quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Mona Lisa, dois sapatos e o cinismo no Congresso

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por Leonardo Sakamoto

Brasília – Uma imigrante russa, insatisfeita por não obter a cidadania francesa, foi até o Museu do Louvre e atirou uma caneca contra a Mona Lisa, o mais famoso quadro do mundo. A pobre moça de Da Vinci, que não tinha nada a ver com a história, foi elegante. Simplesmente continuou sorrindo.

A moda de jogar algo em sinal de descontentamento político não é nova. Desde que lançávamos cocô e pequenos pauzinhos em nossos inimigos, durante a pré-história, como forma de protesto, muita coisa foi jogada ou defenestrada até hoje. É claro que, com o tempo, essas manifestações têm se aprimorado, talvez por conta da visibilidade instantânea trazida pelos avanços da tecnologia da comunicação, talvez porque jogar coisas seja legal mesmo.

Por exemplo, há os grupos de confeiteiros sem fronteiras, que faziam pequenos ataques relâmpagos em eventos, lançando tortas no rosto de políticos. Combatiam sujeira com sujeira. Aqui em Brasília, faltaria chantilly.

Tempos atrás, uma liderança indígena arremessou um copo com água contra o deputado federal Jair Bolsonaro (DEM-RJ) aqui no Congresso Nacional. Perguntado o motivo de jogar água, disse que infelizmente estava sem flechas no momento. Bolsonaro, que sente saudades da Gloriosa, acha que índio é um risco à soberania nacional.

Poderíamos enumerar exemplos até cansar, mas uma coisa deve ser lembrada: o sucesso da operação depende não só da destreza de quem arremessa, mas também da incapacidade do alvo em desviar do petardo. Quando o jornalista iraquiano lançou seus dois sapatos contra George W. Bush durante uma coletiva à imprensa, não esperava que o então presidente norte-americano fosse ninja. A boa prática acabou sendo copiada em outros países, com algumas variações dependendo da cultura local. Mas mostrou que os políticos têm reflexos. Ou treinam para isso.

Difícil mesmo é quando acontece o contrário. Ou seja, políticos aparecem e, de repente, começam a lançar porcaria através da televisão, rádio, jornais, internet nos pobres eleitores. E não estou falando das refilmagens de O Poderoso Chefão em curso no Senado, mas sim das justificativas que vêm sendo dadas para o andamento de projetos que cortam direitos trabalhistas e diminuem a efetividade de leis ambientais.
Enquanto brigas aparecem nos noticiários, por baixo do pano continuam costuras e conchavos para mudar (para pior) a CLT e suspender a punição para quem desmatou além da conta (está última a plenos passos de se concretizar). No final, tortas, água e sapatos são mais leves que todo esse entulho que a gente tem que engolir.

E ainda sorriem.

Fonte: Blog do Sakamoto

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