quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Devagar, mas se move

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por Marina Silva*

A menos de quatro meses da 15ª Conferência das Partes (COP 15) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, o governo da Coreia do Sul anuncia que vai adotar metas concretas de redução de emissões de gases do efeito estufa até 2020.

A COP 15 - que se realizará entre os dias 7 e 18 de dezembro em Copenhague, na Dinamarca - será decisiva. É a nossa melhor oportunidade para, finalmente, superar a marcha lenta em que andam as negociações internacionais para mudar o futuro do Planeta.

Lá estarão reunidos representantes de mais de 200 países para discutir um acordo que suceda o Protocolo de Quioto e faça frente ao mega desafio das mudanças climáticas.

Apesar de não propor cortes drásticos, a iniciativa da Coreia do Sul, a quarta maior economia asiática, é mais do que bem-vinda. Ela vem de um país considerado em desenvolvimento, que dobrou suas emissões entre 1990 a 2005, e não é signatário do Protocolo de Quioto.

Segundo anunciado, o governo sul-coreano deve escolher entre três opções: aumentar no máximo 8% os níveis de 2005 em 2020; não ultrapassar os níveis de 2005; ou reduzir em 4% os níveis de 2005. A expectativa é que as metas evitem um crescimento de 30% nas emissões no país até 2020.

O México, outro país em desenvolvimento, também manifestou, no final do ano passado, a intenção de reduzir suas emissões em 8% até 2012, com relação aos níveis de 2002, e de ter, em três anos, um mercado de carbono.

O ministro de Energia e Mudança Climática do Reino Unido, Ed Miliband, presente no seminário "Clima e Desenvolvimento: a Caminho de Copenhague", que ocorreu na semana passada em São Paulo (SP), foi direto ao ponto: "Precisamos agir juntos. Se não conseguirmos um acordo em Copenhague, outra oportunidade deverá demorar muito tempo. E, neste caso, esperar não é uma estratégia. Não podemos criar um planeta de ilusões".

E o Brasil? Ao longo dos últimos anos vínhamos liderando em várias frentes: reduzimos significativamente o desmatamento, criamos o Fundo Amazônia, constituímos o Comitê Interministerial sobre Mudanças Climáticas, envolvendo 17 ministérios, elaboramos o projeto de lei instituindo a Política Nacional de Mudanças Climáticas - que está no Congresso -, entre outras medidas que levaram a conquistas recentes.

Agora precisamos avançar no compromisso ético de fazer o país crescer respeitando os limites da natureza, sem sujar nossa matriz energética, que é limpa, renovável e segura. Temos que construir estradas com baixo impacto ambiental, produzir biocombustíveis certificados, aumentar nossa produção agrícola sem derrubar mais florestas.

Só será possível sonhar com um mundo melhor se hoje construirmos alternativas viáveis e sustentáveis de desenvolvimento. E não me cansarei de repetir que o Brasil é um dos países-chave para fazer as negociações sobre o clima saírem do marasmo em que se encontram há anos.

Por isso, precisamos chegar em Copenhague com uma posição clara a favor do estabelecimento de metas, lembrando que a responsabilidade do Brasil e dos países em desenvolvimento é diferenciada, mas tem que ser assumida. Agora, com iniciativas de países que nunca estiveram na linha de frente dos esforços para estabelecer metas de redução dos níveis de carbono, parece que a coisa se move de maneira diferente e mais promissora. Devagar, mas se move.

*Marina Silva é professora de ensino médio, senadora pelo PT do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.

Fonte: Terra Magazine

Fale com Marina Silva: marina.silva08@terra.com.br
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