Dilma Rousseff
por Luis Nassif
O câncer de Dilma Rousseff foi descoberto por casualidade. Seu médico em Porto Alegre mantinha contato com Roberto Kalil, chefe do Departamento de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês. Tempos atrás, Dilma teve um pequeno problema. Seu médico entrou em contato com Kalil, que não mais largou do seu pé.
Por insistência de Kalil, acabou vindo a São Paulo se submeter a uma tomografia computadorizada. A tomografia destaca, em cores mais fortes, áreas afetadas. O problema antigo estava superado. Havia alguns sinais na axila esquerda e, ali, acendeu-se a luz amarela.
Imediatamente montou-se uma junta médica para diagnosticar o problema encontrado. Aparentemente era um tumor benigno, mas não se tinha certeza. Dois dos médicos do Sírio estudaram no Centro Oncológico M. D. Anderson, em Houston, o mais avançado do mundo. Imediatamente entraram em contato para um segundo diagnóstico. Por teleconferência foram enviados os exames. A recomendação foi imediata: operem já! O tumor benigno continha, dentro de si, um linfoma.
Foi assim, abruptamente, que Dilma se deu conta de que estava com câncer. A sensação foi esquisita. De repente, veio com tudo a percepção da inexorabilidade da morte, de como a vida é algo tênue, de como se gasta energia com problemas irrelevantes.
Jamais poderia imaginar, antes, as reações que teria. De repente, olhava o céu de Brasília, bonito, azul, e se dava conta de que poderia perder aquela sensação. Ou então ficava imaginando que poderia ter dado mais atenção a um interlocutor, em uma conversa que tivera dias antes. Cada detalhe do dia passava a ser importante, como se precisasse curtir as pausas do dia, olhar o céu, sentir as mínimas percepções.
Quando a doença foi anunciada, o que mais a emocionou foi a reação do povo anônimo. Católicos enviaram santinhos de missa, água benta e até escapulário; espíritas mandaram livros; umbandistas, pequenos patuás; evangélicos, orações. E ela se deu conta de que havia uma irmandade, entre as pessoas que passaram pelo mesmo problema e superaram. Em todos os lugares que ia aparecia alguém com depoimento de conhecidos que enfrentaram o problema e venceram. Foi poupada de qualquer história sobre casos de insucesso.
A manifestação mais sensível foi da apresentadora Ana Maria Braga, que a tratou com uma delicadeza que a comoveu.
Ah, e a família estendida, como acorreu em seu socorro, as tias mineiras cercando-a de cuidados, energia e orações. Deu-se conta, também naquele momento, que sua familinha era pequena, a filha, casada, morando longe. A saudade e o sentimento de solidão a fizeram ter vontade de ser avó. Mas, principalmente, constatou a importância cada vez maior da instituição família estendida em um mundo cada vez mais complexo. Ela, que passou a vida na companhia de companheiros, de militantes políticos, na na hora de recarregar as energias, recorria sempre às tias mineiras.
Depois, foram as discussões sobre as raízes do câncer. Não tinha antecedentes familiares, estava longe de ser uma pessoa depressiva. Os médicos acham que foram causas ambientais, poluição de produtos químicos, especialmente no ar.
Começou o tratamento, pesado, vários dias por semana na quimioterapia e, depois, na radioterapia, que lhe deixaram o peito em chaga. Nada fora da normalidade. Mas os médicos evitaram antecipar o que passaria, porque o importante é manter o paciente com o moral elevado durante o tratamento.
O primeiro susto, depois de iniciado o tratamento, foram as dores intensas que passou a sentir na perna e que a levaram correndo de volta ao Sírio. Lá, nova junta médica, com os principais especialistas. A cena descrita lembra a do seriado House, da TV fechada. Cada qual opinando de um lado, quando o neurologista, de idade mais avançada, deu seu diagnóstico definitivo e os demais se calaram respeitosamente:
- A causa foi a supressão da cortisona que ele estava tomando.
Dilma fora afetada por uma espécie de síndrome de abstinência quando interromperam a dosagem de 25 mg que recebia.
Na junta que discutia seu caso na sua frente, o decano era o próprio personagem do House, resmungão, puxando as orelhas dos colegas mais novos - que o ouviam respeitosamente.
- Aumentem a dosagem para 500 mg.
A junta discutiu longamente a dosagem e decidiu ir mais devagar, aumentando para 250 mg. Três horas depois, as dores voltaram, intensas. Aí seguiram a recomendação do decano e a crise foi superada.
Seguiu à risca o tratamento, se submetendo três vezes por semana à quimio e à radioterapia, tendo que voltar correndo a Brasília várias vezes, atendendo à convocação do presidente, voltando em seguida para o tratamento.
As chances de cura estão próximas de cem por cento. Mas nesse período, Dilma correu contra o tempo, em cima da noção da finitude da vida. Havia pressa em deixar sementes. Foi no período mais duro do tratamento, que deixou prontas suas duas contribuições mais importantes ao país: o programa “Minha Casa, Meu Sonho” e, especialmente, o pré-sal.
Sobre o pré-sal falou por quase uma hora, de uma conversa que durou três. Sobre o tema, escreverei amanhã.
Fonte: Luis Nassif Online
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