por Luis Antônio Cintra
No início do século 20, Brecht tomou conhecimento de como são as coisas em Wall Street. E é com o autor alemão que começa uma série de poesias que parecem ter sido feitas para o atual caos financeiro.
Iniciamos com Brecht a publicação de uma série dedicada à poesia. Vale lembrar que no momento em que o mundo “assiste à crise”, a turma da bufunfa, responsável pela crise, trata de encontrar uma “saída”. Armado de 750 bilhões, Henry Paulson, o chefe do Tesouro, convocou ex-funcionários de Wall Street para a tarefa de “arrumar a casa”. George W. confia que aos poucos as coisas “voltarão ao seu lugar”. Ao presidente do BC brasileiro, como sempre, resta concordar.
No início do século 20, Brecht tomou conhecimento de como as coisas são arranjadas em Wall Street. Em seguida, investiu sua energia no sentido de encontrar um “novo lugar” para si e para as coisas do mundo. Agora, só nos resta torcer para que Paulson & Cia. encontrem uma solução? Melhor ler Brecht antes de responder.
ANOS ATRÁS
por Bertolt Brecht *
Anos atrás, quando ao estudar os procedimentos da Bolsa de Trigo de Chicago
Compreendi subitamente como eles administravam o trigo do mundo
E ao mesmo tempo não compreendi e abaixei o livro
Logo percebi: você
Deparou com coisa ruim.
Não havia irritação em mim, e não era a injustiça
Que me apavorava, apenas o pensamento
“Assim como eles fazem não pode ser” me tocou inteiramente.
Essa gente, eu percebi, vive do dano
Que causa aos outros, não do benefício.
Esta é uma situação, percebi, que somente pelo crime
Pode ser mantida, porque é muito ruim para a maioria.
Desse modo toda grande
Proeza da razão, invenção ou descoberta
Levará somente a uma miséria ainda maior.
Coisas assim e semelhantes pensei no momento
Distante de ódio ou lamento, ao abaixar o livro
Com a descrição do Mercado e da Bolsa de Trigo de Chicago.
Muito esforço e muito desassossego
Me esperavam.
*“BERTOLT BRECHT – POEMAS 1913-1956”, Seleção e Tradução de Paulo César de Souza, Editora 34)
Fonte: Carta Capital
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