terça-feira, 24 de março de 2009

A gestão da água

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por Amália Safatle
De Istambul, Turquia

Um elemento essencial, mas na maioria das vezes não lembrado, viaja ao redor do mundo na intensidade do comércio globalizado. A água. De acordo com o terceiro relatório das Nações Unidas (World Water Development Report), divulgado em 16 de março no 5º Fórum Mundial de Água, em Istambul, na Turquia, o fluxo global de água que atravessa o mundo na forma de commodities agrícolas é de 1,625 bilhão de metros cúbicos por ano, o equivalente a 40% do consumo total mundial.

O dado, entre muitos divulgados pelo relatório, serve para lembrar que a abundância de água em alguns lugares do planeta é relativa. Se o Brasil gaba-se de deter 12% da água doce do mundo, precisa levar em conta que tem exportado essa água à medida em que aumenta a escassez em outras partes do mundo. A água pode nascer local, mas o uso que o homem tem feito dela a transforma em um bem cada vez mais global.

Isso faz com que os países "exportadores" de água, como o Brasil, tenham que aprimorar continuamente suas formas de produçao para não vender o precioso bem em troca de "comprar" uma crise de escassez. Ou seja, que ao vender produtos para a China, que sofre secas em suas áreas agricultáveis em resultado de uma gestão inadequada dos recursos naturais, o Brasil não exaura seus próprios recursos, transferindo para si o problema - apenas para citar um exemplo.

Enquanto os países exportadores de água sofrem essa pressão, os importadores estão externalizando de forma significativa sua pegada ecológica de água, comprando bens agrícolas e industriais intensivos em água, isto é, que requerem grandes quantidades do líquido em sua produção. A afirmação é de Arjen Hoekstra, criador do conceito de pegada ecológica de água e diretor do Water Footprint Network.

Segundo ele, problemas de água são frequentemente ligados à estrutura global da economia. Mas essa abordagem não é suficiente. Diz respeito a consumidores, iniciativa privada e sociedade civil, que podem desempenhar um papel importante em busca de uma melhor gestão dos recusos hídricos.

Hoje, o gasto de água na produção de alguns bens é assustadora. Um quilograma de carne bovina, por exemplo, requer 16 mil litros de água. Para um copo de café, 140 litros. A pegada ecológica de água da China é de 700 metros cúbicos por ano, per capita. No Japão, de 1.150 metros cúbicos. E nos EUA, de 2.500. Para calcular a sua pegada de água, acesse:

http://www.waterfootprint.org/?page=files/WaterFootprintCalculator

Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.

Fale com Amália Safatle: amalia_s@terra.com.br

Fonte: Terra Magazine

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