segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Por que no Rio eu sou Gabeira

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por Renato Rovai

O estrabismo político histórico do PT carioca deixou o campo das esquerdas sem opção clara no segundo turno. Ao invés de apoiar Jandira Feghali, o que daria à candidata comunista musculatura partidária e tempo suficiente na TV para enfrentar o embate, a seção carioca do partido insistiu com a anêmica candidatura de Alessandro Molon, que morreu sem nem chegar à praia com menos do que 5% dos votos.

E como se não tivessem feito uma baita barbeiragem política, os petistas cariocas já estão todos risonhos nas fotos dos jornais aderindo ao new peemedebista Eduardo Paes.

Como o PT de São Paulo pretende comparar a biografia política de Marta com a de Kassab, vou fazer o mesmo com a de Gabeira e Eduardo Paes para explicar porque prefiro um ao outro. Mas antes, um detalhe, a de Eduardo Paes talvez seja pior do que a de Kassab.

Paes, para quem não se lembra, fazia dupla com Acminho Neto na CPI dos Correios. Era da turma jovem dos urubus do impeachment e vivia à procura de uma câmera de TV para acusar Lula de chefe da quadrilha do mensalão. Mas alguém pode dizer, mas o Gabeira fez diferente? Honestamente, o vi fazendo muita demagogia política e tabelando com gente do calibre de ACM, mas não me recordo de ataques pessoais seus. Ademais, certo ou errado Gabeira ainda mantém boa parte das suas opiniões a respeito daquele episódio. Ele não está rebolando para se justificar ou para pedir o apoio de Lula.

Mas Eduardo Paes não é só um dos urubuzinhos do impeachment. Ele nasceu para a política pelas mãos de César Maia, para o qual hoje faz aquele biquinho do tipo eu nem te conheço. Em 1992, Maia fez do então estudante de advocacia (ele tinha 23 anos) o subprefeito da Barra e de Jacarepaguá. Depois de quatro anos à frente do pelotão do prefeito maluquinho (era a época em que César Maia pedia picolé no açougue, lembram?), o moço saiu candidato a vereador e foi eleito. Em 1996, virou deputado federal e foi mudando de partido conforme o vento do conservadorismo carioca mudava. Hoje está no PMDB do governador Sérgio Cabral. Mas quando era urubu do impeachment pulava no galho tucano. Na época de Maia, foi do PFL e do PTB.

E Gabeira. Bem, Gabeira também não é um poço de coerência política. E hoje nem de longe lembra o político do final dos 80 e começo dos 90, que com seu discurso moderno empolgava a galera que sonhava com um novo jeito de fazer política. O verde que Gabeira hoje tenta representar está mais para a pasmaceira tucana do que para algo de fato inovador. De qualquer maneira, ele sempre esteve mais para cá do que para lá. Teve apenas dois partidos desde que voltou do exílio: PV e PT. E como deputado colocou seu mandato à disposição das lutas ambientais e das minorias. Falar isso hoje parece pouco. Mas lembro-me de que a mesma mídia que faz olas a Gabeira hoje, antes o achava exótico porque seu mandato estava sempre pautando a diversidade. Parecia coisa de doidão, algo engraçado.

Aliás, gostava muito mais do Gabeira antes, quando ele era tratado como um doidão, do que hoje, quando passou a ser o queridinho dos coleguinhas da imprensa comercial.

De qualquer maneira, Gabeira tem história política. E não estou tratando aqui da sua luta conta a ditadura militar. Falo da redemocratização para cá.

Desde que voltou do exílio ele apontou temas que interessam aos libertários. Gabeira falou da descriminalização das drogas, do direito das prostitutas, de meio ambiente, da discriminação vivida pelos homossexuais, da luta pela preservação da Amazônia etc. Posso até discordar das posições dele em alguns desses temas, mas ele os debate. Outros saem de ladinho quando o assunto é polêmico. Como faz Eduardo Paes.

E tem mais um motivo que me leva a ser Gabeira no Rio. Sérgio Cabral, que ainda não disse a que veio, ficará muito poderoso se vier a eleger Paes. O que também acontecerá com Serra por aqui, se eleger Kassab. Não gosto de nenhum dos dois com poder demais.

Confesso que já achei que Sérgio Cabral pudesse fazer um governo mais humano e inclusivo no Rio de Janeiro. Mas tudo o que leio na imprensa e o que ouço dos meus colegas cariocas vai em outra direção. Ele faz um governo policialesco e utilizando a mesma burocracia do chaguismo. Acho importante que ele tenha nas suas barbas um prefeito independente, que dê uns berros de vez em quando, que o conteste. E isso, podem ter certeza, Gabeira será e fará.

Gabeira pode até nos incomodar pelos seus vai-vens, pela sua dificuldade em trabalhar em projetos coletivos. Mas não é um oportunista ou menininho de recados de quem quer que seja. Gabeira é Gabeira, com seus erros e acertos. Por isso, se meu domicílio eleitoral fosse no Rio, votaria com tranqüilidade nele.

E ainda há a chance de a prefeitura vir a lhe fazer bem. E Gabeira voltar a ser aquele que um dia já fez muito de nós, inclusive este que escreve, a sonhar em vê-lo não só como prefeito, mas até em cargos mais importantes.


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O post (acima) em que me posiciono a favor da candidatura Gabeira ante a de Eduardo Paes no Rio de Janeiro está levando boas bordoadas de todos os lados. O que penso disso? Acho ótimo.

Assumi uma posição polêmica e fiz um belo zigue-zague para justificá-la, mas pelo jeito não obtive sucesso com os argumentos. Quem pensa diferente (e são muitos) acha que apesar de o adversário de Gabeira ser o Eduardo Paes, a pior opção no cenário carioca é fortalecer o PSDB e o DEM.

Talvez no comentário do colega Menon esteja o resumo dessa argumentação: “Rovai, estou no estilo Fla-Flu ou Gre-Nal. Onde tem PSDB, DEM e PPS eu corro para o outro lado”. O que posso dizer disso? Nada. É compreensível que aqueles que apóiam o governo Lula queiram distância de uma candidatura parida e abençoada pela oposição a ele.

Há muitos outros bons argumentos contrários a posição que manifestei, mas neste post vou dialogar com os que avaliam que para o governo Lula é melhor que Paes ganhe a eleição.

Eu, honestamente, tenho minhas dúvidas em relação a isso. Acho que a vitória de Paes dá uma condição quase imperial a Sergio Cabral no Rio de Janeiro. E isso não seria bom para a construção de uma candidatura forte na base do governo.

Acho que Cabral, num primeiro momento manteria os compromissos que tem com o governo Lula, mas apenas até 2010. O governo do Rio depende dos investimentos governo Federal e por isso ele não poderia correr antes. Mas algo me diz que seis meses antes das eleições ele tomaria um caminho próprio.

Caminho 1 – Construir a alternativa Aécio dentro do PMDB, filiá-lo ao partido e fazer do mineiro um dos candidatos da base do governo. Isso criaria um grande problema para a candidatura Dilma, que teria dois adversários de peso no primeiro turno.

Caminho 2 – Negociar com José Serra e Aécio e apoiar uma chapa da dupla. Ele é muito amigo pessoal de ambos. E se viesse que a dupla teria grandes chances de vencer as eleições, duvido que ficaria com Dilma.

Mas por que sem Eduardo Paes na prefeitura Sergio Cabral não poderia fazer isso? Entre outras coisas, porque o espaço da oposição já estaria ocupado por Gabeira. E ele teria ao menos de dialogar com o PT (leia-se Lindbergh Farias) e com o PCdoB de Jandira Feghalli para conseguir a reeleição.

Mas se Sérgio Cabral for fiel a base do governo Lula, ainda mesmo assim tudo pode dar errado? Eu diria que sim. Querem um exemplo?

Eduardo Paes que não tem sido fiel a nada e a ninguém pode muito bem depois de três meses na prefeitura voltar para o PSDB e rearticular com mais capacidade política que Gabeira (e isso ele tem, afinal Gabeira é péssimo articulador) a oposição no Rio. Diferentemente do Estado, a prefeitura do Rio é saudável financeiramente. Não depende de outro ente federativo. E Paes pode decidir fazer vôo próprio.

Eu não ficaria surpreso com nenhuma dessas hipóteses.

Não é por isso que acho a opção Gabeira melhor do que a de Eduardo Paes para a prefeitura do Rio de Janeiro. Mas estou refletindo com os leitores o seguinte, não me parece que o Fla x Flu ou o Gre x Nal ali seja algo tão claro.

Tenho muita dúvida em relação a quem favorece ou enfraquece a vitória de Paes ou de Gabeira. Acho que a base do governo Lula já foi derrotada no Rio de Janeiro. E por este motivo, entre as más opções que temos, continuo achando a de Gabeira a menos pior para a cidade. Se posso estar enganado? Evidente e pelo que os leitores têm sinalizado, parece que estou. Por isso mesmo aceito o corretivo. Ficarei com minha opinião, mas não assinarei manifestos de apoio ou qualquer outra manifestação em defesa de Gabeira. Até porque, sinceramente, pelo que ele fez nos últimos tempos, acho que já me expus demais.

E, explico, só fiz isso porque acho esse Eduardo Paes uma das maiores empulhações políticas produzidas nos últimos tempos. Espero estar errado.

Mas ainda acho que pior que ele, talvez só o Acminho. Aliás, viva Salvador, que não lhe permitiu ir para o segundo turno.

Fonte: Blog do Rovai - Revista Fórum

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Um comentário:

Muller disse...

To com você, sou totalmente Gabeira, se vc le as noticias não tem como votor no Paes, escrevi os motivos do meu voto em:
http://blog-muller.blogspot.com/2008/10/gabeira-43.html
Quanto mais eu leio sobre a eleição mais claro fica que tenho que votar no Gabiera!
Gabeira Neles!