sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O PCC decidiu reduzir homicídios em SP: atrapalha os negócios

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Na foto, Marcola em demonstração explícita de poder

Na foto, Marcola em demonstração explícita de poder


por Paulo Henrique Amorim

A queda dos índices de homicídio em São Paulo na última década pode ter uma explicação que vai além da propaganda oficial de eficiência da política de segurança pública. O PCC (Primeiro Comando da Capital) que já teve sua extinção anunciada – e nunca comprovada – pelo governo estadual não quer mais mortes: elas prejudicam o tráfico de drogas, seu principal negócio.

Essa explicação aparece em um estudo desenvolvido pela socióloga Camila Nunes Dias para uma tese de doutorado que ela desenvolve na USP. A pesquisa se desenrola há dois anos, mas a vivência de Camila com o sistema prisional paulista é mais antiga.

Em 2001, ainda nos tempos de graduação, Camila foi voluntária na Casa de Detenção, experiência que a levou a desenvolver um mestrado sobre a influência da religião dentro dos muros do presídio. Desse trabalho surgiu o livro “A Igreja como Refúgio e a Bíblia como Esconderijo”. No doutorado, analisa as transformações ocorridas no sistema prisional nos últimos 20 anos.

“O PCC é um vetor fundamental para entender esse processo. É um divisor de águas do sistema prisional, que pode ser visto como antes e depois dele”, disse Camila em entrevista por telefone ao jornalista Alberto Ramos, editor do Conversa Afiada.

A elaboração do estudo contou com a participação de 31 detentos – entre integrantes e ex-integrantes da facção criminosa – que foram entrevistados por Camila. Entre suas principais conclusões, a pesquisadora identificou a consolidação do PCC como poder paralelo, no sistema prisional e fora dele.

A organização controla a rotina dos presídios paulistas e responde pela maior parte do tráfico de drogas no Estado de São Paulo. “Nenhum assassinato ocorre sem a autorização da cúpula do PCC”, afirma Camila. Ela frisa que a redução de homicídios no Estado coincide com consolidação do poder do grupo, uma estratégia que o aproxima de organizações criminosas tradicionais, como a Máfia e a Camorra italianas. Em contrapartida, os índices mais altos de violência – e as grandes rebeliões, como a de 2006 – estão relacionadas à escalada da facção para firma-se no mundo do crime.

“O Estado divide poder hoje com o PCC no sistema prisional”, diz Camila. “ E eu não vejo, a curto prazo, como o Estado poderá combater o PCC”, completa. O estudo, diz ela, mostra uma realidade preocupante: a política de encarceramento cresce sem parar e não consegue reduzir a criminalidade. “Há um investimento maciço em novas unidades prisionais, mas a demanda sempre aumenta e essas unidades estão sempre superlotadas. Deveria haver uma política de Estado, com participação do Judiciário, para que as penas de prisão não sejam aplicadas indiscriminadamente”, pontua.

O excesso de penas de prisão, que atingem pessoas que cometeram crimes leves, como roubos de bens de baixo valor, apenas contribui para aumentar a clientela do PCC, raciocina Camila.

Fonte: Conversa Afiada

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