quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O CACHORRO NÃO LATIU

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por José Inácio Werneck

Bristol (EUA) – “O que o cachorro fez de extraordinário?” – perguntou Sherlock Holmes.

- “Não sei” – respondeu o fiel Watson.

- “O cachorro não latiu”.

Nos últimos dias, desesperados com o crescimento de Barack Obama nas pesquisas de opinião, John McCain e Sarah Palin desfecharam uma campanha de calúnias contra o adversário, baseada na incessante repetição de que ele é aliado de terroristas e, em conseqüência, um traidor da pátria.

Tudo porque, quando Obama tinha oito anos de idade, Bill Ayers, com quem ele se sentou anos mais tarde na diretoria de uma instituição de caridade (Woods Fund of Chicago), foi integrante do grupo Weathermen, autor de atentados contra a guerra do Vietnã.

O fato de que republicanos foram e são companheiros de Ayers na mesma diretoria e na Universidade de Illinois-Chicago, onde ele é “distinguished professor”, não parece ter impressionado McCain e Palin.

O curioso é que o marido de Palin foi membro de um partido politico no Alaska que quer a secessão dos Estados Unidos. O líder de tal partido pronunciou-se uma ocasião na ONU em favor da independência para o estado, em viagem paga… pelo governo do Irã.

McCain e Palin tampouco parecem se recordar de que o senador republicano, há muitos anos, declarou-se “envergonhado” de ter bombardeado populações civis no Vietnã do Norte. Hoje ele nega ter dito tal coisa.

McCain e Palin voltam também a investir contra Jeremiah Wright, o pastor negro de cuja igreja Barack Obama foi membro. Esquecem-se de que McCain foi apoiado pelo pastor John Hagee, famoso por ter dito “Deus enviou Hitler para conduzir os judeus à Palestina”. Palin pertence a uma congregação fundamentalista no Alaska que tem um pastor, Thomas Muthee, nascido no Quênia, que literalmente caça bruxas.

Mas no debate realizado esta semana no Tennessee, quando esteve frente a frente com Obama, McCain nada disse sobre Bill Ayers e sobre Jeremiah Wright.

A razão foi simples: Obama deu uma entrevista à imprensa, afirmando “não darei o primeiro soco no debate, mas certamente darei o último”.

Embora com a habitual expressão sombria, os ombros crispados, nos lábios um sorriso que mais assusta do que alegra, McCain limitou-se a áreas mais genéricas, como seu serviço militar, seu “amor à patria” e sua experiência em política internacional. Mesmo assim se deu mal, porque, a certa altura, procurou comparar-se a Theodore Roosevelt (como escrevi aqui outro dia, ídolo dos republicanos, ao contrário de seu primo, o democrata Franklin Delano) dizendo que gosta de “falar macio mas empunhar um cajado grosso” nas conversas com outros países.

A resposta de Obama foi imediata:

- Você cantou “Bomb, bomb, bomb, bomb, bomb Iran” em um comício. Não me soou como uma fala muito macia.

Ao fim, as pesquisas entre os eleitores independentes davam a Obama a vitória no debate. O mais interessante é que os analistas consideravam o formato do debate, no estilo “Town Hall meeting”, favorável a McCain.

Mas, como no crime investigado por Sherlock Holmes, o cachorro não latiu.




Fonte: Direto da Redação

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