quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O Rubicão de Lula

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por Luis Nassif

Não fora poucas as vezes que alertei aqui que o câmbio seria a desgraça do governo Lula, como foi no de FHC.
Lembro-me dois anos atrás, na reunião de fechamento do ano do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), Lula se dirigindo aos grandes empresários presentes e ironizando. Dizia que eles reclamavam dos lucros dos bancos, mas as empresas do setor industrial tinham tido lucros até maiores. Não havia mais porque reclamar.

Parte dos lucros decorria do início do ciclo de alta das commodities. Mas parte relevante de operações artificiais, bancadas pelo Tesouro a um custo altíssimo. Só no ano passado o Banco Central transferiu mais de US$ 10 bilhões às grandes empresas através dessa imoralidade chamada “swap reverso”.

E parte devido a uma explosão mundial da liquidez, que permitia o crescimento exponencial do crédito e os IPOs no mercado.

Criou-se um mundo do faz-de-conta, em que o contribuinte pagava a conta de várias maneiras. O modelo exigia juros altos, para derrubar o câmbio. Pagava-se uma conta aí, na forma de cortes em gastos essenciais para bancar os juros. Depois, no câmbio apreciado, permitindo a invasão chinesa e tirando empregos. Criou-se um período de falsa bonança com a oferta global de crédito, que ajudou a driblar a crise – mas a conta veio agora. Finalmente no custo direto do tal “swap reverso”.

Na outra ponta, uma mídia com críticas preconceituosas, macartistas contra o governo, mas deixando passar em branco o grande erro que era cometido na política monetária, dando espaço a economistas incapazes de enxergar uma linha além da planilha que trouxeram pronta de seus cursos de graduação.

O problema eram os gastos públicos, a Bolsa Família, a Previdência Social, não essa esbórnia que sangrava o Tesouro sem apontar para nenhum ponto no futuro: a não ser ampliar a crise, que já estava a caminho.
Nos últimos dias, Raul Velloso ganhou todos os espaços possíveis para alertar que a crise exigia redução dos gastos públicos. Lembro-me de uma exposição dele no Conselho de Economia da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Analisou o orçamento público, falou de Previdência, gastos sociais, gastos com pessoal. Eu ali, na primeira fila, mal podendo me conter na cadeira. Ele percebeu meu desconforto e disse:

- Eu sei que o Nassif está querendo que eu fale de juros. Mas meu trabalho se limitou a analisar apenas as despesas correntes.

Claro! Esse é seu trabalho.

Enquanto os parcos R$ 10 bilhões da Bolsa Família ajudam a incluir famílias, a colocar crianças nas escolas, a criar um mercado de consumo popular, essa dinheirama sem tamanho ajudou apenas a criar uma baita crise.

Fonte: Blog do Luis Nassif

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