por Marcelo Salles
Carlos Latuff consegue, em poucas palavras, esclarecer o que as corporações de mídia omitem em meio a baldes de tinta e rolos de imagens:
A recente tragédia envolvendo, mais uma vez, residentes de comunidades carentes no Rio, onde militares do Exército Brasileiro entregaram três jovens do morro da Providência nas mãos de traficantes de uma outra favela para serem torturados e executados, revela que há muito caiu por terra o mito da incorruptibilidade das forças armadas. Claro, haverá aqueles que se apressam em afirmar que se trata de um "caso isolado", aliás, argumento esse o preferido pelas autoridades e pela mídia burguesa toda vez que surgem denúncias de envolvimento de policiais em crimes, numa tentativa de proteger as sacrossantas instituições da repressão. O que vemos, no entanto, é que, constantemente, vem à tona notícias dando conta do apoio logístico de militares brasileiros ao tráfico de drogas. E a frequência destes incidentes nos faz pensar que estão longe de ser exceções à regra. A corrupção é a maior, a mais vigorosa e consolidada de todas as instituições brasileiras, e nem todo o rigoroso treinamento e a hierarquia da caserna poderá livrar soldados ou generais de suas armadilhas, porque no sistema capitalista tudo está a venda, inclusive a honra.
Vale lembrar que os abusos dos militares no Morro da Providência foram denunciados em primeira mão pelo jornal A Nova Democracia, em sua edição de janeiro deste ano. Ou seja, há cinco meses já foi tornado público o que agora as corporações de mídia parecem ter descoberto. “Invasão de domicílio, revistas indiscriminadas até em crianças, perda de privacidade e queda no movimento do comércio local são as queixas mais recorrentes”, escrevo logo no início da reportagem. Confira a íntegra aqui. O editor deixou claro logo no subtítulo a natureza política da intervenção: “Uma articulação entre os governos federal, estadual e municipal promove o aumento das ações violentas contras os espaços populares no Rio de Janeiro”. Precisava esperar morrer alguém para que os “grandes” jornais da cidade entrassem na pauta? Devemos acreditar na súbita sensibilidade das empresas capitalistas de imprensa ou será que um ou mais veículos estaria aproveitando a proximidade das eleições para atacar o candidato que não lhes agrada, por suposto o mesmo que patrocina ocupação do Exército?
Sejam quais forem as respostas, uma coisa é certa: os leitores da mídia alternativa ficaram sabendo primeiro.
Fonte: Fazendo Media
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O Exército e o assassinato de três jovens do morro da Providência
por Antônio Mello
Não sei sua opinião, mas essa história do frio assassinato de três jovens do morro da Providência, no Rio, com a participação de soldados e oficiais do Exército está muito mal contada.
Por que eles levariam os jovens para serem assassinados por facção rival do crime organizado, em outra favela, em vez de eliminar os jovens simplesmente, como parece ter sido a intenção?
Uma resposta a essa questão é capaz de horrorizar aqueles que defendem que o Exército deve participar ativamente do confronto com os narcotraficantes: o tenente, os três sargentos e os sete soldados estavam a serviço dos traficantes do morro da Mineira, e foram até lá entregar-lhes a encomenda.
Outra resposta deixa mal o Exército: na verdade, os militares assassinaram os jovens e a história dos traficantes foi criada apenas para livrar a farda do crime.
A terceira história – a contada por eles – pode até ser a verdadeira, mas é completamente inverossímil. Como um tenente, insatisfeito com a ordem do capitão para que libertasse os jovens, comenta com seus subordinados que quer castigá-los, um dos soldados tem a idéia de entregá-los aos traficantes da favela rival, isso é feito, e depois os corpos são encontrados longe dali, num lixão na Baixada Fluminense?
Qualquer que seja a alternativa, ela só vem reforçar a tese de que não é papel do Exército combater o tráfico de drogas.
Aliás, por falar nisso, o que está fazendo o Exército no morro da Providência, a serviço de um projeto do senador Crivella, que é do partido do vice-presidente José Alencar, e candidato a prefeito do Rio?
E você, sherlockiano leitor, você, minha agathíssima leitora, o que acha disso tudo?
Fonte: Blog do Mello
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