Pelo nosso futuro comum: audite o lixo e use ecossacolas
Ecologia se promove é com ampliação de consciência
por FÁTIMA OLIVEIRA
Médica
fatimaoliveira@ig.com.br
Uma leitora indagou como não descartar lixo em sacos e sacolas de plástico. E não imaginava que eu fosse "verdosa". Para começo de conversa, fora a coleta seletiva, a reciclagem e a compostagem, só saco de lixo ecológico. Aos trancos, estou aprendiz em auditar meu lixo. Nem chego a ambientalista, imagine a ecologista ou ecóloga!
Reverencio a sociobiodiversidade, o ativismo ecológico e a filosofia "slow food": prazeres da ecogastronomia, em contraposição ao "fast food"; aprendo com o conceito de "food miles": a "pegada carbônica" dos alimentos (como são transportados e produzidos); aprecio a filosofia da vida simples, a simplicidade voluntária, como estilo de vida; e tento ser consumidora consciente, reduzindo compras de supérfluos. Em casa, dizem que virei mi-se-rá-vel! Aspiro desplastificar minha vida dispensando sacolas plásticas. Zenzice? Sabedoria ou ranhetice da velhice?
No último Dia Mundial dos Oceanos, 8 de junho, foi dito que parte expressiva do lixo nos 5 oceanos (Atlântico, Pacífico, Antártico, Índico e Ártico), em alguns lugares chegando de 60% a 80%, é plástico (garrafas, sacos e embalagens). O impacto em seres marinhos é desconhecido. A "sopa plástica" do Oceano Pacífico - 1.000 km X 10 m de profundidade - já dá sinais da dialética da natureza. O albatroz e a tartaruga-marinha confundem plástico com comida! Pesquisa no Mar do Norte - um mar do Atlântico - revelou pedaços de plástico no estômago de 95% dos pássaros fulmaros glaciais!
Há experiências pessoais e diferentes leis sobre as sacolas plásticas, com cara de políticas de redução de danos. É aprender com elas em nome do nosso futuro comum. Bombaim (Índia) e Dhaka (Bangladesh) proíbem sacolas plásticas; Bélgica, Irlanda, Itália e Taiwan cobram imposto sobre elas; na Alemanha, Espanha, Holanda, Noruega e Suíça, paga-se pelo uso delas; na África do Sul, Eritreia, Quênia, Ruanda, Somália, Tanzânia e Uganda, sacolas plásticas finas estão proibidas e as mais espessas, tributadas; a Austrália e o Reino Unido discutem proibições ou impostos.
A China, que chama a poluição plástica de poluição branca, consumia 60 bilhões de sacolas plásticas/ano. As sacolas plásticas finas são proibidas e supermercados cobram pelas mais resistentes um preço não inferior ao custo delas (2008). O consumo baixou 66%! Se o comerciante doar sacolas plásticas, é multado. Nos EUA não há lei nacional; varejistas e a indústria de plásticos fazem lobby contra a proibição e impostos. Propõem coleta seletiva e reciclagem. San Francisco e Oakland (Califórnia) aboliram sacolas plásticas. A Califórnia promove as ecossacolas e supermercados são obrigados a aceitar sacos vazios para reciclagem.
Temos algumas leis municipais, inclusive em Beagá, e estaduais (GO, ES, MA e RJ) que substituem sacolas plásticas por biodegradáveis, oxi-bio e as retornáveis. Santa Catarina discute lei similar. O governador Serra alegou que o tema exige lei nacional e vetou o PL sobre sacola plástica oxi-biodegradável.
Na Câmara dos Deputados, o PL 612/07 (Flávio Bezerra, PMDB-CE, 29.3.07) substitui sacolas plásticas por ecológicas de degradação natural. No Senado, o PLS 424/08 (Serys Slhessarenko, PT-MT, 7.11.08) proíbe sacolas plásticas e adota as de papel, reutilizáveis, ou biodegradáveis. Precisamos de uma lei federal de redução de danos, que agregue proibição e pedagogia, pois ecologia se promove é com ampliação de consciência e não com omissão diante de práticas danosas ao meio ambiente.
Fonte: Vi o Mundo / O Tempo
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