quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Empreste ao banco, que o governo garante

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por Alon Feuerwerker

O dinheiro que os bancos emprestam aos clientes não é dinheiro deles, os bancos. É dinheiro emprestado aos bancos pelos clientes. Se ninguém empresta aos bancos eles não têm nada para emprestar. A isso os economistas chamam de falta de liquidez no sistema bancário. Desculpem a redundância, mas foi o jeito que achei para escrever. A estatização maciça do sistema bancário (por meio da compra de ações) serve para dizer aos potenciais emprestadores de dinheiro aos bancos: "podem colocar seu dinheiro aqui, que o governo garante". Lembro de quando havia o slogan "plante, que o governo garante". Se não estou enganado, foi na gestão de Delfim Netto no Ministério da Agricultura, no governo João Figueiredo. Agora é "invista seu dinheiro no banco, que o governo garante". Por que a bomba sobrou nas mãos dos governos em todo o mundo? Porque governos são a única instituição que pode se capitalizar à vontade, ou quase. Ôpa, até eu caí no economês. Capacidade de capitalização é a capacidade de arrumar dinheiro. Governos, especialmente os de boa reputação (como bons pagadores), sempre encontrarão quem se disponha a emprestar dinheiro para eles. E governos ainda têm outro recurso à mão: aumentar ou criar impostos e taxas. Governos de nações muito fortes podem mais ainda: podem até praticar o roubo em outros países, se necessário. Ou se possível. Afinal, sempre é bom unir o útil ao agradável. Daí que os papéis das grandes potências sejam disputados em épocas de crise. Esse é o nosso mundo. O mercado financeiro encostou o cano da arma na têmpora dos políticos e eles tiveram que ceder. O dinheiro dos impostos servirá como garantia dos empréstimos aos bancos. Menos mal que a coisa tenha evoluído para uma solução estatizante, graças à iniciativa do premiê trabalhista britânico, Gordon Brown. Pelo menos os governos vão ficar com ações dos bancos. Assim não será um simples assalto ao bolso do contribuinte. O que a teoria da mão invisível do mercado não resolve fica agora para a mão (bem) visível do estado resolver. Aliás, cadê os críticos do aumento da carga tributária? Cadê os apologetas da responsabilidade fiscal? Por falar nisso, outra idéia que caminha para a aposentadoria inglória é a maluquice de estender a Lei de Responsabilidade Fiscal ao governo federal. Se o governo federal estiver amarrado por limites legais draconianos para endividar-se ele não poderá agir como governo em época de crise. Não terá liberdade para arrumar o dinheiro necessário para salvar o sistema. Mas isso agora é passado. O mercado de idéias anda comprador, e não mais vendedor. E há certas idéias que andam mais baratas do que ações da Aracruz. Mas mesmo nesses preços baixíssimos não mais encontram comprador. Por que será?

Atualização, às 13:25 - Leia Jantar de banco lembra "baile da Ilha Fiscal", reportagem de hoje de Fernando Rodrigues na Folha de S.Paulo.

Fonte: Blog do Alon

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