quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A COMPETIÇÃO NA FRENTE DA QUALIDADE

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por Leila Cordeiro

Tenho acompanhado as notícias sobre os números da audiência na TV aberta e cheguei à conclusão de que nunca se produziu tão pouco e se competiu tanto como agora. Eu explico, relembrando alguns aspectos da história da televisão no Brasil.

Houve uma época, lá no início da TV, em que os programas ao vivo eram um desafio diário para as emissoras. Afinal, não havia ainda no mercado brasileiro o" know how" da sofisticação das TVs americanas. Então o jeito era criar, improvisar. Daí é que surgiram os grandes profissionais, atrás e na frente das câmeras, que fizeram escola e criaram estilos.

A Tupi, a poderosa do início da TV, final dos 50, início dos 60, perdeu o fôlego e foi ultrapassada pela Globo que chegou discretamente e já "foi sentando na janela", como diria o ditado popular. Inventou o "padrão de qualidade" em suas produções, criou e contratou gente competente e conseguiu criar o "hábito" no dia a dia do público que se acostumou a ver TV na Globo… e pronto!

O tempo passou. A política mudou. Muros caíram, ditaduras também. Os monopólios tiveram que render-se a democratização das idéias e costumes. A globalização tomou conta dos corações e mentes do mundo e o jeito foi recriar a TV. Ou seja, com o aparecimento de novas idéias e emissoras a mudança de canal passou a fazer parte também da vida do telespectador.

A rede Manchete surgiu como uma alternativa chic, com programas voltados para a cultura com especiais bem produzidos sobre artistas e músicos. No início, a rede dos Bloch parecia estar no caminho certo. Tanto é verdade que Pantanal foi a novela que revolucionou o mercado da teledramaturgia na década de 90. Mas depois a Manchete acabou morrendo na praia.

Silvio Santos também acertou na época e fez uma grade de jornalismo onde a grande estrela, o "Aqui Agora", mostrava o lado da violência na cidade grande com repórteres que corriam, gritavam, discutiam, choravam acompanhados de câmeras nervosas que balançavam e saíam de foco. Tudo em nome do flagrante da notícia. Da vida como ela é nas ruas e no sufoco dos acontecimentos.

Mas nem a Manchete nem o SBT representaram de fato uma ameaça concreta à hegemonia da Globo naquele período. Com um ou outro fato isolado, elas conseguiam de vez em quando a chamada "audiência de oportunidade", isto é, novidades em programas diferentes que no primeiro momento chamavam a atenção, depois caíam na mesmice e as emissoras voltavam ao fim da fila.

Correndo por fora chegou a Record, que aderiu à fórmula da vencedora e foi à luta atrás de um lugar ao sol no sofá da audiência. Conseguiu e está conseguindo incomodar a antiga liderança oferecendo um jornalismo forte e competitivo, novelas ousadas, eventos. Enfim, o feitiço virou contra o feiticeiro. A Record pegou a receita e está fazendo um menu mais ágil e criativo para o paladar do telespectador.

Mas, assim mesmo está faltando algo mais na criatividade da TV. É aí que chego onde eu queria. Com tantos altos e baixos e a guerra diária de "quem ganhou tantos pontos e está na frente de quem", é que as emissoras estão, aos poucos, trocando a qualidade de seus programas pelo imediatismo de produções mais fáceis de serem assimiladas.

Os reality shows estão mandando, cada vez mais, no pedaço e o que eles são? Imitação dos estrangeiros. Reexibição de novelas, como Pantanal vem alavancando audiência, apenas reproduzindo um roteiro, praticamente sem custo, só mesmo o da compra dos direitos de exibição, que, segundo dizem, foi uma pechincha pois as fitas com os capítulos gravados já estavam se deteriorando no acervo da massa falida. Mas e daí? O que importam são os números!

O fato é que hoje na TV brasileira é grande a crise de criatividade, afinal a Internet e a competição acirrada não dão tempo para o criador pensar, imaginar,sonhar. Portanto, se a qualidade não correr junto com a maquininha que registra a audiência...nada feito! Continuaremos na mesma.




Fonte: Direto da Redação

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