quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A MÍDIA COMO LINHA AUXILIAR NA CAMPANHA ELEITORAL

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por Luiz Carlos Azenha

"Mas a acusação está no ar. Houve distorção? Ou aconteceu tal como narra a personagem apresentada no vídeo? Não cabe submeter o caso a inquérito. A sensibilidade do eleitor poderá ajudá-lo a discernir onde está a verdade - e se ela deve influenciar-lhe o voto, domingo próximo, quando estiver consultando apenas a sua consciência".

O trecho entre aspas que aparece acima é do editorial do jornal "O Globo" publicado em 14/12/1989, intitulado "O Direito de Saber", a respeito das acusações do candidato a presidente Fernando Collor de Melo a seu adversário, Luis Inácio Lula da Silva.

Notem que o jornal não quer um inquérito. Às favas com a verdade factual. Importa a "sensibilidade do eleitor", tocada pelo depoimento pago de Miriam Cordeiro.

Collor, como vocês sabem, era o príncipe ungido pela mídia nativa para ocupar a presidência da República como "salvador da Pátria".

Nos dias que antecederam ao debate final da campanha, Collor apresentou no horário eleitoral Miriam Cordeiro. O candidato do PT, é importante lembrar, era solteiro quando teve um relacionamento afetivo com Miriam. As acusações da mulher foram descritas assim por "O Globo":

"Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra."

Vejam só a sordidez com que o editorial endossa as acusações contra Lula. Leia a íntegra aqui.

Para aqueles que não se lembram, Miriam Cordeiro não apareceu apenas na propaganda do Partido de Renovação Nacional: estrelou também o Jornal Nacional, da Rede Globo, o que garantiu repercussão às acusações feitas.

Não houve uma só manifestação de pesar da grande mídia, na época, condenando a tática eleitoral do PRN.

É nesse quadro que se tornam absolutamente hipócritas as manifestações de "pesar" da mídia a respeito da tática eleitoral de Marta Suplicy, que sugeriu que o prefeito Gilberto Kassab é gay. Ele diz que não é. Pouco me importa.

O fato é que as manifestações de "pesar" da mídia logo foram incorporadas pela própria campanha de Kassab. Estão lá, no site de campanha do candidato, trechos do que escreveram Reinaldo Azevedo, Cristiana Lobo, Josias de Souza, Lauro Jardim, Ricardo Noblat e Kennedy Alencar. São lágrimas de crocodilo vertidas em nome da hipocrisia.

Kassab, gay, deveria assumir, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deveria assumir o filho que teve com a repórter Miriam Dutra, da TV Globo. Leia aqui a reportagem da revista "Caros Amigos" sobre o assunto.

Não se trata de endossar a tática eleitoral de Marta, mas exigir que seja dado tratamento igual para iguais: se é válido perguntar sobre os filhos de Pelé, Maluf e Roberto Carlos fora do casamento, porque poupar FHC? Se é válido questionar a separação de Marta Suplicy, porque não é válido saber sobre a "família" de Kassab? A quem serve essa hipocrisia toda?

Fonte: Vi o Mundo

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