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O resultado da confusão da política de esquerda é que em 2012 o Rio completará 20 anos seguidos de administrações de direita. As cinco candidaturas de esquerda, somadas, em número de votos válidos, alcançaram no primeiro turno 18,45 %, menos que o terceiro colocado, o senador Crivella, do PRB, com 19,06 % dos válidos.
por Antônio Augusto*
A eleição carioca nos seus dois turnos põe de forma aguda, a céu aberto, os impasses vividos pela esquerda brasileira.
As cinco candidaturas de esquerda, Jandira (PC do B coligado com PSB), Molon (PT), Chico Alencar (PSOL, junto ao PSTU), Paulo Ramos (PDT) e Eduardo Serra (PCB), somadas, em número de votos válidos, alcançaram no primeiro turno 18,45 %, menos que o terceiro colocado, o Senador Crivella, do PRB, com 19,06 % dos válidos.
Derrota anunciada dada a grande divisão da esquerda demonstrada no primeiro turno.
Na segundo volta, os problemas já visíveis antes se multiplicaram.
A Comissão Política Nacional do PC do B emitiu resolução nos seguintes termos em relação à capital fluminense:
“No Rio de Janeiro é importante fortalecer um campo progressista em apoio à candidatura do PMDB - Eduardo Paes, em torno de compromissos a serem firmados, e demarcar campo com a candidatura tucano-verde de Fernando Gabeira, que objetivamente atua como oposição a Lula e é base para a oposição em 2010”.
A ex-deputada Jandira Feghali, a mais votada da esquerda para a prefeitura (9,8% dos votos válidos), deu declarações a favor e saiu em campanha com Paes.
Tal apoio gerou consternação e indignação em muitos eleitores da candidata.
Pode se debater se os comunistas devem apoiar o governo Lula, um governo de centro, e isso já é motivo para muita discussão.
Agora o que não reflete a realidade é passar atestado de democrata e progressista a forças claramente burguesas e conservadoras, sob a cobertura de que tais forças e partidos estão na base de sustentação do governo Lula.
Se o PC do B estende a classificação de “aliados” a forças claramente antidemocráticas e antipopulares, é diverso o problema de outros partidos de esquerda.
Erros opostos e complementares
O PSOL, por exemplo, não quer saber de alianças com o PC do B, e muito menos com setores à esquerda do PT, apesar da política, do caráter e da base popular dessas correntes políticas.
O PSTU, aliado prioritário do PSOL, prima pelo ultra-sectarismo. Defende o voto nulo em todas as eleições do segundo turno. Considera o PC do B, o PT e o PDT partidos completamente burgueses. E sobra até para o aliado PSOL, em relação ao qual se empenha em denunciar “o fortalecimento da ala direita desse partido”.
O PSOL, ao principalizar a aliança com o PSTU, fecha seus canais de diálogo com a maior parte do movimento democrático e popular.
A tendência a alianças à direita do PC do B fortalece o ultra-esquerdismo de agrupamentos sectários, que realimentam a tendência do PC do B a se coligar a forças antidemocráticas e antipopulares, como no caso da eleição carioca. Cria-se círculo vicioso de fortalecimento mútuo de enfoques políticos que não têm como centro a dinâmica do movimento democrático e popular.
Em partidos mais moderados da esquerda, como o PT, o PSB e o PDT, a tendência a se aliar a Paes foi ainda mais fulminante.
O PSB, através do Secretário de Ciência e Tecnologia do governador Cabral, Alexandre Cardoso, correu a hipotecar apoio ao candidato do PMDB. Cardoso está “socialista”, mas isso não o impede de não dialogar com os movimentos populares. Talvez resquício de sua origem política, o PFL da Baixada Fluminense.
No PDT, o ministro do Trabalho atropelou a militância do PDT, em grande parte contrária aos dois candidatos no segundo turno carioca, e aderiu a Paes.
Para aumentar a confusão no Rio, uma grande personalidade de esquerda, o comunista Oscar Niemeyer declarou-se a favor de Gabeira.
O resultado da confusão da política de esquerda é que em 2012 o Rio completará 20 anos seguidos de administrações de direita.
O problema da esquerda na cidade representa apenas a parte mais visível de seus impasses no Brasil. Se as forças políticas progressistas, em particular suas correntes mais conseqüentes, não elaborarem política adequada, capaz de sensibilizar e pôr em movimento o povo brasileiro na defesa de seus interesses e aspirações, a direita continuará a aprofundar as desigualdades sociais e a barbárie no país.
*Antônio Augusto é jornalista
Fonte: Agência Carta Maior
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