aperto de mão entre o presidente Obama e o presidente Hugo Chávez, o Departamento de Estado tem mantido o mesmo nível de hostilidade em relação à Venezuela que o presidente Bush manteve em seu último ano ou dois.

As políticas do presidente Obama foram rejeitadas suavemente porque ele ainda está em lua-de-mel. Mas ele está causando sérios danos às relações dos Estados Unidos com a América Latina, ao futuro da democracia e ao progresso social na região.

*Mark Weisbrot é co-diretor do Center for Economic and Policy Research de Washington e um autor respeitado nos Estados Unidos

Fonte: New York Times

::

Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: