domingo, 12 de outubro de 2008

Marta, politize a eleição!

Por Glauco Faria

Em 1994, durante a campanha presidencial, passava pelo Vale do Anhangabaú quando presenciei um diálogo entre um rapaz que tomava conta de uma barraquinha do PT e um transeunte. O pedestre provocador brincou: “De novo o Lula? Esse não vai ganhar nunca!”. O petista respondeu, raivoso: “Claro que não vai. O povo é burro”.

Pensei comigo que se os militantes tivessem essa atitude, Lula não venceria nunca mesmo. O tempo passou, o partido e seus adeptos mudaram, assim como a cena política. Mas quando vejo alguns e-mails circulando “culpando” a população por dar a vitória a Kassab no primeiro turno, o fantasma desse petista de 94 volta à minha mente.

Desnecessário dizer que existe uma carga de preconceito muito grande contra Marta Suplicy, por inúmeras razões. Também fica claro que a classe média paulistana, inclusive muitos daqueles que ascenderam à classe C, portam valores segregacionistas e que colaboram para perpetuar a desigualdade que ofende qualquer pessoa com o mínimo de sentimento de justiça social. Mas, para se vencer uma eleição, é preciso trabalhar com esses dados, só lamentar ou xingar não adianta. E não dá para dizer também que todos os eleitores de Kassab são preconceituosos ou elitistas e aí está o “X”: saber porque essas pessoas votam nele.

O PT ganhou duas eleições municipais na capital paulista. Ambas graças, em grande medida, ao voto útil anti-malufista que trouxe parte da classe média para junto das candidatas do partido. Com a derrocada do malufismo, o PSDB e agora Kassab ocuparam o posto de opositores ao PT e, pior para Marta, o alcaide não carrega a enorme rejeição que o pepista Maluf sempre trouxe consigo.

Portanto, resta a Marta fazer algo que não foi feito no primeiro turno: tentar desconstruir a administração Kassab. Dizer que ele teve mais dinheiro à disposição na prefeitura é praticamente admitir que ele fez uma boa gestão, uma capitulação antes da hora. É preciso atacar os pontos fracos e que afetam o dia-a-dia da população. Um deles é o trânsito que se encontra nessa situação caótica também por conta dos parcos investimentos feitos no transporte coletivo nos últimos quatro anos. A gestão de Marta tinha um bom plano para a área com a construção de corredores em toda a cidade, que foi praticamente abortado pela atual administração. Por que não discutir isso? Porque aceitar a agenda imposta por Kassab com o lenga-lenga do investimento do metrô, algo que não vai representar melhora a curto ou médio prazo, algo que o paulistano exige ou deveria exigir?

Marta adotou jingles da campanha de Lula, mas poderia adotar também uma atitude que ajudou o petista a superar Alckmin no segundo turno em 2006. Ali, ele politizou o debate quando colocou em pauta a questão da privatização e encurralou o tucano. Por que não fazer o mesmo com Kassab, comparando as prioridades de cada uma das duas administrações – a antiga e a atual - e também cobrando dele posições tomadas como deputado federal e secretário de Celso Pitta? Mesmo que venha a perder, Marta estará dando uma contribuição importante a um processo eleitoral tão pobre em idéias e discussão política de fato.

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Em tempo. Assim como Marta foi alvo de ataques homofóbicos na eleição de 2000, agora Kassab também vem sendo vítima do mesmo tipo de expediente. Além de ser algo absolutamente condenável, é um tiro no pé de quem acha que isso hoje em dia ainda funciona.

Fonte: Blog do Rovai

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