domingo, 22 de março de 2009

Um programa de concentração financeira

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É o resgate, em si, um "esquemão"?

por Paul Craig Roberts*, no Counterpunch

O professor Michael Hudson (leia aqui) está correto: a revolta orquestrada sobre os 165 milhões de dólares em bônus pagos pela seguradora AIG foram uma forma de desviar atenção de um roubo mil vezes maior de dinheiro do contribuinte, de aproximadamente 200 bilhões usados no resgate da AIG. É uma manobra que serve um objetivo importante. Ensinou a um público desatento que as elites usam o governo para seus próprios interesses privados.

Os americanos sentem raiva dos executivos da AIG que deram a si próprios milhões de dólares em bônus depois de terem custado aos contribuintes uma soma exorbitante. O senador Charles Grassley deu uma cara adequada à raiva quando disse que os executivos deveriam "seguir o exemplo dos japoneses, renunciar e cometer suicídio".

Ainda assim, o economista da Casa Branca de Obama, Larry Summers, que era secretário do Tesouro no governo Clinton quando a desregulamentação escapou de controle, invocou a "santidade dos contratos" em defesa dos bônus da AIG.

Mas o governo Obama não considera outros contratos sagrados. Especificamente: os sindicatos tinham concordado em corte de salários para que as companhia automobilísticas obtivessem ajuda federal; a CNN informa que "o secretário de assuntos dos Veteranos de guerra, Eric Shinseki, confirmou na terça-feira 10 que o governo Obama está avaliando um plano que vai forçar os veteranos a pagar por tratamentos relacionados ao serviço militar com seguros privados"; o Washington Post informa que uma equipe do Obama está se preparando para cortar a Previdência Social e o Medicare.

De acordo com o jornal, Obama disse que "é impossível separar as dificuldades financeiras do país da necessidade de longo prazo de controlar os custos da saúde, estabilizar a Previdência e prevenir que o programa do Medicare cause a falência do governo".

Depois do resgate trilionário dos bancos e da doação trilionária de dólares para garantir os lucros da indústria militar e a expansão territorial de Israel, não há dinheiro para a Previdência e o Medicare.

O governo americano rompe os contratos com os cidadãos americanos diariamente, mas os contratos envolvendo os bônus da AIG são sacrossantos. O contrato da Previdência Social foi rompido quando o governo decidiu taxar 85% dos benefícios. Foi rompido novamente quando o governo Clinton manipulou os índices inflacionários para tirar dos aposentados seus aumentos.

[...]

Os planos de resgate de Bush e Obama devem ser seriamente investigados. Foram mesmo necessários ou foram um golpe, como o das "armas de destruição em massa", usado para avançar interesses privados por trás de uma parede de medo? Recentemente ouvi a professora Elizabeth Warren, integrante do comitê do Congresso que supervisiona o resgate, dizer no rádio que os Estados Unidos tem muitos bancos. Depois da crise financeira, ela disse, deveria haver consolidação do setor financeiro resultando em alguns megabancos. Era esse o objetivo do resgate, o de dar dinheiro do contribuinte para um programa de concentração financeira?

*Paul Craig Roberts foi secretário-assistente de Tesouro do governo Reagan.

Fonte: Vi o Mundo

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