sábado, 15 de agosto de 2009

O caos na segurança pública paulista. É só ligar os pontinhos

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A anotação no pé da página: Marcondes Perillo, gov.? Uma referência a Marconi Perillo, ex-governador de Goiás, que os tucanos queriam emplacar na presidência do Senado para substituir José Sarney.


por Luiz Carlos Azenha

Quantas crises, caos e apagões tivemos no Brasil em anos recentes? Tivemos o caos aéreo, o apagão elétrico, a crise da febre amarela, o fim dos tempos econômicos e o apagão moral no Senado. Curiosamente, todas essas foram crises federais. Como se sabe, não existem crises, caos ou apagões em São Paulo. Temos o caos no trânsito quando o MST decide se manifestar nas ruas da capital, mas do contrário temos "excesso de veículos".

Por que? Porque o roteiro de um certo projeto político, apoiado na Globo, Veja, Folha e Estadão, parte do princípio de que, em 2010, teremos o "resgate gerencial" do Brasil. Nas palavras de Paulo Henrique Amorim, um choque de gestão. Só um néscio apostaria as fichas de uma grande empresa de comunicação na simples omissão de notícias, em tempos de internet.

Não, elas são dadas de forma descontextualizada. Como se fossem a exceção, quando são a regra. Podemos dizer, sem medo de errar, que há um caos na segurança pública de São Paulo. Podemos dizer, sem medo de errar, que se o governador de São Paulo fosse qualquer outro o assunto mereceria copiosa -- e justa -- cobertura de todos os veículos.

Tivemos o caso do traficante colombiano Juan Carlos Abadía, que descreveu a extorsão que sofreu nas mãos da polícia paulista. Tivemos o escândalo que derrubou o secretário de Segurança, cujos assessores foram acusados de oferecer "facilidades" a policiais corruptos. Eu mesmo, na condição de repórter, cobri a prisão de um dos mentores do assalto ao Banco Central de Fortaleza, que disse ter pago mais de um milhão de reais a policiais paulistas para ficar solto. Tivemos o gravíssimo confronto entre as polícias diante do Palácio dos Bandeirantes. E, nas últimas horas, tivemos o grave caso de uma investigação -- da qual participou a Casa Civil do governo Serra -- que omitiu empresas ligadas ao ex-governador de Goiás, Marconi Perillo.

Assim a Folha noticiou:

Acusados de fraude na saúde "somem" de investigação

Empresas tidas como "peças-chave" do esquema de corrupção não estão em inquéritos

Esquema que desviou cerca de R$ 100 milhões foi denunciado sem citar Halex Istar e Embramed Indústria de Produtos Hospitalares

ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL


Quase um ano após terem sido apontadas pela Polícia Civil de São Paulo e pelo Ministério Público como suspeitas de encabeçar um esquema de fraude em licitações na saúde, não há nenhuma investigação policial ou processo em andamento atualmente contra duas empresas do setor hospitalar.

Durante meses, as investigações trataram as empresas Halex Istar Farmacêutica e Embramed Indústria de Produtos Hospitalares -além de seus donos- como "peças-chave" no esquema, mas quando a denúncia foi feita à Justiça elas não foram citadas no processo.

Nos documentos da chamada Operação Parasitas, o promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro informou à Justiça, em dezembro de 2008, que as duas empresas seriam investigadas à parte pelo delegado Luís Augusto Castilho Storni, em dois inquéritos policiais.

Certidões obtidas pela Folha na Justiça, no entanto, demonstram que isso não ocorreu -dois inquéritos foram abertos, mas em nenhum há os nomes das empresas.

Na denúncia feita à Justiça em dezembro de 2008, 13 pessoas e seis pequenas empresas viraram rés em processo. Nenhuma era a Halex ou a Embramed.

Elas foram citadas em duas notas de rodapé -com a informação de que seriam investigadas à parte.

Investigação
A Operação Parasitas, que durou de setembro de 2007 a novembro de 2008, investigou um esquema de corrupção que desviou cerca de R$ 100 milhões entre 2004 e 2008, segundo o governo estadual. A investigação foi feita pela Polícia Civil, pelo Ministério Público Estadual e pela Casa Civil do governo paulista. Segundo a apuração, Halex Istar Farmacêutica e a Embramed Indústria de Produtos Hospitalares repassavam seus produtos para firmas menores, que participavam das licitações fraudadas. Em alguns casos, as duas cometiam, segundo as autoridades, as fraudes diretamente.

Concorrência
Com base na investigação da polícia, o juiz Vinicius de Toledo Piza Peluso, do Tribunal de Justiça de SP, escreveu, no fim de outubro de 2008, que a Halex manipulou uma concorrência no Hospital Pérola Byington. A empresa é acusada de vender soro com valor 308% mais alto do que a menor oferta -R$ 1,22 a unidade contra R$ 4,99, em agosto de 2007.

Escuta telefônica demonstra que um dos sócios da Halex, Zanone Alves de Carvalho, tinha informações privilegiadas sobre as concorrências. "Destas [empresas], a Embramed apresenta evidência de atuação preponderante [chave no esquema], sendo sua atuação em conjunto com a Halex Istar, Venkuri e Smiths Medical", escreveu o delegado Storni em um de seus relatórios, com data de 7 de outubro do ano passado.

Em vez de citar a Halex e a Embramed nos dois novos inquéritos abertos para investigá-las -como o promotor Carneiro informou à Justiça que aconteceria-, o delegado apenas repetiu os nomes das pessoas e empresas que já constavam no inquérito policial que deu origem à operação.

A Halex pertence a Heno Jacomo Perillo, primo de Marconi Perillo (PSDB-GO), vice-presidente do Senado e governador de Goiás duas vezes. O nome do político aparece anotado à mão, ao lado do de Heno, na ficha de formação societária da empresa que integra a documentação da operação.

A Embramed Indústria e Comércio de Produtos Hospitalares tem entre seus sócios o médico infectologista Rudolf Uri Hutzler, do conselho deliberativo do Hospital Albert Einstein, e seus familiares.

Volta o Viomundo:

Como vocês podem ver no documento que aparece no topo desse texto, a anotação citada pela Folha está ao lado do nome do responsável pela Halex, Heno Jacomo Perillo: Marcondes Perillo Gov?

Trata-se, na verdade, de Marconi Perillo, que os tucanos queriam emplacar no Senado em substituição a José Sarney. Heno é primo do senador.

A Casa Civil do governo Serra diz que fez tudo o que deveria ter feito. Empurrou o caso para o delegado de polícia. A boataria é de que muito dinheiro -- 2 milhões de reais -- trocou de mãos.

É obvio que não se pode acusar o governo Serra, nem Perillo, nem o delegado sem provas. Mas ficam no ar as perguntas: Quem fez a anotação? Alguem pagou? Alguem recebeu? Como é que os nomes de duas empresas simplesmente desapareceram da investigação? Quem sabia?

Temos um caso concreto e explícito de, no mínimo, tráfico de influência. Temos mais um caso que deveria levar nossos jornalistas, se fossem sérios, a pelo menos levantar o debate: o que há de errado com a polícia paulista? Trata-se de apenas mais um episódio ou temos uma crise estrutural? Como enfrentá-la? Que mudanças são necessárias?

Mas, como eu escrevi no início, não existem crises em São Paulo. Vão todos eles correr atrás do vídeo para saber se a Dilma teve um encontro que provaria que ela teria dito isso ou aquilo a uma certa fulana. É o próximo factóide.

Fonte: Vi o Mundo

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