quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Luta por economia sustentável é opção por vida menos gananciosa, diz senadora Marina Silva

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Economia e vida: um encontro possível

Marshman/Divulgação
Luta por economia sustentável é opção por vida menos gananciosa, diz senadora Marina Silva
Luta por economia sustentável é opção por vida menos gananciosa, diz senadora Marina Silva


por Marina Silva*
De Brasília (DF)

Amanhã participarei de um evento que tem um significado muito especial: o lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, no Corcovado, no Rio de Janeiro.

Diferentemente das campanhas da fraternidade realizadas anualmente pela Igreja Católica, as campanhas ecumênicas são organizadas pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) e acontecem uma vez a cada cinco anos. Esta será a terceira. A primeira foi realizada em 2000 e a segunda em 2005.

Desta vez o tema é Economia e Vida, tendo como base a radical frase de Jesus: "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro", descrita no evangelho de Mateus, capítulo 6, versículo 24. O objetivo é mobilizar igrejas e a sociedade "a dar respostas concretas às necessidades básicas das pessoas e à salvaguarda da natureza, a partir da mudança de atitudes pessoais, comunitárias e sociais, fundamentadas em alternativas viáveis derivadas da visão de um mundo justo e solidário". Nessa frase, os organizadores não poderiam ter sido mais precisos para descrever as questões que estão em jogo quando falamos do sonho de um futuro melhor.

Ao nos unirmos para atingir esses objetivos, estamos também manifestando a opção por uma vida mais simples, menos gananciosa, consumista e individualista. Porém, para chegar lá, teremos que enfrentar desafios de alta complexidade, que implicam transformações sociais e culturais profundas. Pois o que temos hoje é uma completa inversão de valores, onde as pessoas valem menos do que as coisas e onde direitos humanos fundamentais, como à saúde, à educação, ao alimento, são tratados como mercadorias ao sabor das razões econômicas, do lucro.

O economista Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz de 2006 e criador de um sistema de microcrédito para os pobres, foi direto ao ponto quando disse, em entrevista à imprensa, que a crise econômica mundial é uma oportunidade para o desenvolvimento de um sistema financeiro para o povo, não para os ricos, pois "a economia atual está orientada apenas para a busca de um máximo de lucro".

Talvez não tenhamos muita chance de fazer as mudanças que gostaríamos em nossas sociedades se não desmistificarmos a riqueza material como a meta das metas, que domina as relações humanas e as brutaliza, sacrificando a solidariedade e a capacidade de entender realização pessoal e felicidade fora do acúmulo ilimitado de bens.

Riqueza não é só dinheiro. É fazer parte de uma população saudável, sem miséria e abandono de seres humanos em situações de extrema degradação. É dispor de um ambiente natural acolhedor, sem poluição, sem a destruição irresponsável e insana de ecossistemas cuja integridade é essencial para nossa própria sobrevivência. É ter trabalho digno, é não ser objeto de preconceitos e viver numa comunidade cujas relações são baseadas no respeito mútuo.

Os movimentos progressistas cristãos tem dado uma enorme contribuição ao país ao se empenharem na recuperação da cidadania política das pessoas historicamente excluídas, e ao conectá-las a direitos que devem necessariamente estar na base de um novo modelo de desenvolvimento para o país.

Como é o caso do uso correto dos recursos naturais, como ferramenta indispensável à justiça social. A resolução dos vários problemas ambientais que vivemos hoje beneficia a todos. Mas se não forem resolvidos, os mais pobres serão os mais atingidos.

Os desafios ambientais também colocam à política o desafio de um agir generoso, desinteressado, a serviço da sociedade e de seus grupos mais vulneráveis, capaz de cuidar hoje das gerações futuras.

Como bem lembra outra passagem bíblica, descrita em Gênesis, quando Abraão plantou um bosque em Berseba para adorar a Deus. Ao fazer isso, aquele que foi chamado de "pai de todos os povos" selou também simbolicamente uma aliança intergeracional com a humanidade. Que está viva e exigente ainda hoje, clamando por nosso compromisso e ação.

*Marina Silva é professora de ensino médio, senadora (PV-AC) e ex-ministra do Meio Ambiente.

Fale com Marina Silva: marina.silva08@terra.com.br

Fonte: Terra Magazine

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