quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O segundo turno em São Paulo e a conexão 2010

::



Editorial Vermelho

A cidade de São Paulo terá no segundo turno a votação mais politizada e
importante das eleições municipais deste ano. A chapa Marta Suplicy-Aldo
Rebelo e o povo trabalhador da metrópole terão nos próximos dias uma
peleja com repercussão direta sobre a sucessão presidencial de 2010 e o
futuro do país.

A oposição conservadora busca a reeleição do prefeito Gilberto Kassab
(DEM), ex-malufista, ex-secretário da gestão Celso Pitta, ex-deputado
fosco e opaco, que ascendeu ao cargo em 2006 por ser vice do tucano José
Serra. Foi como peça do projeto presidencial de Serra e da grande
burguesia paulista que Kassab foi catapultado como nome da grande
política. Na mesma condição, caiu nas graças da mídia hegemônica, que o
ajudou a tratorar o concorrente Geraldo Alckmin (PSDB) e a obter, nas
urnas deste domingo, 0,8 ponto percentual a mais que Marta Suplicy.

A disputa paulistana aparece como última esperança oposicionista numa
eleição que tem sido ingrata para as forças anti-Lula. Das 15 capitais
que escolheram seus prefeitos no primeiro turno, elas ficaram com apenas
duas, Curitiba e Teresina (ou três, caso se conte a PV-demista que se
elegeu em Natal). Entre as 34 não capitais com mais de 200 mil eleitores
que também decidiram a disputa no domingo, só 11 elegeram oposicionistas.

O segundo turno de São Paulo é portanto uma aposta de vida ou morte para
o projeto conservador. ''Se ganhar em São Paulo, e vai ganhar, a oposição
sairá vitoriosa dessa eleição. Ponto'', profetizou o presidente nacional
do PSDB, Sérgio Guerra, já no domingo.

O resultado do primeiro turno deu inegável alento ao projeto
Kassab-Serra, que não esperava ser o mais votado. Por ironia, o
candidato do DEM beneficiou-se dos êxitos do governo Lula, que ao
melhorar a vida do povo favoreceram por tabela os prefeitos que tentavam
a reeleição.

Mas isso nem de longe garante uma vitória para Kassab no dia 26. Três
semanas de uma campanha de segundo turno já desinflaram outros
eleitorados artificialmente construídos. O exemplo típico é o do próprio
Alckmim, que perdeu 2,4 milhões de votos entre os dias 1 e 22 de outubro
de 2006.

A candidatura progressista conta com trunfos fortes suficientes para
derrotar os intentos da oposição em São Paulo. Marta é uma lutadora, uma
debatedora de primeira e, como mostrou ao comentar o primeiro turno, tem
nítida consciência da necessidade de trazer a disputa com Kassab para o
terreno da grande política. O campo conservador cindiu-se em São Paulo
com a guerra Kassab-Alckmin, e tão cedo não cicatrizará. Por fim, mas
não por último, a chapa do 13 conta com o apoio de um presidente da
República popular como nunca antes na história deste país, que deve
jogar o peso de seu prestígio na campanha de Marta.

Uma particularidade e uma vantagem eleitoral de São Paulo é que a lógica
social e a política se harmonizam. Os resultados do domingo o
comprovaram mais uma vez: o povo pobre da periferia e os trabalhadores
organizados votam à esquerda; enquanto a ilha dos bem-de-vida no
sudoeste da cidade apóiam a direita. O resultado do dia 26 dependerá em
grande medida de quem conseguirá atrair as camadas sociais e políticas
que ficam entre estes dois pólos opostos.

Este precisará ser um segundo turno como o presidencial de 2006, denso,
esclarecedor, militante, bem debatido, politizado no melhor sentido do
termo. O Brasil inteiro estará de olho, e os resultados do domingo não
deixam dúvidas sobre qual a sua preferência.

Fonte: Vermelho

::


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: