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por Rodrigo Vianna, no blog O Escrevinhador
A "Istoé" gasta oito páginas, em sua última edição, para avaliar a disputa (?) entre Aécio e Serra no PSDB.
Mas o que interessa mesmo, o recado que a revista queria passar a seu público (?), não está na reportagem. Está no "box", assinado por Luciano Suassuna. O título: "O desafio do pós-Lula".
A "Istoé" quer vender a idéia de que a dicotomia PT x PSDB não faz bem ao país. É o que diz o texto do Suasuna: "ou o Brasil abre outro ciclo histórico ou se perde no nhem-nhem-nhem partidário". Suassuna diz mais: "A motivação histórica de 2010 não pode ser uma revanche de tucanos contra petistas" (quem tiver paciência pode ler o texto na íntegra aqui - http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2077/artigo150587-4.htm)
O senhor à direita quer encarnar o "pós-Lula" em 2010; mas o senhor à esquerda quer se aposentar?
Quem vive falando em "pós-Lula"?
A quem interessa quebrar a dicotomia PT/PSDB, para que o país "olhe pra frente"? Quem espalhou por aí essa idéia, agora "comprada" ou "vendida" (hum...) pela "Istoé"?
Quem? Se não o governador mineiro Aécio Neves.
Serra também gostaria de se apresentar como "pós-Lula". Assim, não precisaria brigar com um presidente que tem quase 80% de aprovação. Mas, para Serra, isso será impossível. Se tentar se apresentar assim, Lula e o PT colarão no governador paulista o carimbo de "ministro de FHC".
Serra é o passado. Está associado ao governo privatizante de FHC (em parte, nem é justa essa imagem, já que Serra era, entre os tucanos, o mais reticente com as privatizações, e até por isso foi afastado da área econômica no governo FHC, assumindo o Ministério da Saúde).
E Aécio? Em Aécio, é mais difícil colar o rótulo de "privatista tucano". Por mais que ele seja muito mais privatista, muito mais alinhado com os privatistas, do que o próprio Serra.
Aécio é um candidato muito mais difícil de ser batido pelo lulismo do que Serra. Tem a imagem do jovem, empreendedor, do homem que se dá bem com Lula, acima dos interesses partidários. Para os marqueteiros seria fácil criar em torno dele a imagem do "futuro".
Claro que tem telhado de vidro na vida pessoal. Mas a imprensa não vai mexer com esses temas inconvenientes na longa carreira - digamos assim - do governador de Minas.
Por isso, repito: se os tucanos tivessem juízo escolheriam Aécio.
Aécio teria chance de encarnar o "pós-Lula". Incorporaria o que o lulismo tem de bom, mas "avançando" (como diz o FHC). Sem ressentimentos.
Quem entende um pouco como funcionam os bastidores do jornalismo sabe exatamente a quem "Istoé" quis agradar com a reportagem de capa. Aécio Neves.
Só há um detalhe que os estrategistas de Aécio (e da "Istoé"?) talvez não tenham levado em conta: alguém perguntou ao Lula se ele quer virar passado? Alguém perguntou ao eleitor barsileiro se ele quer aposentar Lula?
O pós-Lula só existirá se Lula for aposentado. Lula não quer a aposentadoria. Quer eleger o sucessor, e seguir liderando o PT e as forças que hoje sustentam seu governo.
Lula seguirá ativo politicamente, depois de 2010? Ou vai virar outro "Farol de Alexandria", como FHC?
Isso é o eleitor que vai decidir. O eleitor - esse ser amorfo, que não é levado em conta nas conjecturas de revistas, jornais, institutos de pesquisa e partidos acostumados a escolher candidatos na mesa de um restaurante, tomando vinho francês.
O eleitor vai decidir se quer o "pós-Lula".
E, dependendo da decisão, o pós-Lula pode virar um tormento para Aécio, DEM e PSDB.
O pós-Lula pode ser ... Lula mesmo.
Fonte: Blog O Escrevinhador - do Rodrigo Vianna
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