terça-feira, 4 de agosto de 2009

Arapuca para Lula

::

por Guilherme Scalzilli

O presidente faria um favor a aliados e contribuintes se descobrisse uma fórmula para escapar da armadilha retórica onde foi metido pelo jornalismo oposicionista. Parece joguinho de criança falastrona, mas tem gente que leva (e pratica) a sério. Funciona assim: defender José Sarney denota cumplicidade com o coronelismo safardana; permitir que seja defenestrado equivale a traição, derrota ou inabilidade política. Um e outro daqui a pouco se transmutam num híbrido monstruoso, o Lularney.
Lula, como as pombas do Alvorada, sabe que os ataques midiáticos a Sarney guardam o gene da hipocrisia. O painho maranhense é o que é há pelo menos quatro décadas, mas sua família aparece nas páginas investigativas apenas quando há interesses eleitorais em jogo. Roseana foi deixada em paz assim que topou não atrapalhar os planos de José Serra em 2002. Uns poucos aninhos antes, a aliança "pragmática" com o PMDB era vendida como habilidade esperta do governo FHC.
Falta ao Planalto diagnosticar friamente a situação e descobrir que há duas cúpulas peemedebistas, uma já irremediavelmente afastada da candidatura tucana em 2010 e outra que aguarda o andamento das negociações regionais. É esta segunda frente que precisa ser atraída para a campanha de Dilma Rousseff e que, aliás, promete muito imbróglio político.
Defender Sarney com elogios pessoais e referências biográficas, além do teor duvidoso, desestimula a militância histórica e favorece essa rachadura interna no PMDB (tida pelos próprios tucanos como a última chance de sucesso para a candidatura Serra). Lula só conseguirá escapar do abraço de afogado do maranhense quando e se partir para o ataque, usando um pouco mais de ironia e menos desse rubor acuado e raivoso que é tão inconveniente quanto desnecessário.

Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli

::
Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: