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por Walter Maierovitch
No próximo domingo, será comemorado o Dia Internacional da Mulher.
Antes de o triunfalismo míope ocupar os espaços, convém, neste blog intitulado Sem Fronteiras, registrar que não está, infelizmente, ganha a luta pela emancipação da mulher, pela igualdade de direitos e de oportunidades. Neste ano, o 8 de março, numa visão planetária, deveria ser aproveitado mais para protestos do que para festas ou alienados “oba-oba”.
Onde impera a liberdade de expressão e de reunião, ou seja, nos estados democráticos de Direito, as praças deveriam ser usadas como pontos de uma network planetária de resistência e de indignação.
Alguns fatos, para ficar nos primeiros meses deste ano, são preocupantes.
–1.Roxana Saberi, 31 anos de idade, é jornalista. Já foi miss Dakota do Norte (EUA), onde nasceu.
Filha de mãe japonesa e de pai iraniano, Roxana resolveu praticar jornalismo no Irã e, há 6 anos, trocou os EUA pelo Irã, ou melhor, Dakota do Norte por Teerã.
Competente, passou a colaborador com a BBC, Fox-news e Npr.
Como já começou a batalha eleitoral para as eleições presidenciais no Irã, o trabalho de Roxana aumentou e ela começou atuar como free-lance. Nas horas vagas, dedica-se a escrever um livro sobre a sociedade iraniana. Roxana, em 2006, teve cassada a autorização para atuar como jornalista internacional, pois, como se sabe, as suas matérias não eram do agrado das autoridades iranianas. Em síntese, continuou a trabalhar como jornalista não autorizada.
Em fevereiro de 2009, Roxana foi presa e acusada de ter comprado uma garrafa de vinho de um vendedor clandestino de bebidas alcoólicas.
Segundo seu pai iraniano Reaza Saberi, residente há mais de 40 anos nos EUA, a esperança de a filha sair da cadeia não está na Justiça, cujo sistema é fundado na lei islâmica (sharia). Para ele, a pressão internacional funcionaria como habeas-corpus para a libertação da filha. E o momento mostra-se propício pela promessa de “abertura” de diálogo com o Irã, conforme a nova política externa anunciada por Barack Obama.
Ontem, o duro discurso da nova secretário de Estado, Hillary Clinton, deve ter desanimado o pai de Roxana. No “summit” para a reconstrução de Gaza, ocorrido no balneário egípcio de Shar el Sheik, Hillary disse que a mão será estendida ao presidente Ahmadinejad, mas abertos estarão os olhos”.
O processo contra Roxana corre em segredo e não tem ela direito de contratar um advogado-defensor da sua confiança.
Como qualquer véu sabe em Teerã, a prisão de Roxana deveu-se aos seus escritos e a compra de bebida alcoólica para consumo, de contrabandista, representou a ocasião para justificar formalmente a detenção.
No Irã, a acadêmica Haleh Esfandiari permaneceu 110 dias incomunicável em cárcere. Vamos esperar que o mesmo não suceda com Roxana.
–2.Ontem, a atriz afegã Paween Mushtakhel, de 41 anos, sofreu represália por parte dos talebans que não aceitam mulheres interpretando no teatro e na televisão. E os talebans têm força. Voltaram a controlar 75% do território e aguardam a chegada da nova guerra anunciada pelo presidente americano Barack Obama.
O marido da atriz Paween foi executada por milícias talabens, que lhe ameaçavam desde dezembro passado. Isto por não ter ele proibido a esposa de aparecer na televisão e em palco de teatro. Ao sair da sua casa, acabou fuzilado.
A atriz Paween, no funeral, alertou que bailarinas, cantoras e atrizes são alvos preferenciais dos talebans.
–3. O governo paquistanês rendeu-se ao fundamentalismo sunita, no final de fevereiro. No vale do Swat o governo aceitou a constituição de independentes cortes islâmicas de Justiça, organizadas pelos talebans. Em outras zonas, ela funcionam sem reconhecimento do governo.
Pela jurisprudência dessas cortes devem ser fechadas as escolas para mulheres e as salas de cinema.
Especialistas na análise do fundamentalismo xiita e sunita, destacam o encolhimento dos islâmicos moderados. Mais ainda, falam em expansão do radicalismo islâmico pela Somália, Nigéria, Bósnia e Indonésia.
Como resultado, as mulheres perdem direitos e voltam a ser excluídas. Em outras palavras, nada de emancipação da mulher e nada de música e de bebidas alcoólicas.
–4. A jornalista Anna Politkovskaya, –filha de diplomatas soviéticos e nascida em 1958 em Nova York–, trabalhava no jornal russo Novaja Gazeta. Ela produziu diversas matérias contundentes sobre violações a direitos humanos na Chechênia e responsabilizou o então governo do presidente Putin.
Politkovskaya ficou conhecida pela coragem de desafiar Putin e começou a ser chamada de a jornalista anti-Putin.
Em represália, ela foi assassinada em 7 de outubro de 2006. Isto por pistoleiros contratados supostamente pelo serviço secreto, com um coronel da agência de inteligência que substituiu a KGB a fornecer o endereço de Politkovskaya.
Na última semana de fevereiro passado, um Júri popular absolveu os três acusados ( o executor dos disparos foi julgado a revelia, pois está foragido) de executarem o crime.
O motivo da decisão é que os três reús, que são irmãos, atuaram como executores e a acusação não fez qualquer referências aos mandantes.
Ninguém duvida de o julgamento ter sido uma farsa e o caso continua sem solução.
–5. Ganhadora do Nobel da Paz de 1991, a ativista Aung San Suu Kyu, de 62 anos de idade, foi colocada em prisão fechada depois do golpe militar na Birmânia, hoje Mianmar. Em 2002, acabou posta em prisão domiciliar, incomunicável.
Ela era a líder do partido de sigla NLD, que ganhou as eleições parlamentares e seria a primeira-ministra. Com o golpe, a Birmânia virou uma narcoditadura militar..
A Junta de corruptos generais, que governa por meio de um presidente e de um premier, dá sustentação ao tráfico internacional de heroína e de anfetaminas. Myanmar é o maior fabricante e fornecedor ilegal de drogas sintéticas para a Ásia.
Na ex-Birmânia viveu, sem ser molestado até a morte em novembro de 2007, o “Rei da Heroína e das Drogas Sintéticas”, chamado Khun Sa. E a Birmânia é conhecida internacionalmente como Narco-Estado.
Depois dos massacres a monges budistas que saíram em passeata silenciosa em protesto à caristia em setembro de 2007, as Nações Unidas esboçaram reação e o secretário geral designou um enviado que, depois de muitas tratativas, esteve na residência-prisão de Aug.
O assunto morreu em 2007 e Aung continua sem liberdade de locomoção e de expressão.
Fonte: Terra Magazine - Blog do Wálter Fanganiello Maierovitch
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