sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Marina vai à guerra

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Marina Silva


A senadora Marina Silva será candidata à presidência da República pelo Partido Verde. Ela já fechou o ciclo de “consulta às bases” no Acre e já ouviu os tardios apelos dos emissários petistas para que não deixe o barco que ajudou a construir.

Concluirá assim um processo de desgastes e atritos com o governo federal que acompanhou seus quase seis anos de ministério do Meio Ambiente, de onde saiu triste e calada, depois de inúmeros conflitos, em particular com a ministra Dilma Rousseff e com o ex-ministro Mangabeira Unger.

Saiu sem fazer valer uma de suas principais teses, expressa para a revista ligada ao próprio PT, a “Teoria e Debate”, em agosto de 2007. Ela dizia há exatos dois anos: “A equação está se invertendo. Não é o desenvolvimento que precisa fazer algo pelo meio ambiente. Os ambientalistas estão trabalhando pelo desenvolvimento. Se não for assim, não haverá desenvolvimento. Em um país com a realidade do Brasil, 50% do Produto Interno Bruto dependem de nossa biodiversidade. Na visão dos desenvolvimentistas, isso não é importante. Mas destrua a biodiversidade e verifique o que vai acontecer com 50% do PIB”.

Pois é, ela vai pretender mostrar a “inversão da equação” durante a campanha. Será uma diferenciação em relação às duas candidaturas postas até então, Serra e Dilma. Marina acha que Lula não trilhou este caminho, que é a base da sua batalha pessoal.

O prenúncio de sua decisão gerou abundante cobertura da mídia nos últimos dias. Entre o que li, pareceram-me mais frequentes e plausíveis as seguintes avaliações:

1. Sua entrada em cena acabaria com o caráter plebiscitário que estava posto. Não seria mais uma opção entre quem está a favor e contra o governo Lula. Animado com a entrada de Marina, também Ciro Gomes resolveu declarar-se candidato, desistindo de discutir a hipótese de concorrer para o governo de São Paulo.

2. Marina partiria de um patamar mínimo de 10% dos votos, segundo pesquisas encomendadas pelo próprio PV. Chega até a 27% em determinado cenário. Aguardadas pesquisas do Ibope e do Datafolha, talvez divulgadas neste final de semana, darão ou não mais veracidade à pesquisa dos verdes. Acho que darão.

3. Estas intenções de votos viriam, sobretudo, das classes A e B e parte da juventude. Também de petistas desiludidos. Mas Marina teria dificuldades de “entrar no povão”, na maioria que decide as eleições. Sua participação, porém, já seria condição suficiente para eliminar a hipótese de uma decisão em primeiro turno.

4. Quem sairia perdendo mais votos num primeiro momento, seria Dilma. Mas a maior perspectiva seria a de que Marina começasse de um patamar respeitável – os tais 10% - e depois estacionasse por falta de estrutura de campanha. A menos que surja uma incontrolável “onda marinista” de apoio – hoje impossível de prever, só de especular.

5. O PV não teria um perfil definido, oscilando aqui e ali entre os governos Lula e Serra. Ele abarcaria enormes ambiguidades e não teria estrutura, nem dinheiro para fazer uma campanha forte.

6. A senadora não poderia, nem pretenderia fazer uma campanha monotemática, falando só de meio ambiente. O que vai falar também com destaque, ainda não se sabe, mas ela tem perfil e história para desfraldar com energia a bandeira da ética.

Ora, o fato é que todos esses pontos citados acima que discutimos hoje já vêm sendo discutidos por Marina e seus principais apoiadores há meses. Em 12 de junho esta coluna dava conta da realização de uma reunião ocorrida em São Paulo que foi decisiva para a definição da senadora. Ali, entre seus assessores, ambientalistas, dirigentes do PV e militantes do PT, empresários (do setor de cosméticos) e estudiosos, decidiu-se uma série de ações para viabilizar a candidatura, sendo que a mais importante foi o que eles chamaram de lutar por um processo de “refundação do PV”. Um movimento que possibilitasse que Marina e alguns de seus apoiadores mais próximos pudessem influenciar na direção e nos rumos do PV, buscando dar-lhe mais consistência para a nova caminhada.

Um sem número de reuniões e encontros aconteceu nesses dois meses, sem que Marina falasse uma palavra em prol de sua candidatura. Agora, ela falou que avalia a hipótese, mas só falou em “hipótese” porque a decisão já está tomada, com todos os prós e contras devidamente pesados.

Marina vai pra guerra. Seguramente não foi uma decisão fácil e enganam-se os que acham que se trata de uma manobra dos demos, tucanos ou da grande mídia. Talvez Dilma seja a mais afetada no início, mas parte da classe média paulista eleitora de Serra também não ficaria imune a certo contágio.

Concorrer foi uma decisão dela e dos que a seguem de perto, que há meses lançaram site, material de campanha e jingle. A candidatura não será anunciada “oficialmente” tão cedo (nem Serra, nem Dilma, aliás, assumem abertamente as suas e Aécio ainda respira). O movimento decisivo será o pedido de desligamento do PT. Este lance ela jogará muito em breve.

Fonte: Carta Capital

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