quarta-feira, 4 de junho de 2008

200 ANOS DEPOIS DO FIM DO COMÉRCIO DE ESCRAVOS, NEGRO CONCORRE À PRESIDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS

por Luiz Carlos Azenha


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Cerca de 40 anos depois da Suprema Corte dos Estados Unidos ter tomado decisões que acabaram oficialmente com a segregação racial no país, o Partido Democrata está prestes a fazer História ao escolher o primeiro negro para concorrer à Casa Branca. De acordo com a campanha do senador de Illinois, ele está a apenas 11 votos de obter a vitória matemática sobre Hillary Clinton, graças ao apoio dado nas últimas horas por superdelegados com direito a voto na Convenção Nacional Democrata.

A escolha coroa a extraordinária campanha de um político que era praticamente desconhecido do grande público há 12 meses. Desde então, Obama usou a internet, uma grande capacidade de organização e uma retórica que lembra os oradores do movimento negro por direitos civis para gerar o entusiasmo que garantiu a ele a vitória sobre a franca favorita, a ex-primeira-dama e senadora Hillary Clinton. Hillary e o marido, o ex-presidente Bill Clinton, controlavam a maior parte da máquina partidária antes de serem atropelados pelo senador em primeiro mandato.

Apesar do racismo e da discriminação persistirem nos Estados Unidos, Obama foi capaz de construir uma coalizão que juntou o entusiasmo dos jovens com o apoio dos democratas mais ricos e mais educados, que foram seduzidos pelo slogan do "Sim, Podemos", pela promessa de acabar com a guerra do Iraque e a prisão de Guantánamo e de promover uma reforma completa da política doméstica e externa dos Estados Unidos depois de dois mandatos de George W. Bush.

Nas próximas semanas a tarefa de Barack Obama será a de consolidar o seu apoio partidário. Em Montana, onde a temporada de prévias se encerrou, 60% dos democratas que votaram em Hillary disseram que votarão em Obama em novembro, mas 25% afirmaram que preferem o candidato republicano John McCain. Não se sabe ainda qual será o papel da senadora na campanha. Não foi descartada, ainda, a indicação dela a vice na chapa do partido, uma escolha que dependerá acima de tudo dos cálculos eleitorais do próprio Obama.

O senador demonstrou capacidade de atrair votos mesmo em estados de população majoritariamente branca. O problema dele parece ser mais geográfico do que racial. Obama se deu bem em estados historicamente liberais - como o Oregon - ou naqueles em que a economia não está completamente deprimida - Iowa, por exemplo. Mas fracassou miseravelmente em estados essenciais para uma vitória em novembro, como Ohio e a Pensilvânia, onde não foi capaz de conectar especialmente com os eleitores brancos de classe média baixa.

Mas a escolha do Partido Democrata não deixa de ser extraordinária: há apenas cinco décadas, em algums regiões dos Estados Unidos - especialmente no Sul - a segregação entre brancos e negros era política oficial. Só em 1954, na famosa ação Brown vs. Board of Education, a Suprema Corte do país derrubou oficialmente a segregação nas escolas. As fotos que ilustram esse texto são, em si, um retrato dessa mudança: a que aparece abaixo da família Obama retrata um negro usando um bebebouro para "gente de cor" em Oklahoma City, Oklahoma, em 1939. A escolha de Obama acontece dois séculos depois da proibição do comércio de escravos nos Estados Unidos.

A escolha de Obama se reveste de uma importância especial dadas as circunstâncias que tornam qualquer candidato democrata franco favorito para vencer em novembro. De acordo com pesquisa Gallup feita para o jornal USA Today, 55% dos americanos dizem que estão pior financeiramente hoje do que há um ano, o maior índice desde que o levantamento começou a ser feito. Além disso, usando uma inovadora campanha baseada acima de tudo em pequenas contribuições feitas através da internet, o senador de Illinois bateu todos os recordes de arrecadação. Só para se tornar candidato democrata gastou mais de 200 milhões de dólares.

Acima de tudo, Barack Obama representa a possível mudança de geração no comando dos Estados Unidos. O senador, se eleito, assumirá com apenas 47 anos de idade. Parece incrível, mas todo americano de menos de 19 anos de idade só conhece a Casa Branca ocupada por um Bush ou um Clinton.

Fonte: Vi o Mundo


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