terça-feira, 17 de junho de 2008

Comentários sobre a mídia

por Idelber Avelar

Está confirmado: na partida decisiva da Copa do Brasil, na quarta-feira passada, na Ilha do Retiro, a Rede Globo de Televisão manipulou deliberadamente o áudio para que parecesse que os 1.000 corinthianos presentes no estádio haviam “calado” os 35.000 rubro-negros pernambucanos. Captada em um canal diferente daquele reservado para o resto do estádio, a cantoria da torcida do Corinthians foi sobredimensionada, enquanto o barulho da torcida do Sport era eliminado na mesa de edição. Muitos dos que assistimos à partida estranhamos o fato de que as palavras de ordem dos corinthianos aparecessem com tanto destaque, quando obviamente a Ilha do Retiro, lotada, também cantava. A manipulação foi tão óbvia que mesmo antes da confirmação da falcatrua já estava nítido que algo de errado havia.

A transmissão da partida foi outra das pérolas de parcialidade com as quais gaúchos, mineiros, baianos, pernambucanos, goianos, paranaeneses já nos acostumamos. Cléber Machado não conseguia disfarçar a decepção com os gols do Sport. Arnaldo César Coelho – aquele que apitou uma final de Campeonato Brasileiro em que um jogador foi pisoteado sem que seu algoz fosse expulso – procurava pênaltis para o Corinthians e punições para os jogadores do Sport. Tudo como dantes: o jogo foi narrado como se uma equipe fosse brasileira e, a outra, estrangeira. Com isso já estamos acostumados. Mas falsificação de áudio, convenhamos, é capítulo digno de nota mesmo no já ilustre currículo da emissora que participou de tentativas de fraudes eleitorais, manipulou edições de debates presidenciais, colaborou com a tortura e escondeu o maior acidente aéreo da história do Brasil para divulgar, com objetivos eleitorais, fotos ilegalmente obtidas.

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A Selecinha de Dunga levou um previsível vareio de bola do Paraguai. De quem é culpa? Ora, segundo Lucia Hippolito, a culpa é do Lula, claro.

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É inacreditável o esforço que faz o Grupo RBS para blindar o governo de Yeda Crusius (PSDB-RS) no escândalo de corrupção que desviou, via Detran, 40 milhões de reais dos cofres públicos gaúchos. Depois de ignorar as denúncias durante meses, a Zero Hora não teve como não noticiar eventos como a violenta repressão da Polícia Militar do Coronel Mendes a uma manifestação pacífica na semana passada. Como o fez? Dizendo que os manifestantes haviam “entrado em conflito” com a polícia, quando todos os testemunhos confirmam que a polícia militar atacou de forma totalmente não provocada uma manifestação pacífica.

No Jornal Nacional, da Globo, foi pior: a manifestação contra a corrupção do governo Yeda foi descrita como “protesto contra a alta dos alimentos”. No Jornal do Brasil, uma grotesca manchete anunciava "Corrupção abala governo do PT". Depois, a Zero Hora fez uma pesquisa sobre a atuação repressiva da PM na qual os cidadãos que telefonavam para o número que designava “ação exagerada” encontravam as linhas ocupadas. É verdade que nós, mineiros, estamos acostumados com o pior jornal do planeta, o Estado de Minas. Mas a Zero Hora leva o pseudo-jornalismo a níveis de criminalidade poucas vezes alcançados. Para acompanhar a crise no Rio Grande, a melhor fonte, você já sabe, é o RS Urgente.

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Em definitivo: quaisquer que sejam as restrições que você possa ter ao alinhamento automático do Página 12 com o kirchnerismo, não se informe sobre a crise argentina pelo Clarín. Saio às ruas, vou ao supermercado, converso com atores sociais, visito manifestações dos dois lados, acompanho os acontecimentos de perto. Chego em casa, leio o Clarín e tenho a sensação de que estão falando sobre outro país, talvez o Iraque.

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Por tudo isso, é bom ficar de olho nos desdobramentos do Fórum de Mídia Livre, que acaba de se realizar no Rio de Janeiro. Rovai falou, Marco Aurélio Weissheimer fez a síntese e Katarina pensou com o brilhantismo de sempre.

Fonte: O Biscoito Fino e a Massa


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