segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Mídia censura pai de Nayara

por Eduardo Guimarães

A orquestração dos grandes meios de comunicação para impedir que se conheça os fatos sobre a ação inepta da polícia militar paulista que terminou em tragédia na última sexta-feira chega às raias do inacreditável num país democrático em que a Constituição garante o direito à informação e à liberdade de expressão.

Venho a vocês, cidadãos e cidadãs de todas as partes deste país, denunciar um processo claro de violação dos direitos constitucionais de um nosso congênere, o cidadão Luciano Vieira da Silva, pai de Nayara, vítima do seqüestro em Santo André que lhe custou um tiro no rosto.

Grandes meios de comunicação como a Rede Globo e o jornal Folha de São Paulo, entre outros, vêm mentindo e censurando o senhor Silva e divulgando flagrante mentira do comandante da operação policial da qual as meninas de Santo André foram vítimas, o coronel Eduardo José Felix, que, por mais de uma vez, afirmou na tevê que recebeu autorização dos pais de Nayara para que ela voltasse ao cativeiro em que Lindemberg Alves, o seqüestrador, mantinha Eloá, sua ex-namorada, que viria a assassinar.

No vídeo acima, você pôde assistir parte da cobertura do mesmo Jornal Nacional no qual o comandante da PM já afirmara que teria recebido autorização dos pais de Nayara para enviá-la para negociar com o seqüestrador, apesar de que tal decisão, por força da lei, não cabia a ninguém – nem aos pais, nem às autoridades –, porque as leis vedam que se exponha menores de idade a risco daquela envergadura.

Não se consegue entender como é possível que alguém que tenha tanto a revelar quanto o pai de Nayara não tenha tido espaço na tevê igual ao que foi concedido à PM paulista e ao seu chefe, o governador José Serra, para o pai da moça dizer tudo que havia dito ao jornal O Estado de São Paulo, que furou o resto da grande mídia de Serra e deixou escapar (com mínima visibilidade) matéria na qual ficam claras a ilegalidade da ação da PM e as mentiras contadas por seu comandante.

Vejam o que o pai de Nayara havia dito ao Estadão:

O Estado de São Paulo

Pai de Nayara foi expulso de QG de negociações

O pai de Nayara, o metalúrgico Luciano Vieira da Silva, foi expulso na noite de anteontem da Central de Negociações da Polícia Militar, montada em uma escola estadual ao lado do conjunto habitacional onde a jovem Eloá era mantida refém pelo ex-namorado desde segunda-feira. Ele cobrava informações da filha. Estava nervoso. Parecia inconformado com a volta da menina ao cativeiro. Previu o pior. Sua filha foi atingida na operação de resgate, machucou a boca, sangrou, mas passava bem.

Silva chegou ontem ao local do seqüestro por volta do meio-dia. Ainda não havia obtido informações sobre a filha. Nayara foi feita refém por Lindembergue Alves juntamente com Eloá. Depois de 33 horas de terror, foi solta. Anteontem, porém, o Comando da Operação decidiu atender o pedido do seqüestrador e mandou Nayara de volta ao apartamento que servia de cárcere. A manobra foi chamada pela policia de "estratégia de negociação".

A última informação que Luciano Vieira da Silva teve da filha foi dada às 23h30 de anteontem, quando discutiu com policiais militares porque queria conversar com o chefe do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), que comandava as tratativas com Lindembergue Alves. Diante da recusa, o metalúrgico se revoltou. Disse que iria procurar seus direitos. Ainda segundo ele, um dos policiais do Gate o avisou para parar de reclamar e de gritar. Estava atrapalhando. Todos ficaram nervosos. "Foi quando ele me disse para eu procurar os meus direitos e me mandou embora."

