domingo, 15 de março de 2009

O Viomundo vai mudar

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por Luiz Carlos Azenha

Na semana que se encerra meus caros leitores e leitoras deram a este site a maior audiência desde que ele estreou, em 2003, quando eu ainda era correspondente da TV Globo em Nova York. Em retrospectiva é quase inacreditável que o mundo tenha passado por tamanha transformação em tão pouco tempo.

Será que é cedo para a gente falar em "revolução digital"? Pode ser, mas que houve, houve. Aliás, ainda está em andamento. Na Casa Branca temos o primeiro presidente dos Estados Unidos que é ao mesmo tempo partícipe e resultado dessa revolução. De Washington veio, recentemente, uma boa notícia: Barack Obama indicou para dirigir a Federal Communications Commission (FCC) um defensor dos principios da Net Neutrality. O FCC é o equivalente americano do Ministério das Comunicações.

Resumo esses princípios: as empresas que controlam a infraestrutura da internet -- de telefonia, de TV a cabo -- não podem privilegiar alguns conteúdos em relação a outros; não podem criar pedágios no meio do caminho; não podem escolher o que vai "andar mais rápido" na rede.

É óbvio que isso me interessa, assim como -- presumo -- interessa a todos os internautas. Você quer que a página da Veja abra mais rapidamente que o seu blog? Quer que a Folha "compre" um jeito de fazer com que o áudio e o vídeo distribuído por ela ande mais rápido que o vídeo que você coloca no You Tube ou o áudio que você subiu em seu blog?

Os princípios da Net Neutrality, portanto, são grandes equalizadores, ao permitir que qualquer um de nós dispute leitores com os barões da mídia. É óbvio que continua sendo uma competição desigual. Eles dispõem de financiamento público, colocam seus veículos a serviço de interesses políticos e econômicos e, se você marcar bobeira, esmagam a concorrência. Mas poderia ser pior.

É por isso que eu os convido a se envolver na campanha contra o projeto do senador Eduardo Azeredo que, a título de combater a pedofilia e defender os direitos autorais, corre o risco de criminalizar atividades cotidianas dos internautas brasileiros. Infelizmente, no Brasil, ainda não temos na política um equivalente de Barack Obama, um político de projeção que tenha sido capaz de entender a lógica colaborativa, extremamente crítica e libertária da internet.

Quem quiser mais informações, vá ao blog do Sergio Amadeu.

Quem quiser ler o manifesto contra o projeto Azeredo, publiquei aqui.

Quem quiser assinar o manifesto, clique aqui.

Além da boa notícia vinda dos Estados Unidos, tivemos dois acontecimentos importantes no Brasil.

A manifestação promovida pelo Movimento dos Sem Mídia (MSM) diante da Folha de S. Paulo foi um deles. Pequena, numericamente, mas muito representativa. Muitos dos que foram ficaram entusiasmados com a repercussão. Eu me atrevo a dizer que foi a primeira manifestação política convocada pela internet que terá consequências práticas para o ativismo digital. Serve de exemplo.

Outro acontecimento foi a retirada do ar da TV Diário, a emissora cearense que conquistou público em todo o Brasil oferecendo programação regional. É um fato que tem consequências que vão além do mero sumiço de um canal de TV.

Para alguns milhares de brasileiros foi um choque de realidade: eles se descobriram sem controle sobre o que podem ou não ver na TV. Eles se deram conta de que estão à mercê de empresários com os quais não têm afinidades culturais. Eles se deram conta de que esses empresários controlam um bem público -- a concessão de TV pertence a todos nós -- mas nem sempre respeitam os verdadeiros donos da concessão.

É, acredito, o gatilho para a tomada de consciência: a comunicação é um "direito humano" tanto quanto a saúde e a educação.

É muitas vezes financiada com verbas públicas -- seja em dinheiro investido diretamente em redes educativas, seja em publicidade oficial nas emissoras privadas.

Chegou a hora, portanto, de que essas pessoas tenham voz e participem na hora de decidir a política nacional de comunicação; elas devem ajudar a decidir quanto e como os governos -- federal, estaduais e municipais -- gastam as verbas publicitárias e, através do Congresso, devem participar da formulação das regras para o setor de radiodifusão. Regras que atendam aos interesses educativos, culturais e regionais dos brasileiros.

Quem quiser mais informações sobre a Conferência Nacional de Comunicação -- a primeira --, clique aqui. A conferência terá eventos locais e regionais antes do grande encontro nacional.

É muito importante que as pessoas comuns se envolvam na conferência. Caso contrário, ela será completamente dominada pelos empresários, especialmente aqueles que só querem mais do mesmo.

Clique aqui para ouvir uma entrevista da Bia Barbosa, do coletivo Intervozes, a respeito.

Minha parte vou fazer: o Viomundo vai passar por algumas reformas para valorizar ainda mais as opiniões dos internautas e prestar alguns serviços que consideramos "essenciais".

Fonte: Vi o Mundo

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