sábado, 21 de março de 2009

Pochmann: Em busca de uma nova agenda civilizatória

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de Marcio Pochmann, em seu novo livro, Qual desenvolvimento?

Desde a década de 1930, com o início da transição da sociedade agrária para o Brasil urbano-industrial, o homem tornou-se ainda muito mais produtivo, com novas formas de organização do trabalho e avanços tecnológicos intrínsecos ao trabalho manufaturado, inteligentemente percebidos por Charles Chaplin em Tempos Modernos.

Na sequência da elevação da expectativa de vida acima dos cinquenta anos, assistiu-se à diminuição do tempo de trabalho, com a postergação do ingresso na vida laboral para 15 anos de idade e a saída após 35 anos de contribuição para aposentadoria. Se for levada em conta a regulação do tempo máximo de trabalho (48 horas semanais, férias, descanso semanal, feriados), a jornada decaiu de 5 mil para 2 mil horas por ano, o que permitiu que o peso do trabalho fosse reduzido para cerca de 1/5 do tempo total de vida.

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Justamente por conta desses ganhos de produtividade, a constituição da sociedade pós-industrial favorece tanto o crescimento da expectativa de vida para além dos cem anos de idade como a diminuição do peso do trabalho para somente 5% do tempo total de vida. Para isso, o ingresso na vida laboral deveria ser postergado para além dos 25 anos de idade e a jornada semanal chegar às 12 horas.

O que já é tecnicamente possível encontra pela frente uma enorme barreira atrelada à ignorância, à mesquinhez e à mediocridade histórica, que continuam impedindo a proliferação de diversas modalidades emancipatórias da condição do trabalho humano. Nos mesmos termos em que não mais de 1,5 milhão de clãs familiares centralizam quase 2/3 da riqueza de todo o mundo, concentrada pela unificação do poder econômico de um grupo de pouco mais de mil corporações transnacionais, as classes trabalhadoras continuam a ser condenadas à exclusiva luta pela sobrevivência.

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A sociedade da nova economia está em construção, permeada por doenças profissionais depressivas, pela solidão e pela devastadora crise de sociabilidade. A escassez do trabalho autônomo (socialmente útil) parece inegável e constrangedora. Somente uma nova agenda civilizatória poderá fazer as pazes com os avanços materiais do século 21.

Fonte: Vi o Mundo

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