segunda-feira, 13 de outubro de 2008

SP: debate fraco termina "empatado"

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O primeiro confronto entre Marta Suplicy (PT) e Gilberto Kassab (DEM) neste segundo turno resultou em um programa até bem interessante, com momentos de tensão e muito jogo de bastidores, com a platéia atuando para tentar desestabilizar os dois candidatos. Os marqueteiros também tiveram atuação decisiva, nos dois lados, auxiliando os dois oponentes e calibrando a estratégia de cada um nos poucos minutos que duravam os intervalos. De ponto de vista político, porém, o debate foi fraco, muito centrado em problemas pontuais da cidade.

Ora, o mundo está passando por talvez a maior crise da história do capitalismo e o tema só foi abordado em uma questão, e mesmo assim com foco no Orçamento da cidade diante da crise. Isto é muito pouco. Seria muito mais importante para o eleitor paulistano saber qual a análise que cada um faz da crise e das suas consequências para a economia brasileira do que o número de vagas em creches que cada um promete abrir nos próximos quatro anos ou na quantidade de asfalto que cada administração foi capaz de recapear. Sim, porque saber o que Kassab e Marta realmente pensam da crise seria mais importante para a decisão de voto do que questões programáticas que poderiam e serão apresentadas no horário eleitoral gratuito. Kassab defende a desregulamentação da economia, o estado mínimo, como preconiza o seu partido? Ninguém sabe. Marta acha correta a estatização do sistema financeiro, tal e qual está sendo realizada nos EUA e na Europa. Também ninguém conseguiu ficar sabendo.

Essas questões hoje são relevantes porque ajudariam a diferenciar as candidaturas. Por mais que Kassab tente dar um verniz tucano para a sua candidatura, ele faz parte do DEM, o partido que tem assumido o perfil mais conservador na atual cena política brasileira. Ok, Kassab já disse que não quer a companhia dos "dinossauros" do Nordeste (ACM Neto, Moroni Torgan etc), e no debate citou apenas Jorge Bornhausen como "companheiro", mas o público gostaria muito de saber o que ele pensa não apenas sobre as pontes e obras viárias que fará, se reeleito, mas também sobre temas mais gerais, como política econômica, segurança pública, combate à corrupção, desenvolvimento regional, entre tantos outros. O mesmo vale para Marta, com o sinal trocado, isto é, seria interessante saber o quão alinhada a ex-prefeita está com seu partido, se concorda com a política monetária do Banco Central, com a condução da crise pelo presidente Lula ou o que pensa da CPI dos Grampos.

Não se trata aqui de propor a "nacionalização" da eleição. Sim, trata-se de uma eleição local, mas o momento pede um debate mais profundo e esclarecedor sobre o que pensam os candidatos que pretendem assumir o governo da maior cidade da América Latina nos próximos quatro anos. Uma questão simples poderia levar os dois a falar um pouco e revelar suas crenças: "se estivesse hoje no comando do governo federal, teria tomado as medidas que o presidente Lula e o presidente do BC, Henrique Meirelles, tomaram ou teria feito algo diferente?" Por estratégia, Kassab evita falar mal de Lula e Marta tenta colar a sua imagem no presidente. Uma questão deste tipo poderia efetivamente fazer com que cada um largasse um pouco a máscara e dissesse o que pensa. Ainda que ambos avalizassem o que está sendo feito, seria uma informação mais útil para o paulistano do que saber se o CEU de Sapopemba vai ficar pronto agora ou daqui dois meses.

De resto, voltando ao que de fato aconteceu e não ao que deveria ter ocorrido, a verdade é que Marta começou muito bem, venceu o primeiro e o segundo bloco com a estratégia de confrontar as promessas de Kassab com os atos do prefeito, especialmente os vetos a projetos que ele agora anuncia como promessas de campanha. Depois, certamente orientado pelo marqueteiro Luiz Gonzalez, Kassab começou a se recuperar e demonstrou sangue-frio, reagindo bem aos ataques da ex-prefeita. Neste momento, ele ganhou um polêmico direito de resposta que desestabilizou a candidata do PT. A partir daí o que se viu foi Marta cada vez mais nervosa e Kassab tranquilo, atuando conforme o script de seus marqueteiros e até fazendo provocações, com apoio da claque tucano-democrata na platéia. O prefeito acabou se saindo melhor nos dois últimos blocos e empatou o jogo, o que para ele é um bom saldo, uma vez que as pesquisas lhe dão a dianteira folgada em relação à Marta.

No fundo, a candidata Marta Suplicy tem uma tarefa muito difícil pela frente. Para virar o jogo, precisa fazer todos os gols e não tomar nenhum. Isto só vai acontecer se a ex-prefeita jogar muito bem e o prefeito fizer muita besteira. Até aqui, porém, como se pode ver no post anterior, quem fez mais besteiras foi o PT...

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Um erro grosseiro do PT em São Paulo

O autor destas Entrelinhas esteve no estúdio da Band e comenta o debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo em seguida, no próximo post. Antes, porém, um breve pitaco sobre a propaganda eleitoral gratuita que voltou neste domingo nas rádios e emissoras de televisão aberta. Este blog avalia que o programa do PT paulistano erra feio ao insinuar a homossexualidade do prefeito Gilberto Kassab (DEM). A vida pessoal dos políticos é um problema particular de cada um e em nada acrescenta ao debate público, a menos que tais condutas impliquem em crimes (uso de drogas ilícitas, pedofilia etc). Além disto, a estratégia pode ser o típico caso de feitiço que se volta contra o feiticeiro, pois Marta Suplicy (PT) é uma defensora histórica dos direitos da comunidade GLTB. Ou seja, além de poder ser caracterizada como "baixaria", a insinuação pode fazer com que ela perca votos nesta comunidade. Uma derrapada feia, que se não for corrigida logo, vai causar problemas sérios à candidata petista.

Fonte: Blog Entrelinhas

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