segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Leider: Eu não sou bom com títulos

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EU NÃO SOU BOM COM TÍTULOS

por Leider Lincoln, em resposta a esse comentário que virou post

Diante de duas evidentes provocações do Azenha, resolvi não apenas pensar, mas ponderar sobre a atuação do nosso presidente eleito. Obviamente, não o fiz sobre as mesmas bases da direita acéfala e hidrófoba, mas como o eleitor de centro-esquerda que sempre fui e que votou no Lula --- no segundo turno -- desde sempre. Cheguei a alguns pontos de discordância, que gostaria de compartilhar com vocês:

* O Bolsa Família não tem uma porta de saída clara:

Indiscutivelmente, e contra fatos não é inteligente se argumentar, o bolsa-família teve o mérito de erradicar a fome enquanto problema social, além de contribuir muito para a diminuição da miséria e da pobreza. Todavia embora haja iniciativas tópicas muito interessantes, como o Programa de Territórios Rurais, o output dos beneficiários não é claro nem co-prioritário, pois programas de educação, qualificação profissional e microcrédito são apenas pontuais.

* Manteve-se o Henrique Meireles na presidência do BACEN, no segundo mandato:

Se por um lado a escolha da raposa goiana foi importante para, em um primeiro momento, manter o “mercado” e o galinheiro calminhos, no segundo mandato não havia justificativa para ele continuar. Se não um economista de linha mais heterodoxa, como o Pochman, ao menos o Delfim Netto deveria ter sido posto no comando do BACEN. Os erros de política monetária e cambial do BACEN beiram o amadorismo servil.

* Não se fez a reforma política e administrativa:

A suplência senatorial, o mandato de oito anos ou em última instância, a própria existência do Senado, são erros que já deveriam ter sido corrigidos [extintos], da mesma forma, o voto obrigatório. A possibilidade de “deseleição”, a criação, ampliação das facilidades e dos usos de plebiscitos convocatórios e revogatórios, os quais não deveriam ter de ser referendados pelo Congresso. E outra, o sistema de voto nominal deveria ter sido substituído pelo de lista partidária. Do ponto de vista administrativo, as malfadadas “agências”, sistemas de controle paralelo da administração pública instituído por FHC deveriam ter sido extintas, bem como ter sido instituído um sistema de controladoria e auditoria fortes e efetivos, para os três poderes.

* Não se fez a reforma do Judiciário e do sistema legal:

A escolha dos ministros dos tribunais superiores é uma indecência: apenas juízes e promotores de carreira poderiam ser indicados e juízes, delegados e promotores deveriam ser eleitos, com mandato fixo. Tribunais de conta poderiam ter sido extintos. O código de processo civil e criminal são verdadeiros convites à impunidade e ao crime.

* Modelo elétrico equivocado:

Construir mega-hidrelétricas para mineradoras na Amazônia e no Brasil Central não é necessariamente uma política energética. Usinas nucleares deveriam ter sido uma solução a ser considerada, bem como incentivo vigoroso para o uso de energias renováveis, como solar, eólica e maremotriz. O adiamento do início da livre concorrência nos setores elétrico e de telecomunicações foram também uma concessões desnecessária e lesiva aos consumidores.

* Políticas públicas mal definidas:

A política indígena se resumiu a discussão das reservas, sem evoluir para a educação, saúde e preservação cultural dos nativos; a aplicação das leis de defesa do meio ambiente sofreu baques de iniciativas dos grileiros; a política agrária não avançou para além da discussão creditícia, ficando os transgênicos e modelo Revolução Verde inabaláveis no seu pedestal de exploração não-sustentável, causando os males de sempre. A política industrial -- se é que existe uma -- não usa as sinergias possíveis entre nossos agora vastos recursos petrolíferos e nossa capacidade técnico-científica para alavancar os setores químico, petroquímico e metal-mecânico. Devemos urgentemente superar a condição de meros exportadores de commodities. E isso sem se falar no sistema de radiodifusão e telecomunicações, com a manutenção de antigos privilégios e a instalação de um prócere das oligarquias midiáticas -- o Hélio Costa -- no comando das Telecomunicações.

Deve haver outras críticas possíveis e necessárias e posso ter falado bobagens, é evidente. O fato é que sim, é não apenas possível como desejável que os eleitores, cidadãos brasileiros, reflitam sobre as possibilidades que tivermos, sobretudo no primeiro turno, por que realmente o Brasil está além de um punto fijo. Além disso, ainda que não de maneira a fazer o jogo da direita africânder, entreguista e hidrófoba, é sempre necessário manter a mente livre e o coração atento para todas as demandas e todas as opções.

LinkDe toda forma, é evidente que estávamos descambando para o Fla x Flu, em sua versão demo-tucanos x petistas, mesmo sem a maioria de nós [eu, por exemplo] pertencer a quaisquer destes campos. Neste sentido, a blogosfera colocou, para as pessoas de talento que ousaram desafiar as novas possibilidades de criação e comunicação que se lhes apresentaram, um desafio que de início, sequer ousaram sonhar: não o de conviver com a crítica e/ou o contraditório [posto que fazem parte do jogo democrático], mas o de tolerar a irreflexão e a boçalidade. Por isso este debate é tão difícil: se critico o modelo, sou petista. Se critico o governo, sou demo-tucano. Se pondero, sou pusilânime. E se escrevo, tenho que agüentar os socket puppets. Mas se eu calo, outros falam por mim. E isso nenhum de nós deveria aceitar.

Fonte: Vi o Mundo

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