domingo, 22 de março de 2009

Passeata antimáfia: 150 mil participantes e 30 países representados.

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Saviano na passeata de ontem em Napolis.

foto: La Repubblica - Saviano na passeata de ontem em Napolis.

por Wálter Fanganiello Maierovitch

Todos os anos a Associação Libera, uma organização não governamental, promove uma manifestação voltada a difundir a cultura antimáfia. Ou seja, contra a criminalidade organizada, a violência e pela consolidação da cidadania. Nos últimos dois anos, saíram de Torino (Itália), sede da Libera, as chamadas caravanas antimáfia, com operadores a dialogar com as comunidades, seguindo-se de apresentações de peças teatrais e show musical.

Ontem, a Libera organizou uma passeada em Napolis, berço da potente Camorra e objeto do best-seller do jornalista Roberto Saviano, intitulado Gomorra. O livro foi adaptado ao cinema e virou um sucesso de bilheterias.

Saviano, –jovem jornalista do La Repubblica–, vive “blindado”. Há pouco, –como já noticiado neste blog– contou ser vigiado 24 horas. Isto porque a Camorra, –pelo sucesso da sua obra e da produção cinematográfica–, já assinou a sua sentença de morte.

Para se ter idéia, o apartamento onde vive Saviano tem, em todas as dependências, câmeras coletoras de imagens. Durante o tempo que permanece em casa, Saviano é observado por policias. Algo como acontece com o programa televisivo “Big Brother”, na Itália denominado Grande Fratello.

A passeata de ontem, intitulada “14ª. Jornada da Memória”, teve trajeto de 2,5 km. A meta era recordar as vítimas da criminalidade organizada: no últimos ano, só na região da Campania, –cuja capital é Napolis–, foram 500 assassinatos.

Na frente do cortejo, com cartazes, estavam membros a representar 480 famílias de vítimas.

Para a polícia que acompanhou à distância a passeata, foram 150 mil os participantes. Estavam presentes 30 estrangeiros, a representar seus países: este ano, infelizmente, não pude estar presente à jornada da memória pois permeneci no Brasil para acompanhar o julgamento da extradição de Cesare Battisti. Apenas estarei presente às solenidades do aniversário de morte do juiz Giovanni Falcone, em 23 de maio, na cidade de Palermo: todos os anos, um navio aporta em Palermo com estudantes de várias cidades e escolas italianas.

Defronte à cental piazza Plebiscito estava montado um palanque com equipamento de som. Foi realizada a leitura de nomes de vítimas. Dentre os mais de 900 nomes declinados, estava o da jornalista Anna Politkovskaya (confira abaixo “post” neste blog sobre o seu assassinato em Moscou e a farsa do julgamento por Júri popular russo, com a absolvição dos mandantes).

A grande surpresa acabou sendo o aparecimento, de improviso, de Roberto Saviano. Um segredo guardado por don Ciotti, que preside a Libera. Saviano, que é napolitano, leu alguns nomes de vítimas que conheceu. Por segurança, não ficou mais do que cinco minutos no palco.

Um demorado aplauso ocorreu quando do discurso feito por Alessandra Clemente, filha da assassinada Silvia Ruotolo, de 39 anos. Silvia foi morta pela Camorra, conforme recordou Alessandra, quando acompanhava a filha à escola elementar. Havia a suspeita de que ela contara informalmente à polícia um fato camorrístico que havia presenciado.

Fonte: Blog Sem Fronteiras - de Wálter Fanganiello Maierovitch

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