Expulso do local, Luciano Vieira da Silva foi escoltado por homens da Tropa de Choque até o cordão de isolamento. Juntou-se aos comuns. O avô da menina, José Vieira da Silva, de 61 anos, presenciou a história. Vieira chegou a chamar a operação de "palhaçada". "É a primeira vez que eu vejo uma pessoa que foi refém e acabou libertada do seqüestrador voltar ao cativeiro."

POR CONTA PRÓPRIA

Ele garantiu que os negociadores não pediram autorização para mandar sua filha de volta. Soube somente por uma emissora de televisão que a menina retornaria ao apartamento da família de Eloá. O pai foi informado pelo Comando das Operações que Nayara não era considerada refém. O Secretário Geral do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), Ariel de Castro Alves, avisou Vieira da Silva que sua filha não poderia ter voltado nem com sua autorização.

O comandante da operação alegou que Nayara decidiu voltar ao cativeiro por conta própria. A notícia não foi confirmada pelo seu pai, que ontem ainda buscava informações sobre o que ocorreu.

A matéria do Estadão se coaduna com outra divulgada pelo Portal Terra que diz o seguinte:

Terra

Pai de Nayara desmente PM

O pai da adolescente Nayara, Luciano Vieira da Silva, afirmou que nem ele nem a mãe da menina autorizaram a entrada dela no apartamento da amiga Eloá, feita refém pelo ex-namorado desde as 13h30 de segunda-feira. A ação ocorre em um conjunto habitacional de Santo André, na região do Grande ABC Paulista.

"Isso é uma palhaçada. Eu nunca vi uma coisa dessas", disse Silva. De acordo com ele, Nayara teria entrado no apartamento por sua vontade, além do pedido do próprio suspeito. O pai afirmou que tomará providências junto ao Conselho Tutelar. Silva disse ainda que foi expulso da base da Polícia Militar após pedir satisfações ao comando da corporação sobre a situação da filha. (...)

Mais escandalosa, porém, é a “entrevista” com o pai de Nayara publicada neste domingo pela Folha de São Paulo. Em três parágrafos, o jornal reproduziu declarações lacônicas do pai da menina que contrariam a indignação que ele vinha manifestando e que levam a crer em manipulação de tal “entrevista”. Vejam:

Folha de São Paulo

FOLHA - O sr. já teve contato com sua filha? Como foi?

LUCIANO VIEIRA DA SILVA - Estive no hospital pela madrugada [de ontem] e já até conversei com ela. Graças a Deus, foi um alívio. Conversamos apenas sobre a cirurgia, que correu tudo bem. Ela estava tranqüila, mas sedada. Por isso, não conseguia falar normalmente.

FOLHA - O que o sr. achou do fato de ela ter voltado ao apartamento, para ajudar na negociação?

SILVA - Só gostaria de falar disso depois de conversar com ela sobre o assunto. Por enquanto, só falamos sobre a cirurgia.

FOLHA - O sr. teve problemas para receber informações de sua filha quando ela voltou ao apartamento onde Eloá era feita refém?

SILVA - O problema foi anteontem [quinta-feira]. Fiquei o dia todo na escola onde a polícia montou sua base, procurando informações. Ninguém me falava nada. Isso aumentava muito a nossa aflição.

Como se não bastasse a mentira repetida várias vezes na tevê e nos jornais pelo comandante da PM de que “os pais” de Nayara teriam dado “permissão” para ela ser colocada de novo ao alcance do seqüestrador que a tinha libertado pouco antes, outra afirmação também tem sido repetida incessantemente pelo mesmo comandante: a polícia teria invadido o apartamento porque Lindemberg teria disparado sua arma. Notem, no vídeo abaixo, que a Globo submeteu o vídeo da ação da polícia a peritos que afirmam que Lindemberg só disparou sua arma depois de a polícia ter explodido a porta do apartamento. Porém, a emissora não pede aos peritos que digam se houve mesmo algum disparo antes da invasão, mesmo sendo óbvio que isso não aconteceu.



Fonte: Cidadania.com

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