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Contra a barbárie, pelos direitos civis dos homossexuais
por Leonardo Sakamoto
A Advocacia Geral da União encaminhou parecer ao Supremo Tribunal Federal defendendo a união estável de casais homossexuais. Para a AGU, a união homoafetiva no país “é uma realidade para qual não se pode fechar os olhos”, informou o site Última Instância. A Advocacia, em nome da Presidência da República, argumenta que as relações homossexuais existem independentemente de amparo legal, embora países já tenham mudado sua legislação para incluir essa possibilidade. O parecer vem a apoiar a Procuradoria Geral da República, que pediu para o Supremo declarar inconstitucional o artigo do Código Civil que considera a união possível apenas entre homens e mulheres.
Apesar de tentativas de reacionários de manter a união estável de pessoas do mesmo sexo ilegal, tenho certeza que, mais cedo ou mais tarde, a lei será mudada, garantindo dignidade e combatendo o preconceito. Está indo aos poucos: é um servidor público que consegue estender o plano de saúde para o seu companheiro, é uma mulher que consegue a pensão de sua companheira. No final, será uma escolha entre a barbárie do fanatismo religioso e a civilização.
Isso me lembrou uma pesquisa do Datafolha, divulgada tempos atrás, sobre a opinião do brasileiro a respeito de determinados temas polêmicos. Vamos lembrar os resultados:
- 55% dos brasileiros defendiam a adoção da pena de morte;
- 57% eram contra a eutanásia, o direito do paciente terminal de pôr fim à sua própria vida;
- 65% defendiam que a lei do aborto não fosse ampliada para além dos casos de estupro e risco para a mãe;
- 49% rejeitavam a união civil homossexual (ou seja, a maioria, uma vez que 42% eram a favor);
- 52% eram contrários à adoção de filhos por casais do mesmo sexo.
Se isso fosse um gabarito, teria sido reprovado retumbantemente como brasileiro, uma vez que minhas posições pessoais são opostas aos cinco pontos acima. Em uma hipotética avaliação de segunda época que também incluísse a redução da maioridade penal, a prisão perpétua, a criminalização do uso de drogas (que só atrasa a solução do problema), seria reprovado novamente.
Dizem que falta informação e por isso temos uma sociedade que pensa de forma tão conservadora. Mas informação não basta, caso contrário os mais escolarizados teriam um comportamento mais aberto aos direitos sociais e humanos do que apontou a pesquisa. Deve-se saber como trabalhar com essa informação que recebemos, refletir sobre ela. Entramos aqui na questão da consciência social, que não se aprende nos bancos de escola, mas no trato com a sociedade.
O contato com o “outro”, e com suas diferenças, contribui para fomentar essa consciência. Não através do filtro dos jornais e das lentes de TVs, mas pelo diálogo direto. Só dessa forma poderemos entender as razões e paixões desse outro. E se, mesmo assim, não concordarmos com sua posição, podemos, ao menos, ser tolerantes. E aceitar que as pessoas têm direito à própria vida e ao próprio corpo e que não é com uma sociedade ditatorial e sumária que se resolverão os problemas.
Fonte: Blog do Leonardo Sakamoto
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